Do Brasil às Ilhas Marshall: estes são os protagonistas das negociações da COP30

Sem a presença do governo dos EUA, encontro de delegados de quase 200 países pode ter como personagens centrais representantes de diferentes partes do mundo, já que todos os participantes têm voto igual

Sem a presença do governo dos EUA, encontro de delegados de quase 200 países pode ter como personagens centrais representantes de diferentes partes do mundo, já que todos os participantes têm voto igual
Por John Ainger - Daniel Carvalho - Alfred Cang - Akshat Rathi
11 de Novembro, 2025 | 10:13 AM

Bloomberg — Delegados de quase 200 países se reúnem na cidade amazônica de Belém, no Pará, para a conferência do clima COP30 das Nações Unidas, que vai até 21 de novembro.

O processo da COP garante a todos os países, desde os menores Estados insulares até as superpotências, um voto igualitário e permite que qualquer um deles vete propostas.

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Mas isso não significa que todos tenham a mesma influência. Diplomatas experientes nas questões do clima, especialmente aqueles de países ou blocos-chave, podem estimular o ímpeto e construir coalizões em torno de resultados favoráveis.

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As deliberações nas COPs geralmente se dividem em duas partes: durante a primeira semana, os negociadores-chefes, imersos em políticas técnicas, buscam acertar possíveis acordos. Na segunda semana, quando a política ganha destaque, ministros de alto escalão do governo assumem um papel mais proeminente.

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Notavelmente ausentes estão representantes dos Estados Unidos, após o governo Trump se recusar a enviar autoridades de alto nível ao Brasil. O vácuo criado pela ausência da maior economia do mundo e do segundo maior emissor de gases de efeito estufa pode afetar a dinâmica de formas imprevisíveis.

Conheça alguns dos prováveis protagonistas da conferência.

Brasil: Mauricio Lyrio, Liliam Chagas

Mauricio Lyrio é secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e lidera a delegação brasileira na COP30.

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Diplomata de carreira e ex-embaixador na Austrália e no México, ele traz ampla experiência em comércio, finanças e diplomacia multilateral, inclusive no papel chamado de “sherpa” do Brasil — representante pessoal do chefe de Estado — nos fóruns do G20 e do BRICS.

Já a diretora do departamento de clima do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Chagas é a principal negociadora climática do país desde a COP28 em Dubai.

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Na preparação para a COP30, ela tem orientado as posições do Brasil sobre mitigação, adaptação, financiamento, florestas, equidade e gênero, e tem enfatizado que Belém deveria ser um ponto de partida para a próxima década de ações.

China: Li Gao

Nascido em 1969, Li Gao tem duas décadas de experiência em negociações globais sobre mudanças climáticas.

Embora seja considerado há muito tempo a espinha dorsal da equipe chinesa, fluente em inglês e formado pelas universidades de Tsinghua e Yale, será o rosto público da delegação chinesa pela primeira vez na COP30.

Li, um dos principais arquitetos do programa de créditos de carbono da China, foi promovido no início deste ano a vice-ministro do Ministério da Ecologia e do Meio Ambiente.

Ele liderou a delegação chinesa na reunião pré-COP no Brasil, no mês passado, na qual a China — maior emissora mundial e maior fabricante de tecnologias e equipamentos verdes — pediu à comunidade internacional que resistisse ao crescente unilateralismo e protecionismo, fatores que ameaçam aumentar o custo da transição para energia limpa.

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UE: Wopke Hoekstra

Esta será a terceira COP de Hoekstra como chefe do clima da UE, e ele chega à COP30 aliviado por o bloco de 27 membros ter apresentado seu compromisso atualizado de redução de emissões com apenas alguns dias de antecedência.

O ex-ministro das Finanças holandês — e sócio da consultoria McKinsey — tem um olhar atento aos detalhes e é um crítico ferrenho da China. Ele criticou duramente o compromisso climático de Pequim por não ser ambicioso o suficiente, ao mesmo tempo que salientou que a UE é agora responsável por apenas cerca de 5% das emissões globais.

Índia: Bhupender Yadav, Amandeep Garg

Como o país mais populoso do mundo e o terceiro maior emissor, a Índia quase sempre exerce grande influência nas negociações da COP.

No último minuto da COP26 em Glasgow, por exemplo, o país forçou uma mudança na terminologia de “eliminar gradualmente” para o termo “reduzir gradualmente” o uso do carvão.

Já na COP29, após os negociadores fecharem um acordo arduamente conquistado sobre financiamento climático para garantir US$ 300 bilhões até 2035, a principal negociadora da Índia, Chandni Raina, o descartou como uma “ilusão de ótica,” e o país decidiu mais tarde não elevar suas próprias metas climáticas como resultado.

Yadav é ministro do Meio Ambiente desde 2021, embora só chegue a Belém na segunda semana de negociações da COP30. Até lá, o negociador-chefe Amandeep Garg assumirá a função.

Arábia Saudita: Mohammad Ayoub

A Índia e a Arábia Saudita já uniram forças para bloquear países que defendem medidas mais incisivas para reduzir as emissões na economia global, e podem se sentir encorajadas pelos ataques de Trump às políticas verdes.

A Arábia Saudita frequentemente rejeita qualquer acordo que vise setores específicos, incluindo os combustíveis fósseis. Vale observar Mohammad Ayoub, delegado que, no domingo à noite, protestou contra a inclusão de um item na agenda sobre como responder ao provável excedente do limite de 1,5°C no aquecimento global.

Quênia: Ali Mohamed

Em meio à incerteza sobre se os EUA tentarão pressionar os países a bloquear um acordo da COP30, a resistência pode vir do presidente do Grupo Africano de Negociadores do ano passado: Ali Mohamed.

O Quênia tem se destacado como uma força progressista nas negociações climáticas internacionais ao sediar a Cúpula Africana do Clima e conversas globais sobre plásticos, além de levantar a questão de novas taxas sobre transações financeiras e preços de passagens aéreas para ajudar a gerar fundos para as nações em desenvolvimento.

Ilhas Marshall: Tina Stege

Desde 2018, Stege é enviada especial para o clima das Ilhas Marshall e, embora fale com suavidade, é uma das vozes mais influentes daqueles que estão na linha de frente do combate às mudanças climáticas.

Seu país é a força motriz por trás da chamada Coalizão de Alta Ambição, um grupo de países líderes em questões climáticas que preparou o terreno para o Acordo de Paris.

Diferentemente do que ocorre em muitas reuniões internacionais, nas COPs, os pequenos estados insulares são atores-chave. Este ano, eles devem pressionar fortemente por uma resposta robusta à análise da ONU sobre as promessas climáticas, que demonstra que o mundo ainda está muito longe da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1,5°C.

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