‘Ouro verde’: como o pistache entrou no alfajor, virou moda e ficou caro na Argentina

Aumento na demanda aumentou o preço da noz no país e acelerou o cultivo local enquanto produtores apostam no longo prazo, acreditando que a onda não será passageira

Pistacho
Por Mariano Espina (BR)
27 de Julho, 2025 | 09:35 AM

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Bloomberg línea — A popularidade do “chocolate de Dubai” nas redes sociais provocou uma febre pelo pistache na Argentina. O boom do consumo elevou o preço dessa noz verde que está na moda em todo o mundo. Mas ele também reacendeu as dúvidas sobre o abastecimento do mercado, por mais que nos últimos anos as áreas de cultivo no país tenham crescido exponencialmente, multiplicando-se por cinco.

Nas últimas semanas, duas das principais marcas de sorvete e chocolate do país lançaram produtos com sua própria versão do chamado “ouro verde” e registraram vendas recordes, acelerando ainda mais a demanda.

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No entanto, essas empresas - e as demais que usam o pistache como insumo - estão enfrentando um fornecimento limitado e tensões na cadeia. Isso apesar do fato de a Argentina produzir pistache e, nos últimos cinco anos, a produção local, que devido a fatores climáticos está concentrada na província de San Juan, aumentou em mais de 500% em hectares cultivados.

Consolidação do mercado

“Fomos previdentes e fizemos um estoque com quase um ano de antecedência, com um esforço financeiro significativo. Se você não comprar no início do ano, na época da colheita, não conseguirá obter grandes quantidades e o preço subirá“, disse à Bloomberg Línea Christian Otero, fundador da Lucciano’s, a sorveteria que concorre com a Havanna após o lançamento quase simultâneo do alfajor Dubai.

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Otero explica que mais de 30% dos sabores vendidos na Lucciano’s contêm pistache. E que mais da metade do produto é comprada na Argentina: 100.000 quilos na Argentina e 80.000 no exterior.

Ele acredita que este ano eles podem ultrapassar 200.000 quilos e explicou: “Historicamente, um quilo estava disponível por entre US$ 18 e US$ 22, hoje você pode conseguir até US$ 40”.

Pistacho

“Começamos a importar massas prontas da Itália e depois descobrimos o pistache de San Juan”, disse Otero. “Não acho que seja uma moda passageira, é um produto que se consolidou na Europa por muitos anos. No nosso caso, ele veio para ficar e vai desempenhar um papel importante nos produtos argentinos”, acrescentou.

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Na Havanna, o fornecimento de pistache é fundamental. Desde o lançamento do alfajor de Dubai, em 11 de julho, foram vendidos 320.000 doces do tipo. De acordo com o que a empresa explicou, com as nozes que puderam comprar, eles fizeram todos os alfajores possíveis e os venderam, até que chegaram a uma escassez de estoque.

“Produzimos, vendemos, acabamos, à medida que recebemos pistache, produziremos mais alfajores”, explicou um porta-voz da Havanna.

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No início do ano, a empresa petrolífera YPF lançou um alfajor de pistache para suas lojas YPF FULL nos postos de serviço.

De acordo com a empresa, “desde seu lançamento em janeiro, o Alfajor Full Pistache tem sido um verdadeiro sucesso no mercado, com 640.000 unidades vendidas em seis meses, o que reflete a excelente recepção dos consumidores”.

San Juan, a província do pistache

“De acordo com o último Censo Agrícola Nacional (2018), San Juan é a principal província produtora em nível nacional, com 6.500 ha, representando aproximadamente 90% da área cultivada na Argentina”, diz um relatório do Instituto Nacional de Tecnologia Agrícola (INTA), que, juntamente com o Conicet, desenvolveu um mapa de zoneamento agroambiental para fornecer ferramentas para o crescimento do setor.

Atrás de San Juan vêm Mendoza (cerca de 770 hectares cultivados), La Rioja (100 ha) e La Pampa (55 ha). A exportação de pistache, uma economia regional, não está sujeita a nenhum imposto.

Pistacho

A Pistacho de Los Andes, com sede em San Juan, é um dos principais produtores do país. Seu diretor, Marcelo Nemirovsky, disse à Bloomberg Línea que a empresa foi fundada em 1998 com o plantio dos primeiros 75 hectares. Hoje, esse número subiu para 300, dos quais 90 estão em produção, com outros 50 a serem acrescentados em curto prazo.

“Leva de cinco a seis anos para começar a produzir e de 10 a 12 anos para atingir o volume que eles terão durante seu período produtivo, que pode se estender por 50 anos”, explicou Nemirovsky, que acredita que o negócio “veio para ficar”. “É um bom investimento de longo prazo, não se deve esperar um retorno rápido. A barreira de entrada não é baixa e não há muitos outros lugares para produzi-lo”, acrescentou.

De acordo com o empresário, devido ao preço do pistache, que é vendido com ou sem casca (kern), e também torrado e salgado, o negócio é lucrativo, mas os custos “subiram muito”.

“A demanda está aumentando em todos os lugares. O mercado interno está exigindo muito mais do que no ano passado. Além da moda, é uma fruta muito procurada por suas propriedades e, na América do Sul, só é produzida na Argentina”, disse.

Mariano Espina

Mariano Espina (BR)

Jornalista argentino com especialização em política. Anteriormente, trabalhou nas redações do jornal El Economista e do portal Data Clave. Graduado em jornalismo pela Universidade de El Salvador.