Bloomberg Línea — Gestores de fundos que operam na América Latina começam a registrar uma mudança nas preferências de investimento regional: enquanto cresce o entusiasmo pelos mercados do Brasil, Argentina e Chile, o México perde atratividade diante do aumento da incerteza política e econômica.
Cerca de dois terços (66% do total) dos entrevistados na mais recente pesquisa do Bank of America projetam que o Ibovespa superará os 140.000 pontos antes do fim de 2025, frente aos 43% que tinham essa expectativa no mês passado.
Nesta sexta-feira, o o principal índice da bolsa brasileira opera em queda, no patamar aproximado de 137.700 pontos.
Esse avanço no otimismo vem acompanhado por uma melhora nas projeções de resultados corporativos: 45% esperam revisões para cima nos lucros das empresas brasileiras, o dobro do registrado em maio.
Leia mais: Tarifas e ruídos não tiram brilho dos EUA entre investimentos no exterior, avalia BTG
Apesar de as eleições presidenciais no Brasil em outubro de 2026 despontarem como um evento-chave para o mercado, 57% dos gestores consideram que os grandes fluxos de investimento para ativos locais só se materializarão a partir do primeiro trimestre do próximo ano.
Ainda assim, 64% dos participantes planejam aumentar sua exposição à renda variável nos próximos seis meses, o nível mais alto registrado desde janeiro de 2024.
Cresce a cautela
Paralelamente, observa-se uma guinada em direção à cautela na gestão de portfólios.
Os níveis de recursos em caixa aumentaram para 7,8%, o ponto mais alto desde outubro de 2023, e 55% dos gestores afirmam ter implementado proteções contra uma possível queda dos mercados no curto prazo.
Na Argentina, a maioria dos gestores prevê uma melhora adicional nos preços dos ativos ao longo do segundo semestre do ano.
O Chile, por sua vez, é visto como o país andino mais promissor, à frente da Colômbia e do Peru.
No que diz respeito aos riscos externos para os mercados, quase 40% dos gestores identificam os preços do petróleo como o principal fator.
Outros riscos relevantes mencionados incluem os preços do cobre e do lítio, além das reformas previdenciárias em certos mercados.
Em contraste, o sentimento em relação ao México se deteriora. Apenas 3% dos entrevistados mantêm uma visão positiva sobre os ativos da segunda maior economia da América Latina no curto prazo.
A incerteza em torno da política comercial dos Estados Unidos, particularmente o risco de novas tarifas, e a falta de consenso sobre os rumos da política monetária do Banxico enfraqueceram a percepção de estabilidade.
Um dado relevante é que um número crescente de gestores considera que o Brasil terá um desempenho superior ao do México nos próximos seis meses.
Leia mais: The dog days are over? Citi vê Bradesco com melhora contínua da rentabilidade
Essa mudança nas preferências regionais se deve, segundo o relatório, à maior clareza econômica e política no Brasil no governo Lula em comparação com o atual nível de incerteza no mercado mexicano.
O risco do dólar
O fortalecimento do dólar americano substituiu as tarifas como principal risco externo para os mercados latino-americanos, segundo os gestores consultados pelo BofA.
Embora a maioria ainda espere uma desvalorização do dólar até o fim do ano, sua recente valorização aumentou a volatilidade em moedas como o real brasileiro, cuja projeção média agora está em R$ 5,53 por dólar para dezembro de 2025.
Essa tendência também alimenta a cautela em mercados emergentes altamente sensíveis à dinâmica cambial e aos fluxos globais de capital.
Entre os riscos identificados também estão juros mais altos nos Estados Unidos, uma possível desaceleração na maior economia do mundo, choques geopolíticos e o desempenho da China e das commodities.
Outro ponto-chave segundo a pesquisa é o posicionamento setorial.
Empresas de utilities e da área financeira se consolidam como os setores mais sobreponderados pelos gestores, o que reflete uma preferência por ativos considerados defensivos ou de fluxo estável de capital.
Em contraste, empresas dos setores de energia e de materiais continuam sendo evitados, com posições majoritariamente subponderadas, o que sugere que as perspectivas para commodities e para uma exposição cíclica ainda não convencem plenamente os investidores.
A pesquisa abrangeu 33 gestores com um total de US$ 39 bilhões em ativos sob gestão.
Leia também
Com impulso macro, Empiricus antevê novo ciclo para bolsa e rali de small caps