Bloomberg Línea — O mercado de luxo no Brasil tem experimentado uma expansão sem precedente em sua história, impulsionado pela demanda de consumidores de alta renda.
O crescimento em ritmo consistente ao longo dos últimos anos tem sido promovido de forma não menos relevante pelo lado da oferta. Nesse aspecto, poucas contribuições têm sido mais valiosas do que a promovida pela JHSF (JHSF3).
Sob a liderança de Augusto Martins (CEO) e José Auriemo Neto (chairman), o grupo tem acelerado a construção do que descreve como ecossistema de luxo, que vai da incorporação imobiliária à aviação executiva, da gestão de shoppings a empreendimentos de hospitalidade e lazer.
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Para a JHSF, a estratégia representa ao mesmo tempo a diversificação de seu extenso portfólio, que inclui novos projetos em fase de desenvolvimento de shoppings, hotéis, restaurantes, residenciais urbanos e casas de campo como a Fazenda Boa Vista, expansão de aeroporto, clubes de surf e de tênis.
“O cliente passa as suas férias nos nossos shoppings e nos nossos hotéis, vai jantar e almoçar nos nossos restaurantes, vive em projetos residenciais nossos e tem a sua segunda residência nos nossos empreendimentos no interior de São Paulo, além de frequentar os nossos clubes para a prática de surf. E quem tem aeronave nos confia o seu patrimônio guardado em nossos aeroportos”, disse o CEO da JHSF, Augusto Martins, em entrevista à Bloomberg Línea.
Ou seja, sob a perspectiva do cliente, a estratégia consiste em criar negócios que atendam aos diversos momentos de vida desse público.
Os resultados recém-divulgados do segundo trimestre evidenciam e atestam a eficácia da estratégia pensada e executada de forma minuciosa.
“Chegamos ao maior Ebitda que a companhia já teve na sua história em renda recorrente: R$ 150 milhões, um crescimento acima de 20%”, disse o executivo.
Isso representou 61% do Ebitda consolidado do segundo trimestre, o que significa que a empresa se aproxima da meta de chegar a dois terços provenientes de negócios recorrentes, com previsibilidade maior da geração de caixa operacional.
Entre abril e junho, a receita bruta recorrente atingiu R$ 337,4 milhões, alta de 25% na comparação em 12 meses. Já a receita bruta consolidada totalizou R$ 544,7 milhões, também um aumento anual de 25%.
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A empresa também apresentou o sétimo trimestre consecutivo de crescimento das operações com duplo dígito, ou seja, acima de 10%. O lucro líquido consolidado saltou 46% em 12 meses para R$ 245,8 milhões.
O executivo também destacou que a companhia atingiu o menor custo de capital de sua história (CDI + 0,98%), com uma cobertura de caixa equivalente a quase cinco anos de vencimentos, o que se traduz em uma estrutura financeira que sustenta os planos de expansão internacional, em fase de acelerada execução.
Exportação do ecossistema
Em seu plano de internacionalização, a JHSF tem a ambição de chegar a 20 destinos globais.
O Grupo Fasano, que representa o “braço” de hospitalidade e gastronomia da JHSF, mantém cinco novos hotéis em construção, em Miami, Londres, Cascais, Sardenha e Punta del Este, com previsão de entrega ao longo dos próximos anos.
O da Sardenha, na Itália, iniciou seu soft opening no último dia 5, período que se estende até o final do mês, com a inauguração do Fasano Al Mare Beach Club.
Esse projeto incluirá desenvolvimento imobiliário, novos restaurantes e campo de golfe, o que significará replicar pela primeira vez na Europa o conceito integrado de negócios da JHSF, segundo o executivo.
Martins, que antes comandava a JHSF Capital e que assumiu como CEO em fevereiro de 2024, em substituição a Thiago Alonso - que está no conselho de administração -, contou sobre a visão estratégica com planos que buscam transformar a companhia em uma potência com alcance global no mercado de luxo.
“Estamos exportando esse ecossistema de alta renda que hoje é líder na América Latina para os principais pontos internacionais do setor”, afirmou.
Ao mesmo tempo, a JHSF segue em expansão de seus ativos no Brasil, tanto em novos projetos como naqueles já existentes cuja demanda não para de crescer.
Na frente de incorporação, a JHSF gerou cerca de R$ 300 milhões em vendas contratadas no segundo trimestre, um crescimento de 30% na base anual.
Martins contou que o São Paulo Catarina Aeroporto Executivo, em São Roque, a cerca de 60 km da capital paulista, possui cerca de 100 aeronaves em lista de espera para utilizar seus hangares. O Catarina tem hoje um total de 160 aeronaves em hangar.
A demanda elevada levou o grupo a a investir na construção de novos espaços.
“Estamos em obras aceleradas para inaugurar agora entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano a expansão do 12º ao 16º hangar. Quatro novos hangares vão acomodar essas aeronaves”, afirmou o CEO.
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Após essa inauguração, a JHSF já estuda uma nova expansão do terminal diante da performance operacional positiva, segundo o CEO. O Catarina é líder no Brasil em movimentação internacional da aviação executiva.
“Tanto no resultado financeiro quanto no operacional, alcançamos recorde no segundo trimestre”, disse Martins. Houve crescimento de 64% em movimentos.

