Após aproximação com Trump, Lula liga para Maduro ante ameaças dos EUA

Lula manifestou preocupação com o aumento da presença militar americana na costa da Venezuela e tratou de iniciativas para preservar a paz, afirmou um porta-voz do governo brasileiro

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Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por telefone com Nicolás Maduro na semana passada, no momento em que o líder venezuelano enfrenta pressão crescente dos Estados Unidos para deixar o cargo.

Lula manifestou preocupação com o aumento da presença militar americana na costa da Venezuela e tratou de iniciativas para preservar a paz na América do Sul em meio ao agravamento das tensões entre Maduro e o presidente Donald Trump, afirmou um porta-voz do governo brasileiro.

O jornal O Globo havia noticiado anteriormente a conversa, dizendo que foi a primeira vez em meses que os dois falaram. O governo brasileiro ainda não havia divulgado o telefonema. Em uma ligação no fim de novembro, Trump pressionou Maduro a abandonar o país.

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Lula, aliado histórico dos governos socialistas da Venezuela, praticamente evitou contato com Maduro desde julho de 2024, quando o venezuelano se declarou vencedor da eleição presidencial apesar de fortes evidências de que tinha perdido para o candidato de oposição, Edmundo González.

Lula pediu que Maduro divulgasse as atas oficiais de votação para comprovar sua vitória, e o Brasil nunca o reconheceu oficialmente como vencedor do pleito.

O presidente brasileiro tem demonstrado preocupação com a intensificação da presença militar dos EUA no Caribe, inclusive em telefonemas e em um encontro presencial com Trump.

Ele também sugeriu publicamente que o Brasil poderia atuar como mediador, enquanto alertava que ações militares americanas — inclusive ataques contra embarcações supostamente ligadas ao tráfico de drogas — poderiam desestabilizar a América do Sul.

Retomar o contato com Maduro implica riscos políticos relevantes para Lula, que ascendeu ao poder inicialmente ao lado do líder venezuelano Hugo Chávez, no contexto da chamada “onda rosa” de governos de esquerda que tomou a América Latina no início deste século.

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Lula enfrentou forte crítica interna por manter vínculos estreitos com Caracas mesmo enquanto Maduro assumia uma postura cada vez mais autocrática.

Em 2023, recebeu reação negativa de diversos países da região ao afirmar que Maduro era vítima de “uma narrativa de antidemocracia e autoritarismo”, após convidá-lo para uma cúpula de líderes sul-americanos em Brasília.

Lula busca há muito tempo se posicionar como mediador de conflitos internacionais. Mas Maduro basicamente ignorou seus esforços para negociar uma saída para a crise pós-eleitoral no ano passado, e Trump, até agora, demonstrou pouco interesse em seus apelos por diplomacia regional.

O bilionário brasileiro Joesley Batista, da gigante de processamento de carnes JBS, encontrou Maduro em Caracas no fim do mês passado numa tentativa de convencê-lo a deixar o cargo e permitir uma transição pacífica de poder.

Segundo O Globo, o governo brasileiro não participou dessa visita.

O confronto entre Trump e Maduro se intensificou ainda mais na quarta-feira, quando forças americanas apreenderam um petroleiro sancionado na costa venezuelana — ação que Caracas classificou como um “ato de pirataria”.

A principal líder da oposição venezuelana, a prêmio Nobel da Paz María Corina Machado, chegou à Noruega e elogiou as ações “decisivas” do presidente americano contra o regime.

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