De rosés a drinks: para a Chandon, evolução do gosto do brasileiro cria oportunidades

Temporada de fim de ano marca um pico de demanda e consolida o país como destino relevante para a marca da LVMH, com demanda que vai além do espumante brut, diz o presidente global, Arnaud de Saignes, à Bloomberg Línea

A Chandon é a marca de espumantes da LVMH, fundada em 1959 e com produção em seis mercados: Brasil, Argentina, Austrália, China, Índia e Estados Unidos (Califórnia) (Foto: LVMH)
Por Daniel Buarque
04 de Dezembro, 2025 | 05:41 AM

Bloomberg Línea — O começo de dezembro é um momento muito aguardado no mercado global de espumantes. Para a Chandon, uma das marcas mais icônicas e líder de mercado, não é diferente: a combinação entre Natal, Ano Novo e outras festividades representa o momento de maior concentração de vendas no mundo.

“É o momento mais importante do ano para a categoria de espumantes no mundo”, resumiu Arnaud de Saignes, presidente global da Chandon, em entrevista à Bloomberg Línea em recente passagem pelo Brasil.

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Segundo o executivo francês, que tem como base o seu país natal, a empresa acompanha esse movimento em todos os seus domínios, incluindo o Brasil.

A temporada consolida o país como destino relevante para a marca. “São períodos em que as pessoas se reúnem, celebram e passam tempo em família”, afirmou.

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É nesse contexto que a Chandon avalia o desempenho de 2025 como “correto”, com avanços em algumas frentes e recuos em outras, mas preservando uma trajetória de crescimento, segundo de Saignes, sem revelar o volume de vendas e o faturamento.

Quase cinco décadas depois de instalar seu domínio no país, em Garibaldi, no Rio Grande do Sul, o braço internacional para vinhos e espumantes da LVMH reforça o Brasil como um dos pilares do negócio global.

O país se destaca pelo potencial de crescimento e pela evolução do consumidor local, segundo o executivo.

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“O Brasil é um mercado histórico da Chandon. É o nosso segundo domínio, criado em 1973”, disse. “Hoje, o país está entre o terceiro e o quarto mercado mundial para nós, variando a cada ano.”

A avaliação faz parte de uma estratégia que combina expansão do consumo, diversificação de portfólio, práticas agrícolas sustentáveis e valorização do enoturismo como alavancas para fortalecer a operação no país.

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Para além do espumante brut

A empresa observa um avanço consistente de categorias que vão além do espumante brut mais tradicional, em movimento que acompanha mudanças no comportamento do consumidor brasileiro.

O aumento da presença de rosés, drinks preparados com espumantes e produtos com sabores distintos tem guiado decisões recentes da marca.

“Vemos um desenvolvimento do gosto por sabores e cores no Brasil”, disse o executivo. Ele citou o crescimento da mixologia e a abertura para espumantes com perfis aromáticos marcados.

“Acreditamos que há oportunidade para diversificar a gama e seduzir consumidores que talvez se interessem menos pelo brut e mais por rosé, Passion ou Spritz.”

Segundo ele, o mercado brasileiro vive ciclos naturais de expansão e retração no consumo, mas o momento atual é positivo para a categoria.

Para de Saignes, fatores como dispor de uma população grande, uma cultura de celebração e uma diversidade de consumo são suficientes para que o Brasil continue a avançar como um destino prioritário para a marca.

“O potencial de crescimento é importante. O país tem uma cultura forte de de viver junto e uma grande diversidade entre cidades”, afirmou.

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Sustentabilidade como eixo

Para além do mercado, a Chandon tem ampliado investimentos em sustentabilidade, tema que o executivo descreveu como central para a sobrevivência da atividade vitivinícola.

As mudanças climáticas afetam os seis domínios da marca (veja mais abaixo), com episódios frequentes de geadas, excesso de chuva ou secas em diferentes regiões.

“Se quisermos que a Chandon continue produzindo daqui a 50 anos, precisamos transformar nossas práticas”, afirmou. “As mudanças climáticas têm impactos todos os anos: geadas, muita chuva, secas.”

O Brasil aparece como um dos terrenos em que a empresa já mede resultados específicos.

Segundo dados da Chandon, 36% da área total do domínio é dedicada à preservação da vegetação nativa, com corredores biológicos e refúgios naturais para fauna local.

A vinícola mantém 90 colmeias de abelhas nativas sem ferrão e conduz, em parceria com a Embrapa, um projeto de replantio de 7,5 hectares de butiazeiros, espécie típica da região Sul.

A operação também cresce em eficiência ambiental.

A empresa afirma que hoje opera com 100% de energia elétrica proveniente de fontes renováveis, trata e reutiliza toda a água consumida e utiliza garrafas feitas com 80% de vidro reciclado, cuja redução de peso busca diminuir emissões desde 2001.

O uso de defensivos químicos também foi reduzido. Desde 2023, houve queda de 70% no uso de inseticidas, substituídos por biocompostos e bioinsumos.

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O grupo mantém a aposta no Sul do país como base da produção local. “A região de Garibaldi é muito especializada em vinhos espumantes”, afirmou.

“Para vinhos tranquilos é mais difícil; por isso estamos muito satisfeitos com a região em que estamos.”

Não há planos imediatos de expansão para outras áreas do Brasil, apesar do crescimento recente de polos vitivinícolas no Sudeste.

Sistema global de produção

Enquanto as marcas de champagne da Moët & Chandon só podem produzir na região francesa de mesmo nome, a Chandon foi criada como a marca global com vinhedos e operações na Argentina, no Brasil, nos Estados Unidos (na Califórnia), na Austrália, na China e na Índia.

Com seis domínios em continentes distintos, a Chandon opera com intercâmbio técnico entre equipes e circulação de rótulos criados em diferentes países.

As colheitas acontecem em duas estações do ano, graças à presença no hemisfério Norte e no hemisfério Sul, o que acelera o aprendizado e o desenvolvimento de novos produtos.

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“Compondo em seis lugares diferentes, vivemos dois ciclos de colheita e aprendemos muito uns com os outros”, disse.

Segundo o executivo, algumas criações feitas no Brasil já circulam em outros mercados, e o mesmo ocorre com produtos da Argentina.

O reforço da presença no Brasil inclui também a ampliação da oferta de experiências no domínio de Garibaldi. A empresa tem buscado aproximar visitantes dos bastidores da produção, conceito que integra a estratégia global de valorizar o savoir-faire por trás dos espumantes.

“É importante que venham nos visitar. Em Garibaldi, a equipe criou experiências formidáveis”, disse. “Queremos abrir a sofisticação e o trabalho por trás dos produtos ao público.”

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Daniel Buarque
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