Bloomberg Línea — O equipamento que tem mudado o consumo de vinho no mundo ao permitir servir a bebida com uma agulha, sem tirar a rolha da garrafa, tem ganhado espaço no Brasil.
A venda de Coravin cresce 80% ao ano no Brasil, amplia sua presença em restaurantes e aposta na paixão local por vinhos para expandir a base de consumidores, segundo explicou Ferran Collell Caralt, representante da marca na América do Sul, em entrevista à Bloomberg Línea.
“Brasil e Chile são mercados surpreendentes”, disse o executivo.
Desde sua chegada oficial ao país, em 2018, a marca tem se consolidado como uma ferramenta para sommeliers, restaurantes e amantes do vinho.
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Hoje, a operação brasileira responde por cerca de 4.000 a 5.000 novos usuários por ano, entre consumidores domésticos e profissionais do setor.
A base ainda é considerada pequena, mas em rápida expansão, com presença já estabelecida em quase 900 estabelecimentos profissionais.
Apesar de o foco global da Coravin ser o consumidor final, no Brasil a demanda tem sido puxada especialmente em hotéis, restaurantes e cafés.
Isso porque o equipamento permite oferecer vinhos por taça, mesmo de rótulos premium, sem risco de desperdício. Antes, para poder vender um vinho em taça, o estabelecimento corria o risco de acabar perdendo todo o resto da garrafa se não conseguisse vender rapidamente outras taças.
“Você pode vender qualquer vinho em taça, com uma lucratividade maior e uma tranquilidade enorme de que não vai perder a garrafa”, explicou Caralt.
É o caso do serviço do Evvai, restaurante com duas estrelas do Guia Michelin em São Paulo.
Segundo o sommelier Marcelo Fonseca, o equipamento é usado no serviço de menus degustação harmonizados com vinhos e também no serviço em taça à la carte.
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Essa aplicação tem atraído casas de diferentes perfis, dentro e fora do eixo Rio-São Paulo. “Estive recentemente em Campos do Jordão e fiquei impressionado com a quantidade de estabelecimentos que já usam Coravin. Mas ainda há espaço para crescer em outras capitais”, disse Caralt.

Um dos principais entraves para a expansão é a percepção de que o Coravin é caro.
No mercado brasileiro, os modelos para restaurantes começam em R$ 1.099. Para o consumidor doméstico, o valor passa de R$ 2.000 e pode superar R$ 4.000 nos modelos mais completos, que incluem aerador, cápsulas e acessórios.
Além disso, há o custo das cápsulas do gás usado para tirar cada taça da garrafa. Para quem compra para usar em casa, cada cápsula custa pouco mais de R$ 100 - preço que fica mais baixo quando se compra em lote para uso em restaurantes.
“Se o equipamento for usado corretamente, cada cápsula serve até 25 taças. Calculamos um um custo a partir de R$ 2,20 por taça, dependendo da quantidade de cápsulas compradas. Se usar mal, pode subir. Mas o sistema é eficiente”, disse Caralt.
O preço elevado das cápsulas, segundo ele, se deve também à carga tributária. “Estamos tentando reduzir o custo, mas os impostos são muito altos. Mesmo assim, priorizamos manter estoque no país.”
Apesar do desafio dos preços, Caralt disse acreditar que o sucesso da Coravin no Brasil está ligado ao acesso que ele permite a um mercado que, em geral, também enfrenta desafios por causa dos custos.
“Os vinhos que são baratos para outros mercados são caros no Brasil. Isso torna o Coravin ainda mais útil, porque evita desperdício em garrafas que custam muito e permite experimentar sem o risco de desperdício”, disse.
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A Coravin opera no Brasil como um braço da empresa global, mas com atuação independente. A equipe local tem 15 pessoas, com foco crescente na estrutura comercial dedicada ao canal de hospitalidade.
“Somos uma empresa em crescimento. Nosso foco principal continua sendo a venda de equipamentos. Não colocamos tanto esforço na venda de cápsulas avulsas, mas incentivamos a compra em packs maiores, que reduzem o custo por taça.”
A operação brasileira também é responsável por Chile, Uruguai e Paraguai. Caralt, que comanda os negócios na região, afirmou que a meta é manter o ritmo de crescimento e aumentar a capilaridade da marca no país.
Além do uso em restaurantes e por consumidores finais, o Coravin tem ganhado espaço em vinícolas e laboratórios, que utilizam o equipamento para testes, amostragens e controle de qualidade.
Segundo Caralt, isso mostra a versatilidade do produto e reforça seu valor técnico. “É muito satisfatório ver esse reconhecimento vindo de quem entende de vinho. As vinícolas e os profissionais adotaram a tecnologia.”
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