Calor recorde? Fundos voltados para o clima têm US$ 33 bi para investir em 2023

Volume reflete capital levantado desde 2021 e ainda não utilizado por fundos dedicados a essa temática, segundo pesquisa de mercado da CTVC

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18 de Setembro, 2023 | 07:20 PM

Bloomberg Línea — Em um momento com recordes de calor que não se limitam ao sul ou norte da linha do Equador, fundos de investimento de capital de risco em tecnologia climática acumulam capital de forma constante, segundo dados da empresa de pesquisa de mercado CTVC (Climate Tech Venture Capital). Há novos US$ 33 bilhões em dry powder de fundos específicos para o clima arrecadados nos últimos três anos.

Dry powder em VC (Venture Capital) é um termo usado para se referir ao capital não investido ou não implantado que um fundo de capital de risco tem disponível para aportes em empresas. Assim, representa o dinheiro em caixa ou os fundos que estão prontos para serem investidos em startups.

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“Uma tendência particularmente encorajadora é o aumento de fundos especializados, em particular os que se enquadram na categoria de fundos menores do que US$ 50 milhões”, disse o Positive Ventures, fundo de venture capital para startups em estágio inicial - early stage - com sede em São Paulo, que está focado em problemas sociais e ambientais da América Latina.

Segundo o Positive Ventures, isso indica que os General Partners mais especializados e iniciantes - GPs são indivíduos ou entidades que fazem a gestão de um fundo de venture capital - estão se juntando com ímpeto à demanda climática.

O Positive Ventures, que fechou sua captação em 2023, foi um fundo brasileiro mencionado na publicação do CVTC. A mineradora brasileira Vale (VALE3), que em 2022 fechou a captação de seu fundo de R$ 200 milhões com a KTPL, também foi citada.

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Ao todo, desde janeiro de 2021, há US$ 121 bilhões de ativos privados sob gestão (AuM) voltados para o clima, distribuídos em 207 novos fundos de VC (Venture Capital), CVC (Corporate Venture Capital), growth, Infra e Private Equity.

“Seguindo algumas suposições padrão de implantação, esperamos que US$ 30 bilhões desses fundos de VC, growth e Private Equity já tenham sido investidos em empresas voltadas para o clima”, disse o CTVC.

Após excluir fundos de infraestrutura (US$ 34 bilhões) e retirar as taxas de gestão (US$ 24 bilhões), isso significa que há US$ 33 bilhões de dry powder prontos para serem investido em empresas que têm como tese a resolução de problemas climáticos.

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O CTVC estima que há US$ 13 bilhões de dry powder de capital de risco e US$ 20 bilhões para crescimento ou Private Equity de fundos fechados especializados em clima neste ano. Esses fundos investiram um total de US$ 30 bilhões desde o início de 2021, juntamente com fundos vintage anteriores e investidores gerais, para um total de quase US$ 100 bilhões investidos em tecnologia climática durante esse período.

Os fundos de VC fazem chamadas de capital para os investidores quando identificam oportunidades adequadas, mas mobilizar os LPs (Limited Partners) - como fundos de pensão, endowments, family offices - para levantar um novo fundo não é “de um dia para o outro”. Isso significa que os anúncios de fundos são um indicador com atraso do interesse no mercado.

Segundo o CTVC, os números de dry powder de 2023 ilustram um arrefecimento em relação ao auge de investimentos nos últimos anos no ambiente passado de baixas taxas de juros.

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Mesmo que investimentos climáticos tenham caído cerca de 40% no primeiro semestre deste ano no mundo, acompanhando a desaceleração do mercado em geral, ainda há muito dinheiro novo para investimentos climáticos e os fundos voltados para o tema acumulam capital de forma constante.

A empresa rastreou mais de 200 novos fundos de investimento em tecnologia climática desde janeiro de 2021, que estão criando novos estoques de capital para investir em empresas e projetos em crescimento.

A contagem exclui veículos de investimento anunciados antes de 2021 e fundos generalistas que apoiam empresas nesse espaço - o que tem acontecido cada vez mais. Em conversas com recentes com a Bloomberg Línea, fundos sem teses específicas reportaram que olham cada vez mais para climate tech, como é o caso da Kaszek.

Menos fundos que em 2021

Segundo o CTVC, o número de novos fundos para o clima é um pouco menor em 2023 (62 novos fundos em 2023 até o terceiro trimestre) - do que em todo 2021, e os tamanhos dos fundos são marginalmente menores, com ativos sob gestão anunciados 69% menores em relação a 2022 e 10% ante 2021.

A maioria do capital está concentrada em mega fundos, que gerem mais de US$ 500 milhões.

Esses fundos representam apenas 19% do total de 2023 em números, mas compõem cerca de 70% dos ativos sob gestão totais.

Esses mega fundos tendem a se concentrar em investimentos em energia limpa e infraestrutura, como o fechamento final do fundo de transição de energia de US$ 700 milhões da NGP, o primeiro fechamento de US$ 6,1 bilhões do Copenhagen Infrastructure Partners para seu fundo em energias renováveis e o fechamento final de US$ 1,5 bilhão da Just Climate para seu focado em empresas de growth stage com ativos pesados.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups