Da F1 ao SailGP: como Alan Adler se tornou o empresário de grandes eventos no Brasil

CEO da IMM Esporte e Entretenimento e ex-atleta olímpico conta como a mídia tem transformado modalidades em fenômenos globais. E fala das novas investidas, da ‘Fórmula 1 dos mares’, com o Mubadala Brazil SailGP Team, à volta da MotoGP ao país

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Bloomberg Línea — Vinte anos depois de colocar uma equipe brasileira na principal regata de volta ao mundo, a Volvo Ocean Race, Alan Adler voltou ao mar com uma nova ambição — e, desta vez, com a câmera ligada.

O CEO da IMM Esporte e Entretenimento, empresa responsável por eventos como o Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 e o Rio Open de tênis, tem dedicado suas atenções também ao SailGP, a liga internacional de vela de alta performance que se tornou conhecida como “a Fórmula 1 dos mares”.

A competição, criada em 2019 pelo bilionário empresário Larry Ellison (fundador da Oracle) e pelo consagrado velejador Sir Russell Coutts em 2019, já recebeu mais de US$ 400 milhões em investimentos e combina tecnologia, velocidade e storytelling com um formato pensado para as telas — da TV às plataformas digitais.

Cada etapa reúne catamarãs capazes de atingir 100 km/h, projetados para gerar imagens cinematográficas e engajamento global.

“O que revoluciona um esporte é a mídia”, disse Adler, durante um encontro recente com jornalistas e parceiros no Rio de Janeiro.

“A Fórmula 1 se transformou quando Bernie Ecclestone fechou um acordo com a TV europeia nos anos 1980. Décadas depois, a Liberty Media dobrou o valor da F1 ao se reinventar no ambiente digital. Quando vi a SailGP pela primeira vez, percebi que era um produto de mídia — e que poderia revolucionar a vela do mesmo jeito.”

O Brasil começou a ser representado neste ano pelo Mubadala Brazil SailGP Team, liderado pela velejadora e bicampeã olímpica Martine Grael, a primeira mulher a comandar uma embarcação desde o início da competição, em 2019. Outras nações na liga são Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos.

Para adquirir uma franquia, Adler atraiu a Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi que embarcou na empreitada como parceiro no projeto, para desembolsar US$ 65 milhões, o equivalente em câmbio corrente a cerca de R$ 350 milhões.

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“Esse valor dobrou em um ano e tem um motivo: é uma liga em construção e, portanto, o valuation tem subido. O valor faz parte dessa construção.”

Há outros investimentos. O orçamento anual de cada equipe é estimado entre US$ 10 e US$ 12 milhões.

Na embarcação, Adler atraiu não só a Mubadala, que assumiu os naming rights da equipe, como outras marcas, como Vale, Atvos, Banco BRB, Ballena, Oakberry e Ambipar, com exposição nas águas dos cinco continentes.

O Brasil receberá em 2026 a sua primeira edição de uma etapa do Rolex SailGP Championship, no Rio de Janeiro, prevista para os dias 11 e 12 de abril.

A estreia deveria ter ocorrido neste ano, mas um acidente em uma etapa anterior mudou os planos da organização global do evento, que precisou fazer ajustes nas embarcações e cancelou a prova que seria disputada nas águas da Baía de Guanabara. No SailGP, as embarcações são de responsabilidade da própria organização do evento.

Para Adler, o retorno à vela vem acompanhado de uma leitura estratégica sobre o futuro do entretenimento esportivo.

“Não é porque eu sou apaixonado por vela, por ter sido velejador ou por gostar da Martine”, disse.

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“É porque eu realmente fiquei muito impressionado com o produto que eu vi pela primeira vez em Saint Tropez. É um produto espetacular para quem assiste ao vivo e em qualquer tela e tem todos os atributos que o público atual valoriza: velocidade, tecnologia, sustentabilidade, equidade de gênero e inovação.”

O modelo esportivo da SailGP busca refletir essa combinação: os barcos são idênticos, o que nivela a competição técnica, e o diferencial de desempenho vem da estratégia, da equipe e da narrativa construída ao redor.

Cada embarcação F50 possui sensores de dados em tempo real, transmissão ao vivo em alta definição e análises alimentadas por inteligência artificial, o que permite ao público acompanhar métricas como velocidade, ângulo de vento e desempenho dos atletas durante a prova.

