Para bancos, ata do Copom sinaliza fim do aumento da Selic, mas incertezas pesam

Para economistas, tom de flexibilidade adotado por diretores do BC e ênfase na dependência de dados sugere que o ciclo do aperto monetário pode ter chegado ao fim

Oficina del Banco Central de Brasil
13 de Maio, 2025 | 06:08 PM

Bloomberg Línea — A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (13), reforçou entre economistas a percepção de que o Banco Central sinalizou o encerramento do atual ciclo de alta da Selic.

O documento, que detalha os motivos que levaram o comitê a elevar a taxa básica de juros para 14,75% ao ano, foi interpretado pela equipe dos principais bancos como uma sinalização de estabilidade à frente — ainda que cercada por incertezas internas e externas.

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Para o Bank of America, a ata reforça o entendimento de que o ciclo de aperto monetário chegou ao fim, segundo avaliação da equipe liderada por David Beker, economista-chefe para Brasil. O relatório do banco destaca o tom de flexibilidade adotado pelo BC, com ênfase na dependência de dados e nos efeitos defasados da política monetária.

O BofA avalia que a economia brasileira já começou a mostrar sinais de desaceleração, inclusive no mercado de trabalho e no crédito, e projeta uma taxa Selic de 14,25% ao final de 2025, com recuo para 11,25% em 2026.

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Análise semelhante foi feita pelo Itaú Unibanco, sob liderança de Mario Mesquita, economista-chefe da instituição. Para o banco, a autoridade monetária parece bastante convencida de que a política está suficientemente contracionista.

A ata sinalizaria uma “barra alta” para novos aumentos e fortalece a aposta de que a Selic permanecerá estável até o fim do ano. O relatório também aponta que o Copom minimiza os efeitos inflacionários do novo crédito consignado e estima que a inflação projetada com a Selic atual seria de 3,3% — valor próximo da meta.

O Santander, cuja análise é assinada pelo economista Marco Antonio Caruso, vê os parágrafos da ata como uma confirmação de que o ciclo de alta terminou. Segundo Caruso, o documento reforça que os canais de transmissão da política monetária já estão funcionando — com efeitos visíveis sobre crédito, câmbio, atividade e até mesmo o mercado de trabalho.

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A equipe também observa que os impactos ainda devem se aprofundar nos próximos trimestres. Ainda assim, o banco alerta para incertezas, especialmente quanto à simetria do balanço de riscos inflacionários.

No Citi, a leitura da equipe de economia, liderada por Leonardo Porto, é de que a ata manteve um tom conservador diante de um ambiente externo “adverso e particularmente incerto”, agravado pelas novas políticas comerciais dos Estados Unidos.

Internamente, o Citi destaca o desconforto do Copom com a inflação persistentemente acima da meta, expectativas desancoradas, atividade econômica resiliente e mercado de trabalho aquecido. Para o banco, o cenário ainda exige cautela por parte do BC.

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Já o Goldman Sachs, sob liderança de Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina, destacou os sinais de inflexão já visíveis na atividade, crédito e mercado de trabalho. No entanto, o relatório enfatiza que o cenário de inflação de curto prazo segue desafiador, com riscos ainda elevados.

Diante disso, o banco mantém em seu cenário base a expectativa de um último aumento de 0,25 ponto percentual na reunião de junho, especialmente após as surpresas altistas do IPCA e os desdobramentos da nova rodada de tarifas comerciais dos EUA.

Em síntese, os bancos veem o Copom reconhecendo que o aperto monetário já começa a surtir efeito sobre a economia real, e optando por uma postura mais vigilante e flexível.

Ainda assim, o comitê deixa claro que será necessário manter a política significativamente contracionista por um período prolongado, diante de um ambiente que continua pressionado por expectativas inflacionárias desancoradas, incertezas fiscais e riscos globais relevantes.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.