Diante da expansão de ETFs no Brasil, este gestor aponta limitações do produto

Alexandre Rezende, sócio da Oceana Investimentos, diz em evento que fundos de índice poderiam refletir a economia brasileira de forma mais fidedigna, evitando a concentração em bancos e commodities, como no caso do BOVA11

Alexandre Rezende, sócio-fundador da Oceana Investimentos
07 de Maio, 2025 | 07:53 PM

Bloomberg Línea — Nem todo investidor deveria contar com um ETF em sua carteira, defendeu Alexandre Rezende, sócio-fundador da Oceana Investimentos, gestora carioca com R$ 7 bilhões sob gestão.

“O ETF é uma solução barata e de fácil acesso para resolver o problema de investidores pouco sofisticados, que não tem estrutura para selecionar um gestor da maneira adequada”, afirmou Rezende em painel durante o TAG Summit, realizado nesta quarta-feira (7).

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“Para quem têm acesso a gestores que conseguem performar estruturalmente acima do índice, não vejo como uma alternativa melhor.”

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Os ETFs se popularizaram nos últimos anos no Brasil, em linha com uma tendência em outros mercados, como uma solução mais acessível para investidores que querem acompanhar a performance de um índice específico a um custo em geral mais baixo, dado que não cobram, por exemplo, taxas de administração.

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Em março, o patrimônio em fundos de índice chegou a R$ 55,47 bilhões, segundo dados da B3. Desse total, cerca de R$ 32 bilhões estão alocados por investidores institucionais.

O volume mensal de negócios ficou estável em R$ 1,5 bilhão.

No Brasil, o BOVA11 replica o desempenho do Ibovespa e é um dos principais ETFs negociados na bolsa local.

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Na avaliação de Rezende, muitos ETFs de renda variável estão atrelado a uma particularidade do Ibovespa: sua concentração em ações de commodities e bancos, que, juntas, representam quase 40% da carteira teórica do índice.

“É um índice muito pesado em commodities e bancos, sendo que o peso desses setores na economia brasileira é muito menor do que o percentual no índice”, disse. Isso configura, segundo ele, uma concentração excessiva.

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“Os ETFs poderiam se tornar uma classe de ativos mais atrativa se o Ibovespa ficasse mais equilibrado, se tornando uma proxy melhor da economia brasileira."

É o que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, mercado em que os gestores têm maiores dificuldades em superar os índices de referência, diferentemente do que costuma acontecer no Brasil, segundo ele.

Por lá, o desafio é a própria popularidade do instrumento, disse Rezende, que apontou o que classificou como risco do instrumento de ETF em renda variável.

“É uma profecia autorrealizável: quanto mais dinheiro entra em ETF, mais fica comprado das mesmas ações, criando um ciclo de reforço positivo”, afirmou.

O gestor comparou o movimento a uma dança das cadeiras. “Enquanto a música está tocando, todos ficam felizes. Mas, quando ela parar, não vai ter lugar para todo mundo sentar.”

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.