Vinícola da Provence que tem Brad Pitt como sócio quer dobrar presença no Brasil

Château Miraval, conhecido por vinhos aclamados no sul da França, impulsiona vendas a partir de sociedade com o ator e vê potencial para crescer no país, segundo disse o produtor François Perrin em entrevista à Bloomberg Línea

Produtor francês de vinhos aposta no Brasil como mercado estratégico e destaca parceria com Brad Pitt
Por Daniel Buarque
30 de Setembro, 2025 | 11:26 AM

Bloomberg Línea — O produtor de vinhos francês François Perrin liderou um dos stands mais disputados durante o Encontro Mistral, evento de luxo que reuniu 78 vinícolas de 13 países em São Paulo e no Rio de Janeiro no mês de agosto.

Enquanto seus vinhos produzidos em Châteauneuf-du-Pape arrancavam elogios de enófilos, um dos principais pontos que chamavam a atenção em quase todas as conversas com ele não era só a bebida mas o seu sócio famoso na produção de um rosé na região da Provence.

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Perrin tem uma parceria com o ator Brad Pitt nessa empreitada e disse ver uma oportunidade para expandir seus negócios - inclusive no Brasil.

“Hoje o Brasil representa 2% da nossa atividade, mas acredito que podemos facilmente dobrar esse número”, disse o produtor em entrevista à Bloomberg Línea.

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Para ele, o país vive um momento semelhante ao dos Estados Unidos nos anos 1980, quando o consumo de vinho ainda era incipiente. “Naquela época, o mercado era nascente, e nós estávamos lá. O Brasil, a meu ver, está no nascimento do vinho e é importante estar presente no momento em que as coisas evoluem.”

Herdeiro da quarta geração de uma das famílias mais tradicionais do Vale do Rhône, Perrin é proprietário, ao lado do irmão Jean-Pierre, do Château de Beaucastel, ícone de Châteauneuf-du-Pape.

Parte central da trajetória recente da família Perrin, entretanto, é a parceria com o ator de Hollywood no Château Miraval, na Provence. “A aura e a notoriedade de Brad Pitt permitem vender muito mais”, disse.

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O projeto nasceu em 2011, quando o então casal Angelina Jolie e Pitt procurou os Perrin para desenvolver os vinhos da propriedade. Perrin recusou ser consultor, mas propôs sociedade. Assim, a família francesa assumiu a viticultura, enquanto o ator contribuiu com visibilidade e comunicação.

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“Brad Pitt é um homem muito agradável, com quem pudemos construir algo importante”, disse Perrin. “Vivemos em um mundo de comunicação e, quando se tem um parceiro como ele, tudo fica mais simples. Temos uma parceria 50% a 50%. Nós fazemos os vinhos, que é o nosso métier, e Pitt ajuda a vender.”

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O primeiro resultado foi o rosé Miraval, que se tornou um sucesso global. A safra de estreia, em 2012, esgotou-se em poucas horas após o lançamento.

Hoje, o projeto inclui também um champanhe rosé em parceria com a maison Peters, o Fleur de Miraval, além de um gin chamado The Gardener.

“O vinho é sempre perene”, destacou Perrin. “A notoriedade ajuda, mas o que sustenta o negócio é a qualidade.”

Produtor francês de vinhos aposta no Brasil como mercado estratégico e destaca parceria com Brad Pitt

Ele destacou ainda o papel simbólico da bebida em mercados emergentes.

“O vinho é um produto especial, não é como os outros. Para muitas pessoas, conhecer o vinho é se elevar socialmente e ter acesso a uma civilização que não é necessariamente a sua”, afirmou.

No caso do Brasil, ele disse identificar uma ligação com a diversidade cultural. “O país é um lugar de imigração. Quando se bebe vinho, reconhece-se um pouco dessas raízes.”

Em meio às turbulências e às incertezas do comércio internacional com as tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos europeus, Perrin disse acreditar que o Brasil seguirá como um destino promissor.

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“O mercado do vinho é cíclico. Já vimos o boom do tinto, depois do branco, do rosé. Hoje, as pessoas prestam mais atenção à saúde e bebem menos álcool, mas o vinho continua sendo uma bebida para compartilhar, ligada ao prazer da vida”, afirmou.

O movimento acontece em meio a um momento de transformação no consumo global de vinhos. O mercado enfrenta retração em alguns países, mas no Brasil o consumo de rótulos de maior valor agregado tem crescido.

Relatórios de empresas de bebidas de luxo como a Pernod Ricard e a Brown-Forman mostram que, enquanto mercados maduros sofrem com a desaceleração, o público brasileiro tem buscado cada vez mais produtos premium, fenômeno semelhante ao observado no mercado de destilados.

Produtor francês de vinhos aposta no Brasil como mercado estratégico e destaca parceria com Brad Pitt

Eventos como o próprio Encontro Mistral têm reforçado essa tendência no mercado de vinhos ao oferecer ao consumidor local acesso a bebidas que chegam a custar milhares de reais a garrafa, em um ambiente de degustação que valoriza o aprendizado e a experiência.

O evento serviu como vitrine para rótulos de Perrin que vão do acessível La Vieille Ferme, vendido por cerca de R$ 150, ao aclamado Château de Beaucastel, que chega ao Brasil por mais de R$ 1.500.

Casado com uma brasileira, Perrin acompanha de perto a evolução da viticultura local. Ele elogiou especialmente os espumantes nacionais, que descreveu como “deliciosos”, e disse estar impressionado com os avanços dos vinhos tranquilos (que passaram por processo de fermentação natural).

“Há de se reconhecer que produzir vinhos de alta qualidade exige investimentos muito grandes, mas os vinhos brasileiros têm progredido de forma impressionante.”

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Daniel Buarque
Daniel Buarque