Shopping de luxo na Faria Lima
Em outra frente, a JHSF avança com a construção de um empreendimento multiuso de luxo na avenida Faria Lima, no centro financeiro de São Paulo, com inauguração prevista para 2027.
O projeto, nos moldes do Shops Jardins, terá 13 mil metros quadrados.
“As obras do Shops Faria Lima seguem avançando bem para cumprir esse cronograma no principal quarteirão da Faria Lima”, disse Martins.
O executivo fez referência ao quarteirão na esquina da rua Leopoldo Couto Magalhães Júnior, no Itaim Bibi, em um trecho próximo às sedes de bancos de investimento como BTG Pactual, Itaú BBA, JPMorgan e Morgan Stanley.
“É um shopping grande que terá marcas internacionais inéditas no Brasil, ainda em sigilo, além de operações gastronômicas também inéditas”, disse o CEO.
O Shops Faria Lima tem 32,5% do empreendimento nas mão do fundo imobiliário XP Malls, segundo Martins.
O futuro centro comercial de luxo ocupa uma área equivalente ao dobro do Shops Jardins, localizado entre as rua Haddock Lobo e Bela Cintra, nos Jardins, em área expandida em que ficava o restaurante Fasano.
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“Ele vai ser o principal shopping de alta renda da Faria Lima, tão relevante quanto o Shopping Cidade Jardim, que é o maior shopping de alta renda na América Latina”, disse Martins.
Não será o único ativo novo da JHSF no segmento de shoppings.
A companhia pretende inaugurar ainda neste ano o Town Center no complexo Boa Vista Village, em Porto Feliz, a 160 km da capital, um shopping a céu aberto com 15 mil metros quadrados de área bruta locável e mais de 100 operações.

Clubes de surfe e Health Center
O CEO da JHSF disse que o grupo planeja ainda inaugurar o São Paulo Surf Club, próximo ao Shopping Cidade Jardim, entre o terceiro e o quarto trimestres deste ano, o que vai expandir seu portfólio de clubes exclusivos.
A empresa não divulga o número de sócios de seus clubes.
“Como são projetos pioneiros e únicos no mundo, pautamos a quantidade de sócios na qualidade da experiência do cliente”, disse o CEO.
O primeiro clube da companhia foi o Boa Vista Village Surf Club.
A JHSF também inaugurará nos próximos meses o Fasano Tennis Club. O CEO disse ver “uma perspectiva muito grande de crescimento” para essa divisão de negócios.
Na próxima terça-feira (19), a JHSF abre o Cidade Jardim Health Center, uma área de 2.000 metros quadrados dedicada à saúde e a serviços de bem-estar para clientes do Shopping Cidade Jardim.
Segundo o CEO, o espaço contará com alguns dos principais profissionais do Brasil na área de wellness, com serviços em escritórios e consultórios dentro do complexo.

Chanel e outras flagships no Cidade Jardim
Outra novidade no Shopping Cidade Jardim, na marginal Pinheiros, é a abertura da flagship da maison Chanel.
“A Chanel vai ter no Shopping Cidade Jardim uma flagship de mais de 1.200 metros quadrados, modelo que possui apenas cinco unidades similares no mundo. E novas marcas terão conosco suas flagships, como Dior, Prada, Tiffany e Rolex", contou Martins.
No segundo trimestre, o Shopping Cidade Jardim chegou a uma taxa de ocupação de 99,2%, o que indica um cenário de demanda aquecida. O executivo disse que existe uma lista de marcas interessadas em operar no empreendimento.
A JHSF tem ainda três grandes projetos residenciais em desenvolvimento: Grand Lodge e Surfside, ambos no Boa Vista, e o Reserva Cidade Jardim, complexo de quatro torres em frente ao Shopping Cidade Jardim. Segundo o CEO, as torres serão “as mais sofisticadas e icônicas” da cidade.
Até o final do ano, a companhia planeja ainda lançar a Fazenda Santa Helena, em Bragança Paulista, que foi antecipada pela Bloomberg Línea, e o Boa Vista Estates, condomínio focado em grandes propriedades no complexo Boa Vista.
Martins ressaltou que a estratégia prevê lançamentos controlados e programados, com a preservação do foco na qualidade dos projetos para sustentar a performance positiva da incorporação a médio e longo prazo.
JHSF Capital: novos fundos a caminho
A JHSF Capital, gestora do grupo, administra R$ 2,7 bilhões em ativos e desempenha função estratégica na reciclagem de capital da companhia, segundo o CEO.
A gestora atuou, por exemplo, como assessora financeira na venda de participações em shoppings que não se alinhavam ao foco da empresa no segmento de alta renda.
A JHSF Capital também desenvolve fundos setoriais específicos, chamados de “fundos puro sangue”, com dois em estruturação: um focado em shoppings e outro em incorporação.
Martins contou que a empresa planeja criar fundos similares para aeroportos e hospitalidade/gastronomia, fortalecendo o pipeline para sustentar a expansão do grupo.
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