As etapas são desenhadas para durarem cerca de uma hora e meia de programação. Hoje, a competição é transmitida no Brasil pelos canais SporTV e BandSports e ainda pela plataforma de streaming Globoplay.

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O vento sopra de novo

Curiosamente, foi por meio do projeto da Volvo Ocean Race, com a criação da equipe Brasil 1, que Adler começou a empreender no mundo dos esportes - e do entretenimento.

Nascido em uma família ligada à vela, o carioca foi atleta olímpico - participou dos Jogos de Los Angeles (1984), Seul (1988) e Barcelona (1992) -, assim como o pai e o irmão, e campeão mundial da classe Star, em 1989, e da J24, em 2006.

À prática esportiva se somava o trabalho em uma empresa da família, a Forjas Brasileiras, que produzia peças para montadoras no país.

Quando a família decidiu profissionalizar a gestão do negócio em 2022, Adler passou para o conselho e decidiu que usaria o “tempo livre” para se dedicar a um projeto ligado à vela.

Na temporada 2005- 2006, o barco brasileiro comandado por Torben Grael, um dos maiores atletas brasileiros de todos os tempos, cinco vezes medalhista olímpico, com dois ouros, em Atlanta (1996) e Atenas (2004) na classe Star, e pai de Martine, fez história e encerrou aquela edição em terceiro lugar geral.

Para Adler, além do marco para a vela brasileira, o projeto teve um outro efeito: a conexão com o marketing esportivo.

Foi o embrião para a fundação da Brasil Esportes & Entretenimento, que organizou eventos como o Megarampa, com Bob Burnquist; a Travessia dos Fortes, no Rio de Janeiro, e a edição do UFC no Rio de Janeiro em 2010. A empresa foi adquirida em 2011 pelo empresário Eike Batista para a criação da IMX.

Quando o império do Batista ruiu em 2014, Adler, que era o CEO da empresa, se juntou ao Mubadala, acionista na IMX. No mesmo ano, nasceu a IMM, sendo o último “M” uma referência ao sócio-investidor.

Em 2024, Adler comprou a participação da Mudabala - ele é sócio do fundo soberano de Abu Dhabi na Brazil Motosport, que organiza o Grande Prêmio de São Paulo, e também no Team Brazil.

Hoje, a IMM também reúne no portfólio eventos esportivos como a futura etapa do Brasil da MotoGP em 2026, Rio Open da ATP, SP Open da WTA e o campeonato infantil Go Cup.

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Há também eventos de entretenimento, cultura e moda, como a São Paulo Fashion Week, o Cirque du Soleil no Brasil e musicais como Meninas Malvadas e Tina, em homenagem à Tina Turner, previsto para 2026, e o Taste São Paulo Festival.

Os anos tornaram o executivo fluminense também mais seletivo com o tipo de evento e de acordo que considera interessante executar.

“Nós já saímos de muita coisa, como UFC e NBA. Essas franquias são muito dominantes e querem que nós prestemos serviço. E eu não quero ser apenas prestador de serviço, nesse sentido; quero ter o controle, pois a responsabilidade é gigante e o fee nunca é alto”, explicou.

Além das condições do acordo, Adler disse que um critério fundamental para a escolha de evento é não ter produtos que se “canibalizem”.

“Eu gosto de produtos relevantes e recorrentes. Vou fazer o show da Madonna? Não faço. E ainda escolho eventos que não dependam só de uma fonte para diluir riscos”, afirmou, citando patrocínios, ingresso, alimento e mídia.

No momento, ele disse que não “namora” nenhum outro projeto. “Eu tenho tudo o que queria”.

O último desejo realizado foi trazer uma etapa do MotoGP para o Brasil, depois de um hiato de 22 anos. O evento será realizado em março de 2026 em Goiânia.

“O MotoGP era um sonho, eu batalhava desde 2012”, contou em referência à principal categoria do motociclismo mundial.

“E o SailGP, que eu achei muito bacana”, fez questão de adicionar. “A vela, como negócio, nunca foi bom, mas agora, com o SailGP, pode se tornar um excelente negócio. Eu vi a oportunidade do produto.”

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