Bloomberg Línea — Líder global em alumínio, a multinacional norueguesa Norsk Hydro tem no Brasil sua principal operação, com esse mercado responsável por 40% do faturamento em 2024, segundo Anderson Baranov, CEO da companhia no país.
Para os próximos anos, a meta é crescer – mas sem expandir a operação. “Estamos hoje no topo da nossa capacidade e não vamos aumentá-la. O foco é manter o padrão, mas avançar para que ela seja cada vez mais limpa, eficiente e conectada”, afirmou Baranov em entrevista à Bloomberg Línea.
A Hydro tem uma atuação que engloba toda a cadeia do alumínio, passando por mineração da bauxita, refino da alumina e produção de alumínio primário – além de extrusões e reciclagem.
O Brasil é o maior fornecedor de matéria-prima para a Noruega e a Europa, com uma operação robusta no estado do Pará, que vai da mineração à produção – 93% dos funcionários da companhia no país estão alocados no estado, que conta ainda com a maior refinaria de alumina do mundo fora da China.
No mês em que Belém, a capital do Pará, recebe a COP30, a Hydro tem a ambição de se posicionar como protagonista da transição energética na indústria de metais.
A companhia conta com investimentos de R$ 12,6 bilhões desde 2022 em uma matriz energética mais limpa e soluções de baixo carbono.
Os investimentos incluem a substituição de óleo combustível por gás natural e a instalação de caldeiras elétricas em sua refinaria, a Alunorte.
Atualmente, das nove caldeiras da Alunorte, seis são a gás, três, elétricas, e outras três, a carvão. A companhia tem utilizado biomassa de caroço de açaí misturada ao carvão para diminuir o impacto ambiental das caldeiras – a meta é eliminar completamente o uso do carvão até 2030.
O investimento engloba ainda a produção de energia renovável, com a construção de usinas solares em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte, além do parque eólico Vento de São Zacarias, na divisa entre os estados do Piauí e Pernambuco.
Ambos devem contribuir para abastecer as operações de alumínio da Hydro com energia renovável e ajudar a atingir as metas globais de descarbonização da empresa.
“Nós temos a maior entrega de descarbonização da COP e logicamente não para aqui. Temos a meta de descarbonizar 100% da operação até 2050″, afirmou o CEO.
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O reforço do posicionamento sustentável ocorre em momento de questionamento dos critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês), especialmente nos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump.
Baranov classifica o movimento como passageiro e disse que a empresa enxerga a sustentabilidade como um diferencial competitivo, especialmente na Europa, berço da Hydro, e entre os clientes.
“As empresas que não tiverem essa preocupação com o clima, com o meio ambiente e com as pessoas, vão naturalmente estar fora do mercado em alguns anos. Os próprios clientes – as montadoras, as empresas de aviação – exigem certificados ou padrões que mostrem essa preocupação quando compram o alumínio", afirmou.
Os próximos passos envolvem a entrada da Hydro na produção de um novo mineral: o ferro. A companhia firmou uma parceria com a Wave Aluminium para a construção de uma planta semi-industrial na Alunorte, capaz de transformar resíduos de bauxita em ferro metálico de baixo carbono.
A planta da New Wave deve ser finalizada em 2026, e a expectativa inicial é a de processamento de 50.000 toneladas de resíduo de bauxita por ano. O objetivo é expandir a capacidade para um montante entre 2 milhões e 4 milhões de toneladas de resíduos a cada ano.
O projeto vai de encontro à meta global da Hydro de atingir 10% de utilização dos resíduos de bauxita gerados até 2030 e eliminar a necessidade de novos armazenamentos permanentes de resíduos de bauxita até 2050.
A companhia tem ainda uma meta de reflorestamento, em que para cada hectare minerado, outro é reflorestado em até dois anos após a lavra.
A mina de Paragominas, no Pará, foi a primeira da empresa a adotar a estratégia de utilizar resíduos que seriam incinerados como adubo para as estratégias de reflorestamento.
Sustentabilidade como desafio
O maior desafio da Hydro em sua operação brasileira ocorreu em fevereiro de 2018, quando fortes chuvas inundaram a área da refinaria Alunorte, levando a uma série de denúncias de vazamento de lama vermelha com rejeitos de bauxita.
O Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, identificou vazamentos de rejeitos tóxicos nos rios de Barcarena, cidade onde está localizada a refinaria.
A Hydro nega a existência de vazamentos ou transbordamentos dos depósitos de resíduos de bauxita da Alunorte. Mas reconheceu, em nota divulgada à época, que uma tubulação clandestina despejava efluentes não tratados no rio.
As acusações levaram a uma CPI na Assembleia Legislativa do Pará e a um termo de ajustamento de conduta de R$ 150 milhões firmado com o Ministério Público em 2018.
Anos depois, em 2021, a Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama) levou o caso ao Tribunal de Roterdã, na Holanda, alegando danos ambientais e à saúde desde 2002.
A justiça holandesa julgou a ação improcedente em setembro deste ano por “motivos legais e factuais”. Segundo Baranov, a decisão comprova que a empresa vinha sendo injustamente tratada como vilã no caso.
Houve denúncias de transbordamento de lama anterior, em 2009, quando a operação ainda estava sob responsabilidade da Vale – a Hydro comprou em 2011 os ativos da concorrente na cadeia de alumínio. A Vale, por sua vez, esteve envolvida em dois grandes desastres de rompimento de barragens em Minas Gerais: em Marina, em 2015, e em Brumadinho, em 2019.
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Questionado sobre o desafio de inserir a sustentabilidade na mineração após os casos emblemáticos de desastres no Brasil, o CEO da Hydro no país afirmou que é preciso tirar lições para evitar que voltem a acontecer.
“A mineração aprendeu muito. Acredito que não tem nenhuma indústria hoje tão avançada quanto a mineração em meio ambiente, projetos sociais e preocupação com o futuro”, disse Baranov.
Nesse contexto, a COP30 funcionaria também como vitrine para mostrar iniciativas adotadas pelo setor. Um dos principais exemplos vem da Coalizão Minerais Essenciais, que reúne 14 entidades e empresas do setor e apresentou, no início de outubro, um estudo com alternativas para reduzir em até 90% as emissões de carbono da mineração até 2050.
“Estamos no centro da discussão sobre terras raras e metais essenciais. O mundo inteiro enxergou esse potencial no Brasil. Portanto, a COP é muito importante para que a indústria possa mostrar seus avanços, dilemas e também oportunidades.”
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