Berkmann faz plano para vender R$ 100 mi em vinhos de luxo no Brasil com novo CEO

Mariano Levy, cofundador da Grand Cru, assume o comando no país da tradicional importadora britânica de rótulos premium; o plano é buscar ganhos de eficiência logística que ajudem a reduzir preços e elevar margens, disse à Bloomberg Línea

Com novo CEO, importadora de vinhos de luxo Berkmann foca em eficiência para faturar R$ 100 mi
Por Daniel Buarque
25 de Setembro, 2025 | 04:40 PM

Bloomberg Línea — A importadora britânica de vinhos premium Berkmann Wine Cellars, que há uma década mantém operação própria no Brasil, inicia uma nova etapa de sua trajetória no país com mudanças na liderança e metas ambiciosas de crescimento.

Mariano Levy, cofundador e ex-CEO da Grand Cru, assumiu neste mês o comando da empresa no Brasil, em substituição a Paulo Bruno Cordeiro, que deixou o cargo após dez anos à frente da operação local.

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O movimento marca um reposicionamento estratégico da companhia, uma das mais tradicionais na importação de vinhos no mundo, com seis décadas de história, no mercado brasileiro.

O foco passa a ser voltado ao ganho de eficiência operacional, à ampliação da presença no segmento premium e à busca pela marca de R$ 100 milhões em faturamento em 2026, segundo explicou Levy em entrevista à Bloomberg Línea, a primeira que concedeu desde que assumiu o cargo.

“O mercado de vinhos premium no Brasil cresce 10% ao ano, e a Berkmann tem avançado mais do que isso”, disse Levy. “Neste ano já registramos um crescimento de 38% até agora e queremos chegar a R$ 100 milhões de faturamento no ano que vem com saúde das contas e muito foco na eficiência”, explicou.

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Segundo ele, em 2025 o faturamento deve ficar entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões.

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Para crescer em dois dígitos e atingir a meta, a empresa aposta em eficiência logística, proximidade com produtores e maior foco no canal on-trade, que concentra vendas para restaurantes, bares e hotéis.

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Um dos primeiros movimentos de Levy no comando é a reorganização da estrutura logística da companhia, hoje fragmentada em diferentes estados.

O plano é unificar os centros de distribuição em uma única base no sul do país, provavelmente em Santa Catarina.

“Isso traz eficiência de impostos e melhora a cadeia”, explicou.

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O objetivo é reduzir custos operacionais e, sobretudo, diminuir a diferença de preços entre o Brasil e outros mercados no exterior.

“O consumidor de vinho premium está disposto a pagar um preço alto, mas não está disposto a pagar três vezes mais caro aqui do que paga no exterior”, afirmou.

Ainda que a empresa venha em um ritmo acelerado de crescimento, Levy disse que ainda há espaço para ganhos de rentabilidade.

“Esse crescimento de 38% não veio com tanta eficiência. Agora, com melhorias logísticas e operacionais, vamos alavancar o Ebitda e o faturamento ao mesmo tempo”, afirmou.

Segundo ele, a prioridade é manter margens que considera justas e que permitam ampliar a base de consumidores e, ao mesmo tempo, preservar a saúde financeira da operação.

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Crescimento do luxo

Argentino radicado no Brasil desde 2002, Mariano Levy construiu carreira no setor de vinhos a partir da fundação da Grand Cru, que se consolidou como uma das principais importadoras do país.

Com experiência internacional e histórico de expansão comercial, o executivo foi escolhido pela família Berkmann para conduzir a operação brasileira em um momento de expansão global.

No Reino Unido, a Berkmann é considerada uma das maiores importadoras de vinhos voltadas ao mercado premium, com faturamento anual em torno de 120 milhões de libras (o equivalente a aproximadamente R$ 850 milhões). A filial brasileira, criada em 2015, apresenta um crescimento acima da média do setor.

