Financiar emergentes é fundamental para transição climática, dizem líderes do PRI

Lizeth Palencia, head para América Latina, e Marcelo Seraphim, head para o Brasil, dizem em entrevista à Bloomberg Línea que os países da região não terão como cumprir suas metas de sustentabilidade sem crédito em áreas como energia limpa

Turbinas eólicas da Casa dos Ventos
17 de Novembro, 2025 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — Um dos grandes impasses sobre a estratégia global de financiamento climático é a decisão sobre quem deve pagar a conta.

Os países desenvolvidos têm sido “provocados” a financiar a transição nos emergentes desde o Acordo de Paris, há uma década, e a meta atual de US$ 300 bilhões anuais repassados até 2035 aos que estão em desenvolvimento é considerada insuficiente por boa parte das nações afetadas.

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Esse é o ponto-chave das discussões climáticas na avaliação de Lizeth Palencia, head para América Latina do PRI (Principles for Responsible Investment), organização global apoiada pela ONU com objetivo de implementar soluções para investimentos responsáveis.

“Para poder alcançar precisamente a transição, é preciso, sobretudo, financiamento para mercados emergentes. Se, sozinhas, as nações não conseguem construir instrumentos para se financiar, não conseguem cumprir seus compromissos climáticos”, afirmou Palencia em entrevista à Bloomberg Línea.

Marcelo Seraphim, head do PRI no Brasil reforça que o descompasso de investimentos sustentáveis na região abrange diversas cadeias.

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“De US$ 3 trilhões gastos em geração de energia, só US$ 260 bilhões são investidos em energia limpa nos países emergentes, por exemplo. É uma diferença muito grande”, afirmou na mesma entrevista.

Os dados são da Agência Internacional de Energia (IEA), que estima o investimento anual em energia limpa em mercados emergentes e economias em desenvolvimento (excluindo a China).

Nos cálculos da agência, o montante de US$ 260 bilhões estimado em 2022 precisaria aumentar para algo entre US$ 1,4 trilhão e US$ 1,9 trilhão até o início dos anos 2030.

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Palencia disse avaliar que boa parte dos esforços precisa se concentrar na área da agropecuária, que chega a responder por pouco mais da metade das emissões do Brasil e de outros países da região.

“Se os países não conseguem construir instrumentos para iniciativas que financiem a transição [nesses temas-chave], eles simplesmente não vão conseguir cumprir com seus compromissos climáticos”, reiterou.

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Além do financiamento externo de outros países, a diretora do PRI estima que o sucesso do financiamento depende de iniciativas de blended finance, que agregam capital público, filantrópico e privado.

A Rede de Fundos Ambientais da América Latina e do Caribe (RedLAC) reúne algumas dessas iniciativas, com 32 fundos que, juntos, administram US$ 720 milhões em fundos patrimoniais (endowment funds) e outros US$ 860 milhões em fundos de investimento tradicionais.

O projeto mais ambicioso lançado na região é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), proposto pelo Brasil e uma das principais apostas do governo para a COP30.

O TFFF é uma iniciativa de blended finance, que busca atrair investimentos públicos e privados para preservação das florestas tropicais.

A Amazônica é o grande chamariz do produto, mas seu investimento deve ser revertido globalmente, para todos os países que tiverem o bioma.

O fundo foi lançado durante a Cúpula dos Líderes e já soma US$ 5,5 bilhões em recursos de países como Brasil, Indonésia, Noruega, França e Portugal – a meta é alcançar até US$ 10 bilhões até 2026, na esteira da COP30.

A Conferência das Partes (COP30), encontro anual da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas é o principal debate do ano para o setor e ocorre até o dia 21 de novembro em Belém, no Pará.

“Acredito que a agenda climática no Brasil enfatiza a necessidade de poder mobilizar muito mais capital para essas regiões e efetivamente como fazer o financiamento acontecer”, afirmou Palencia.

A COP30 vem sendo acompanhada no Brasil por diversos eventos paralelos de mobilização do setor privado, entre eles o PRI in Person, realizado antes da conferência.

“O Brasil tem o potencial de se tornar um hub para o financiamento climático global e soluções de natureza. Compartilhar essa experiência é o que temos feito nesses eventos, e o resultado têm sido muito bom”, completou Seraphim.

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