Bloomberg — Delegados de quase 200 países se reúnem na cidade amazônica de Belém, no Pará, para a conferência do clima COP30 das Nações Unidas, que vai até 21 de novembro.
O processo da COP garante a todos os países, desde os menores Estados insulares até as superpotências, um voto igualitário e permite que qualquer um deles vete propostas.
Mas isso não significa que todos tenham a mesma influência. Diplomatas experientes nas questões do clima, especialmente aqueles de países ou blocos-chave, podem estimular o ímpeto e construir coalizões em torno de resultados favoráveis.
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As deliberações nas COPs geralmente se dividem em duas partes: durante a primeira semana, os negociadores-chefes, imersos em políticas técnicas, buscam acertar possíveis acordos. Na segunda semana, quando a política ganha destaque, ministros de alto escalão do governo assumem um papel mais proeminente.
Notavelmente ausentes estão representantes dos Estados Unidos, após o governo Trump se recusar a enviar autoridades de alto nível ao Brasil. O vácuo criado pela ausência da maior economia do mundo e do segundo maior emissor de gases de efeito estufa pode afetar a dinâmica de formas imprevisíveis.
Conheça alguns dos prováveis protagonistas da conferência.
Brasil: Mauricio Lyrio, Liliam Chagas
Mauricio Lyrio é secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e lidera a delegação brasileira na COP30.
Diplomata de carreira e ex-embaixador na Austrália e no México, ele traz ampla experiência em comércio, finanças e diplomacia multilateral, inclusive no papel chamado de “sherpa” do Brasil — representante pessoal do chefe de Estado — nos fóruns do G20 e do BRICS.
Já a diretora do departamento de clima do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Chagas é a principal negociadora climática do país desde a COP28 em Dubai.
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Na preparação para a COP30, ela tem orientado as posições do Brasil sobre mitigação, adaptação, financiamento, florestas, equidade e gênero, e tem enfatizado que Belém deveria ser um ponto de partida para a próxima década de ações.
China: Li Gao
Nascido em 1969, Li Gao tem duas décadas de experiência em negociações globais sobre mudanças climáticas.
Embora seja considerado há muito tempo a espinha dorsal da equipe chinesa, fluente em inglês e formado pelas universidades de Tsinghua e Yale, será o rosto público da delegação chinesa pela primeira vez na COP30.
Li, um dos principais arquitetos do programa de créditos de carbono da China, foi promovido no início deste ano a vice-ministro do Ministério da Ecologia e do Meio Ambiente.
Ele liderou a delegação chinesa na reunião pré-COP no Brasil, no mês passado, na qual a China — maior emissora mundial e maior fabricante de tecnologias e equipamentos verdes — pediu à comunidade internacional que resistisse ao crescente unilateralismo e protecionismo, fatores que ameaçam aumentar o custo da transição para energia limpa.
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UE: Wopke Hoekstra
Esta será a terceira COP de Hoekstra como chefe do clima da UE, e ele chega à COP30 aliviado por o bloco de 27 membros ter apresentado seu compromisso atualizado de redução de emissões com apenas alguns dias de antecedência.
O ex-ministro das Finanças holandês — e sócio da consultoria McKinsey — tem um olhar atento aos detalhes e é um crítico ferrenho da China. Ele criticou duramente o compromisso climático de Pequim por não ser ambicioso o suficiente, ao mesmo tempo que salientou que a UE é agora responsável por apenas cerca de 5% das emissões globais.
Índia: Bhupender Yadav, Amandeep Garg
Como o país mais populoso do mundo e o terceiro maior emissor, a Índia quase sempre exerce grande influência nas negociações da COP.
No último minuto da COP26 em Glasgow, por exemplo, o país forçou uma mudança na terminologia de “eliminar gradualmente” para o termo “reduzir gradualmente” o uso do carvão.
Já na COP29, após os negociadores fecharem um acordo arduamente conquistado sobre financiamento climático para garantir US$ 300 bilhões até 2035, a principal negociadora da Índia, Chandni Raina, o descartou como uma “ilusão de ótica,” e o país decidiu mais tarde não elevar suas próprias metas climáticas como resultado.
Yadav é ministro do Meio Ambiente desde 2021, embora só chegue a Belém na segunda semana de negociações da COP30. Até lá, o negociador-chefe Amandeep Garg assumirá a função.
Arábia Saudita: Mohammad Ayoub
A Índia e a Arábia Saudita já uniram forças para bloquear países que defendem medidas mais incisivas para reduzir as emissões na economia global, e podem se sentir encorajadas pelos ataques de Trump às políticas verdes.
A Arábia Saudita frequentemente rejeita qualquer acordo que vise setores específicos, incluindo os combustíveis fósseis. Vale observar Mohammad Ayoub, delegado que, no domingo à noite, protestou contra a inclusão de um item na agenda sobre como responder ao provável excedente do limite de 1,5°C no aquecimento global.
Quênia: Ali Mohamed
Em meio à incerteza sobre se os EUA tentarão pressionar os países a bloquear um acordo da COP30, a resistência pode vir do presidente do Grupo Africano de Negociadores do ano passado: Ali Mohamed.
O Quênia tem se destacado como uma força progressista nas negociações climáticas internacionais ao sediar a Cúpula Africana do Clima e conversas globais sobre plásticos, além de levantar a questão de novas taxas sobre transações financeiras e preços de passagens aéreas para ajudar a gerar fundos para as nações em desenvolvimento.
Ilhas Marshall: Tina Stege
Desde 2018, Stege é enviada especial para o clima das Ilhas Marshall e, embora fale com suavidade, é uma das vozes mais influentes daqueles que estão na linha de frente do combate às mudanças climáticas.
Seu país é a força motriz por trás da chamada Coalizão de Alta Ambição, um grupo de países líderes em questões climáticas que preparou o terreno para o Acordo de Paris.
Diferentemente do que ocorre em muitas reuniões internacionais, nas COPs, os pequenos estados insulares são atores-chave. Este ano, eles devem pressionar fortemente por uma resposta robusta à análise da ONU sobre as promessas climáticas, que demonstra que o mundo ainda está muito longe da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1,5°C.
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