Mariano Levy, novo CEO da importadora de vinhos de luxo Berkmann

O avanço local é impulsionado pelo desempenho das marcas ícones de seu portfólio. É o caso da italiana Antinori, referência mundial em vinhos italianos de alta gama, e da chilena Montes, uma das marcas mais prestigiadas do país.

A estratégia a partir de agora é fortalecer a presença dessas marcas em restaurantes e desenvolver ações conjuntas com os produtores.

Se no passado a Grand Cru expandiu sua relevância ao combinar volume e presença em diferentes segmentos, na Berkmann a aposta é concentrar esforços em poucas marcas de alta gama, reforçando a imagem de exclusividade.

“Vamos ter poucas marcas de alta qualidade e trabalhar em conjunto com o produtor para entender cada vez melhor o mercado”, disse Levy.

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Brasil no radar internacional

A nova fase da Berkmann no Brasil ocorre em um contexto internacional de incertezas para o mercado de vinhos.

Nos Estados Unidos, tarifas de importação anunciadas por Donald Trump e instabilidades políticas afetam o mercado de importados.

Na Ásia, o consumo de bebidas premium sofre com a desaceleração da economia chinesa. Já na Europa, a demanda encontra limites diante da estagnação econômica.

Levy avalia que a conjuntura internacional pode beneficiar o Brasil.

O andamento da reforma tributária e o avanço do acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia são acompanhados de perto pela Berkmann, pois isso pode reduzir custos e ampliar a competitividade das importações.

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Com novo CEO, importadora de vinhos de luxo Berkmann foca em eficiência para faturar R$ 100 mi

“Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Temos que estar muito atentos à questão geopolítica. No Brasil, longo prazo significa um ano. Portanto temos que nos adaptar constantemente”, disse.

Nesse cenário global adverso, o país surge como alternativa promissora, mesmo sendo ainda um mercado considerado pequeno em comparação a outros polos globais, dado que “está em expansão e que no segmento de vinho premium está crescendo bem mais do que o resto do mundo”, disse Levy.

“Hoje em dia, tem Borgonha sobrando”, disse Levy. “No passado era difícil comprar vinhos dessa região, pois havia muita disputa. Mas agora os produtores estão procurando outros mercados, e há espaço para o Brasil”, explicou.

A tendência de crescimento, associada à abertura de restaurantes de alta gastronomia e ao interesse renovado de produtores europeus em diversificar mercados, coloca o país como prioridade para a companhia.

Isso também se encaixa no que Levy disse perceber como uma transformação mais ampla no perfil do consumidor brasileiro de vinhos ao longo das últimas duas décadas.

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“Quando eu cheguei em 2002, o vinho era uma novidade, aspiracional”, afirmou.

Segundo o executivo, o consumo se espalhou para além de uma elite restrita e passou a integrar hábitos cotidianos, especialmente em cidades grandes e restaurantes italianos, que se multiplicaram no país.

“O consumidor brasileiro entende muito mais de vinho agora do que há 20 anos”, disse.

Essa mudança cultural, para ele, abre espaço para novas estratégias comerciais.

“Hoje a compra de vinho é mais corriqueira, acontece muito pela internet e pelo WhatsApp. O consumidor já sabe comparar preços em tempo real com o que é praticado no exterior. Isso muda completamente o mercado.”

A evolução do paladar também acompanha transformações globais. Levy apontou que vinhos mais leves, jovens e com menor teor alcoólico têm atraído consumidores mais novos e com perfis distintos dos tradicionais colecionadores.

“As pessoas jovens não tomavam vinho há 20 anos. Hoje é mais normal, é um acompanhamento dentro da gastronomia”, disse.

Ao mesmo tempo, por outro lado, a pressão dos impostos e da logística mantém o desafio de posicionar o vinho premium como opção competitiva no mercado brasileiro.

“Nosso trabalho é fazer com que os preços fiquem relativamente parecidos com os internacionais, para que o consumidor tenha acesso a marcas ícones do mundo também no Brasil”, explicou.

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Daniel Buarque
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