Moody’s rebaixa perspectiva do Brasil para ‘estável’ e cita rigidez do gasto público

Agência de classificação de risco diz que a revisão reflete uma desaceleração no avanço das medidas para fortalecer a credibilidade da política fiscal

O Palácio do Planalto em Brasília
30 de Maio, 2025 | 07:08 PM

Bloomberg — A Moody’s Ratings mudou a perspectiva da nota de crédito do Brasil de “positiva” para “estável”, mantendo o rating soberano em Ba1, um nível abaixo do grau de investimento.

A decisão da agência de classificação de risco marca uma virada no ciclo iniciado em maio de 2024, quando a perspectiva havia sido elevada com base em expectativas de continuidade de reformas e crescimento robusto. Em outubro de 2024, a agência elevou a nota do Brasil de Ba2 para Ba1, e manteve a perspectiva positiva.

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Segundo o comunicado da empresa, a revisão reflete uma deterioração relevante nos riscos de crédito e uma desaceleração no avanço das medidas para conter a rigidez dos gastos públicos e fortalecer a credibilidade da política fiscal.

“A capacidade do governo de reduzir materialmente as vulnerabilidades fiscais e estabilizar a dívida no curto prazo permanece limitada pela rigidez dos gastos e pelo aumento dos custos de financiamento“, informou a Moody’s na decisão divulgada nesta sexta-feira (30) após o fechamento do mercado.

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A agência afirmou que, apesar da continuidade das reformas econômicas e do potencial de crescimento e investimento, os riscos de crédito agora são considerados mais equilibrados para o patamar da nota de crédito Ba1.

“A mudança na perspectiva para estável reflete uma diminuição dos riscos de crédito positivos diante de uma deterioração pronunciada na capacidade de pagamento da dívida”, acrescentou o relatório.

A Moody’s destacou que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos três anos permaneceu sólido, próximo a 3%, mas alertou para o impacto do aumento das taxas de juros sobre a estrutura da dívida brasileira.

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A expectativa agora é de que a dívida pública estabilize em torno de 88% do PIB nos próximos cinco anos, acima da projeção de 82% feita em outubro de 2024. A relação entre pagamento de juros e receita deve alcançar cerca de 21% em 2025, contra 15% em 2023.

A manutenção da nota Ba1 levou em conta o tamanho e a diversificação da economia brasileira, bem como sua resiliência a choques externos, segundo a Moody’s.

A agência afirmou que a classificação poderá ser revista para cima caso haja avanço significativo em reformas estruturais que reduzam vinculações orçamentárias e a indexação de benefícios sociais ao salário mínimo.

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Por outro lado, a Moody’s alertou que uma reversão dos esforços de consolidação fiscal ou sinais de desaceleração mais acentuada da atividade econômica podem resultar em nova deterioração da nota.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.