Equipamento para servir vinho sem abrir a garrafa cresce 80% ao ano no Brasil

Coravin chegou ao Brasil em 2018 e avança em particular entre restaurantes, em que permite a venda em taças sem desperdício, disse Ferran Collell Caralt, representante da marca na América do Sul, em entrevista à Bloomberg Línea

coravin Equipamento para servir vinho sem abrir garrafa cresce 80% ao ano no Brasil
Por Daniel Buarque
10 de Agosto, 2025 | 04:05 PM

Bloomberg Línea — O equipamento que tem mudado o consumo de vinho no mundo ao permitir servir a bebida com uma agulha, sem tirar a rolha da garrafa, tem ganhado espaço no Brasil.

A venda de Coravin cresce 80% ao ano no Brasil, amplia sua presença em restaurantes e aposta na paixão local por vinhos para expandir a base de consumidores, segundo explicou Ferran Collell Caralt, representante da marca na América do Sul, em entrevista à Bloomberg Línea.

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“Brasil e Chile são mercados surpreendentes”, disse o executivo.

Desde sua chegada oficial ao país, em 2018, a marca tem se consolidado como uma ferramenta para sommeliers, restaurantes e amantes do vinho.

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Hoje, a operação brasileira responde por cerca de 4.000 a 5.000 novos usuários por ano, entre consumidores domésticos e profissionais do setor.

A base ainda é considerada pequena, mas em rápida expansão, com presença já estabelecida em quase 900 estabelecimentos profissionais.

Apesar de o foco global da Coravin ser o consumidor final, no Brasil a demanda tem sido puxada especialmente em hotéis, restaurantes e cafés.

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Isso porque o equipamento permite oferecer vinhos por taça, mesmo de rótulos premium, sem risco de desperdício. Antes, para poder vender um vinho em taça, o estabelecimento corria o risco de acabar perdendo todo o resto da garrafa se não conseguisse vender rapidamente outras taças.

“Você pode vender qualquer vinho em taça, com uma lucratividade maior e uma tranquilidade enorme de que não vai perder a garrafa”, explicou Caralt.

É o caso do serviço do Evvai, restaurante com duas estrelas do Guia Michelin em São Paulo.

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Segundo o sommelier Marcelo Fonseca, o equipamento é usado no serviço de menus degustação harmonizados com vinhos e também no serviço em taça à la carte.

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Essa aplicação tem atraído casas de diferentes perfis, dentro e fora do eixo Rio-São Paulo. “Estive recentemente em Campos do Jordão e fiquei impressionado com a quantidade de estabelecimentos que já usam Coravin. Mas ainda há espaço para crescer em outras capitais”, disse Caralt.

Ferran Collell Caralt, representante da marca Coravin na América do Sul

Um dos principais entraves para a expansão é a percepção de que o Coravin é caro.

No mercado brasileiro, os modelos para restaurantes começam em R$ 1.099. Para o consumidor doméstico, o valor passa de R$ 2.000 e pode superar R$ 4.000 nos modelos mais completos, que incluem aerador, cápsulas e acessórios.

Além disso, há o custo das cápsulas do gás usado para tirar cada taça da garrafa. Para quem compra para usar em casa, cada cápsula custa pouco mais de R$ 100 - preço que fica mais baixo quando se compra em lote para uso em restaurantes.

“Se o equipamento for usado corretamente, cada cápsula serve até 25 taças. Calculamos um um custo a partir de R$ 2,20 por taça, dependendo da quantidade de cápsulas compradas. Se usar mal, pode subir. Mas o sistema é eficiente”, disse Caralt.

O preço elevado das cápsulas, segundo ele, se deve também à carga tributária. “Estamos tentando reduzir o custo, mas os impostos são muito altos. Mesmo assim, priorizamos manter estoque no país.”

Apesar do desafio dos preços, Caralt disse acreditar que o sucesso da Coravin no Brasil está ligado ao acesso que ele permite a um mercado que, em geral, também enfrenta desafios por causa dos custos.

“Os vinhos que são baratos para outros mercados são caros no Brasil. Isso torna o Coravin ainda mais útil, porque evita desperdício em garrafas que custam muito e permite experimentar sem o risco de desperdício”, disse.

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A Coravin opera no Brasil como um braço da empresa global, mas com atuação independente. A equipe local tem 15 pessoas, com foco crescente na estrutura comercial dedicada ao canal de hospitalidade.

“Somos uma empresa em crescimento. Nosso foco principal continua sendo a venda de equipamentos. Não colocamos tanto esforço na venda de cápsulas avulsas, mas incentivamos a compra em packs maiores, que reduzem o custo por taça.”

A operação brasileira também é responsável por Chile, Uruguai e Paraguai. Caralt, que comanda os negócios na região, afirmou que a meta é manter o ritmo de crescimento e aumentar a capilaridade da marca no país.

Além do uso em restaurantes e por consumidores finais, o Coravin tem ganhado espaço em vinícolas e laboratórios, que utilizam o equipamento para testes, amostragens e controle de qualidade.

Segundo Caralt, isso mostra a versatilidade do produto e reforça seu valor técnico. “É muito satisfatório ver esse reconhecimento vindo de quem entende de vinho. As vinícolas e os profissionais adotaram a tecnologia.”

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Daniel Buarque

Daniel Buarque

É doutor em relações internacionais pelo King’s College London. Tem mais de 20 anos de experiência em veículos como Folha de S.Paulo e G1 e é autor de oito livros, incluindo 'Brazil’s international status and recognition as an emerging power', 'Brazil, um país do presente', 'O Brazil é um país sério?' e 'O Brasil voltou?'