Bloomberg — O mercado financeiro vai sem consenso para a reunião do Copom desta semana, com apostas divididas entre a manutenção da Selic em 14,75% ou uma elevação adicional de 0,25 ponto percentual.
A maioria dos analistas avalia que o Banco Central adotará uma postura de cautela, sinalizando a manutenção do juro alto por período prolongado.
A divisão está refletida tanto na curva de juros — que projeta cerca de 15 pontos percentuais de alta da Selic, ou apenas uma pequena chance maior de aumento — , como na pesquisa da Bloomberg com economistas. Grandes bancos como Itaú, Bradesco e JPMorgan esperam taxa estável, enquanto Goldman Sachs, Santander Brasil e BTG Pactual estão entre os que preveem alta adicional.
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A falta de consenso também corresponde ao discurso mais recente do presidente do BC, Gabriel Galípolo, de que o Copom iria para a reunião com as opções em aberto. O comentário calibrou a pressão na curva provocada pela comentário do início do mês, quando afirmou que a atividade econômica estava surpreendentemente resiliente e o BC ainda estava discutindo o ciclo de alta.
Uma nova alta de juros seria justificada pelas expectativas de inflação ainda fora da meta, a atividade econômica firme e desemprego baixo, segundo economistas. O impacto do conflito entre Israel e Irã sobre o petróleo é citado como fator adicional de incerteza.
Quem prevê manutenção aponta para o patamar já restritivo dos juros, a inflação mais recente abaixo do esperado e o alívio do câmbio, beneficiado pelos juros internos elevados e o enfraquecimento global do dólar. Mesmo diante do conflito no Oriente Médio, a moeda ronda patamar pouco abaixo de R$ 5,50, significativamente menor do que o nível de R$ 5,75 visto na reunião anterior.
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Veja o que dizem os analistas:
Mario Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú
- Projeta fim do ciclo de alta, com manutenção da Selic em 14,75%
- “Esperamos que o comitê reforce o compromisso com a convergência da inflação à meta, seguindo a estratégia de permanecer com a taxa de juros em patamar contracionista por período prolongado e sinalizando que não hesitará em retomar o ciclo de alta, caso o cenário prospectivo de inflação se deteriore”
- “Projetamos início da flexibilização apenas em 2026”
Cassiana Fernandez e economistas do JPMorgan
- Prevê que o BC deve manter a taxa Selic em 14,75%, reforçando o tom cauteloso diante das incertezas no cenário inflacionário, com projeção acima da meta para 2026
- Comunicação deve enfatizar a duração do nível restritivo e definir a manutenção como pausa, em vez de fim do ciclo, para melhor observar o desenrolar do cenário, que é muito incerto
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- BC deve elevar a Selic uma última vez, para 15%, mas há uma possibilidade de 45% de manutenção em 14,75%
- BC vê o juro em um nível significativamente restritivo, mas Copom deve ser sensível ao cenário macro e ao desafio de levar inflação para meta
- “Compromisso de manter o juro inalterado por período prolongado é um substituto fraco de uma ação em junho”
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco
- Expectativa é de manutenção da taxa de juros em 14,75%
- Política monetária encontra-se em terreno restritivo e há defasagens importantes entre a elevação de juros ocorrida desde o final do ano passado e os efeitos na atividade e nos preços
- Ambiente global segue positivo para os emergentes diante da fraqueza do dólar
Iana Ferrão, analista do BTG Pactual
- Espera alta adicional de 0,25pp, com a Selic em 15% até o fim de 2025
- Comunicação anterior deixou a decisão em aberto e condicionada à evolução dos dados; desde então, indicadores divulgados apontaram atividade resiliente e inflação de serviços ainda elevada, em um contexto de expectativas desancoradas
- Comunicação deve manter foco em cautela e flexibilidade, evitando a adoção de forward guidance, e preservando margem para eventual reavaliação da calibragem, conforme a evolução dos dados
- Recrudescimento do conflito geopolítico entre Israel e Irã amplia o grau de incerteza sobre os preços de energia
Caio Megale e economistas da XP
- Esperam manutenção da Selic, já que fluxo de dados e notícias econômicas desde a última reunião do Copom foi ambíguo
- Por um lado, a atividade permaneceu aquecida, as expectativas inflacionárias seguem desancoradas e os preços do petróleo subiram; por outro, inflação veio melhor do que o esperado e o real se valorizou
- Membros do Copom transmitiram sinais mistos nas últimas semanas
André Carvalho, gestor de macro da Principal Asset Management
- Pareceria “muito barulho por nada” o BC ter corrigido no início do mês a rota do mercado, que tinha abandonado as apostas em alta, e agora manter a Selic
- Deve deixar em aberto os próximos passos
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital
- Selic deve ser elevada em 0,25pp, encerrando o ciclo de aperto
- Vê decisão unânime com o comunicado explicitando o fim do ciclo e reforçando a estratégia de manter juros elevados por período prolongado
Daniel Xavier, economista-chefe do Banco ABC Brasil
- Copom deve entregar +0,25pp e sinalizar manutenção por período prolongado, visando a convergência à meta
- “Pay-off, em termos de credibilidade, nos parece compensatório para os membros do Copom”
Ales Koutny, head de International Rates da Vanguard
- BC deve manter taxa em 14,75%, mas com tom hawkish
- BC deve tentar colocar que o crescimento econômico continua surpreendendo positivamente, taxa de desemprego está em níveis baixos e a inflação deu uma melhorada, mas ainda está acima da meta
Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1
- Principal argumento a favor de um aperto adicional da política monetária é que a atividade econômica no primeiro semestre tem sido mais forte do que o Banco Central esperava
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