Bloomberg — Um token apoiado pela família Trump se aproxima de ser negociado abertamente em bolsas de valores, o que potencialmente desbloqueará ganhos substanciais para os primeiros investidores, enquanto levanta novas questões sobre governança e proteção contra especulação no crescente mercado de ativos digitais.
A World Liberty Financial, um projeto cofundado pelo presidente Donald Trump, seus filhos e aliados comerciais, iniciou um processo para permitir que seu principal token, denominado WLFI, seja listado em bolsas de criptomoedas.
O anúncio do último dia 4 de julho, compartilhado por Eric e Donald Jr., marcou o primeiro passo formal em direção à negociação pública após meses de antecipação.
No fórum existente que busca feedback no site da World Liberty, a maioria das mais de 400 respostas endossou a proposta. Não foi definida uma data para a conclusão do processo.
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Um porta-voz da World Liberty não quis comentar a proposta à Bloomberg News.
A WLFI foi revelada no ano passado como um token de governança “intransferível”, projetado para facilitar a votação da comunidade sobre a direção do projeto de finanças descentralizadas.
O comércio informal já começou em plataformas secundárias, como Whales.market e MEXC, em que o token mudou de mãos recentemente por 13 a 18 centavos - acima dos preços de venda iniciais de 1,5 e 5 centavos em rodadas separadas.
De acordo com o white paper do projeto que circulou em outubro de 2024, empresas afiliadas à família Trump e seus associados, incluindo Steven Witkoff - incorporador imobiliário e enviado dos EUA ao Oriente Médio - podem deter coletivamente cerca de um terço do suprimento de 100 bilhões de tokens da WLFI.
Com os preços atuais do mercado secundário, essas participações poderiam representar bilhões de dólares no papel, embora não esteja claro o valor que seria realizado no final.
“Acho que [o token] poderia atingir facilmente de US$ 2 a US$ 5 muito rapidamente”, disse Bruno Ver, um empresário e investidor de tokens da WLFI que mora principalmente em Dubai. Ver disse que planeja vender cerca de 10% de suas participações se o token atingir essa faixa de preço.
Se o preço do token subir para US$ 2, a participação das entidades afiliadas aos fundadores valeria cerca de US$ 60 bilhões em teoria, potencialmente tornando-o o empreendimento de cripto de Trump mais lucrativo - pelo menos no papel - até hoje.
As empresas de criptos já adicionaram cerca de US$ 620 milhões ao patrimônio líquido pessoal de Donald Trump nos últimos meses, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.
A Casa Branca disse que o presidente está isolado de seus negócios.
Trump colocou seus ativos em um trust controlado pela família - e não em um “blind trust” supervisionado de forma independente, veículo adotado por líderes anteriores para evitar conflitos de interesse.
A proposta atual desbloquearia uma parte dos tokens mantidos pelos “primeiros apoiadores”, um termo não claramente definido no documento.
De acordo com a proposta da World Liberty, os tokens restantes - incluindo aqueles detidos por fundadores, membros da equipe e assessores - estariam sujeitos a votações futuras e cronogramas de bloqueio mais longos.
Segundo o projeto, a estrutura tem como objetivo demonstrar o compromisso de longo prazo com o protocolo.
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Se aprovado, alguns desses tokens poderiam se tornar negociáveis, embora as vendas possam continuar atrasadas.
É provável que a proposta seja discutida, com votação a seguir por meio da plataforma Snapshot, antes que a mudança entre em vigor, de acordo com Vincent Deriu, que administra um popular grupo Discord para a comunidade World Liberty. Ele prevê que o processo pode se estender até agosto, ou até mais.
Outros compradores iniciais do token podem se beneficiar.
Um investidor da WLFI, Morten Christensen, disse que planeja vender todas as suas participações se o preço subir acima de US$ 2. Ele já havia investido na memecoin de Trump, que inicialmente subiu de valor antes de despencar em poucos dias.
“Muitos investidores inevitavelmente compararão isso com a memecoin de Trump, que subiu para US$ 80 em sua primeira semana”, disse Christensen. “Essa corrida histórica provavelmente servirá como referência para as expectativas iniciais de preço.”
O criador do mercado de criptografia DWF Labs adquiriu uma grande carteira de tokens WLFI. O empresário chinês Justin Sun também se descreveu como um investidor na World Liberty. Nem Sun nem DWF responderam aos pedidos de comentários.
A World Liberty Financial ainda não lançou vários de seus recursos anunciados anteriormente, incluindo produtos de empréstimo. No início deste ano, lançou uma stablecoin, USD1, que tem um valor de mercado de US$ 2,2 bilhões e foi usada pela MGX para comprar uma participação na Binance.
Permitir que o token seja negociado em bolsas pode trazer, por outro lado, riscos para os primeiros detentores.
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“Muitos tokens com uma grande alocação de fundadores e investidores tiveram quedas de 50% em um período de vários anos”, disse Lex Sokolin, managing partner da Generative Ventures.
A World Liberty é apenas um dos muitos projetos de criptos afiliados a Trump e sua família, incluindo memecoins, NFTs e um empreendimento de mineração.
Trump, que se aproximou do setor durante sua campanha eleitoral em 2024, nomeou chefes de agências favoráveis a essa indústria, enquanto o Senado dos EUA aprovou recentemente uma legislação que estabelece a regulamentação de stablecoins.
A Securities and Exchange Commission (equivalente americana à brasileira Comissão de Valores Mobiliários), sob o comando de Trump, também adotou uma postura regulatória mais permissiva em relação aos ativos digitais.
“O que isso sinaliza para mim é que a WLFI não vê mais que tem algo a temer da SEC”, disse Hilary Allen, cética de longa data em relação às criptomoedas e professora de direito da Washington College of Law da American University.
-- Com a colaboração de Tom Maloney.
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