Manutenção dos juros ou alta de 0,25 ponto percentual? Mercado chega dividido ao Copom

A maioria dos analistas avalia que o Banco Central adotará uma postura de cautela, sinalizando a manutenção do juro alto por período prolongado

Gabriel Galipolo, incoming governor of the Central Bank of Brazil, during a quarterly inflation news conference in Brasilia, Brazil, on Thursday, Dec. 19, 2024. Brazil's central bank lifted its economic growth forecasts for this year and next as policymakers pledge higher interest rates to tame inflationary pressures from overheated activity. Photographer: Ton Molina/Bloomberg
Por Josue Leonel - Barbara Nascimento
17 de Junho, 2025 | 01:03 PM

Bloomberg — O mercado financeiro vai sem consenso para a reunião do Copom desta semana, com apostas divididas entre a manutenção da Selic em 14,75% ou uma elevação adicional de 0,25 ponto percentual. 

A maioria dos analistas avalia que o Banco Central adotará uma postura de cautela, sinalizando a manutenção do juro alto por período prolongado.

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A divisão está refletida tanto na curva de juros — que projeta cerca de 15 pontos percentuais de alta da Selic, ou apenas uma pequena chance maior de aumento — , como na pesquisa da Bloomberg com economistas. Grandes bancos como Itaú, Bradesco e JPMorgan esperam taxa estável, enquanto Goldman Sachs, Santander Brasil e BTG Pactual estão entre os que preveem alta adicional.

Leia também: Ata do Copom deixa em aberto futuro da Selic e cita cenário incerto

A falta de consenso também corresponde ao discurso mais recente do presidente do BC, Gabriel Galípolo, de que o Copom iria para a reunião com as opções em aberto. O comentário calibrou a pressão na curva provocada pela comentário do início do mês, quando afirmou que a atividade econômica estava surpreendentemente resiliente e o BC ainda estava discutindo o ciclo de alta.

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Uma nova alta de juros seria justificada pelas expectativas de inflação ainda fora da meta, a atividade econômica firme e desemprego baixo, segundo economistas. O impacto do conflito entre Israel e Irã sobre o petróleo é citado como fator adicional de incerteza.

Quem prevê manutenção aponta para o patamar já restritivo dos juros, a inflação mais recente abaixo do esperado e o alívio do câmbio, beneficiado pelos juros internos elevados e o enfraquecimento global do dólar. Mesmo diante do conflito no Oriente Médio, a moeda ronda patamar pouco abaixo de R$ 5,50, significativamente menor do que o nível de R$ 5,75 visto na reunião anterior. 

Leia também: Para bancos, ata do Copom sinaliza fim do aumento da Selic, mas incertezas pesam

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Veja o que dizem os analistas:

Mario Mesquita, economista-chefe  do Banco Itaú

  • Projeta fim do ciclo de alta, com manutenção da Selic em 14,75%
  • “Esperamos que o comitê reforce o compromisso com a convergência da inflação à meta, seguindo a estratégia de permanecer com a taxa de juros em patamar contracionista por período prolongado e sinalizando que não hesitará em retomar o ciclo de alta, caso o cenário prospectivo de inflação se deteriore”
  • “Projetamos início da flexibilização apenas em 2026”

Cassiana Fernandez e economistas do JPMorgan

  • Prevê que o BC deve manter a taxa Selic em 14,75%, reforçando o tom cauteloso diante das incertezas no cenário inflacionário, com projeção acima da meta para 2026
  • Comunicação deve enfatizar a duração do nível restritivo e definir a manutenção como pausa, em vez de fim do ciclo, para melhor observar o desenrolar do cenário, que é muito incerto

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

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  • BC deve elevar a Selic uma última vez, para 15%, mas há uma possibilidade de 45% de manutenção em 14,75%
  • BC vê o juro em um nível significativamente restritivo, mas Copom deve ser sensível ao cenário macro e ao desafio de levar inflação para meta
  • “Compromisso de manter o juro inalterado por período prolongado é um substituto fraco de uma ação em junho”

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco

  • Expectativa é de manutenção da taxa de juros em 14,75%
  • Política monetária encontra-se em terreno restritivo e há defasagens importantes entre a elevação de juros ocorrida desde o final do ano passado e os efeitos na atividade e nos preços
  • Ambiente global segue positivo para os emergentes diante da fraqueza do dólar

Iana Ferrão, analista do BTG Pactual

  • Espera alta adicional de 0,25pp, com a Selic em 15% até o fim de 2025
  • Comunicação anterior deixou a decisão em aberto e condicionada à evolução dos dados; desde então, indicadores divulgados apontaram atividade resiliente e inflação de serviços ainda elevada, em um contexto de expectativas desancoradas
  • Comunicação deve manter foco em cautela e flexibilidade, evitando a adoção de forward guidance, e preservando margem para eventual reavaliação da calibragem, conforme a evolução dos dados
  • Recrudescimento do conflito geopolítico entre Israel e Irã amplia o grau de incerteza sobre os preços de energia

Caio Megale e economistas da XP

  • Esperam manutenção da Selic, já que fluxo de dados e notícias econômicas desde a última reunião do Copom foi ambíguo
  • Por um lado, a atividade permaneceu aquecida, as expectativas inflacionárias seguem desancoradas e os preços do petróleo subiram; por outro, inflação veio melhor do que o esperado e o real se valorizou
  • Membros do Copom transmitiram sinais mistos nas últimas semanas

André Carvalho, gestor de macro da Principal Asset Management

  • Pareceria “muito barulho por nada” o BC ter corrigido no início do mês a rota do mercado, que tinha abandonado as apostas em alta, e agora manter a Selic
  • Deve deixar em aberto os próximos passos

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital

  • Selic deve ser elevada em 0,25pp, encerrando o ciclo de aperto
  • Vê decisão unânime com o comunicado explicitando o fim do ciclo e reforçando a estratégia de manter juros elevados por período prolongado

Daniel Xavier, economista-chefe do Banco ABC Brasil

  • Copom deve entregar +0,25pp e sinalizar manutenção por período prolongado, visando a convergência à meta
  • “Pay-off, em termos de credibilidade, nos parece compensatório para os membros do Copom”

Ales Koutny, head de International Rates da Vanguard

  • BC deve manter taxa em 14,75%, mas com tom hawkish
  • BC deve tentar colocar que o crescimento econômico continua surpreendendo positivamente, taxa de desemprego está em níveis baixos e a inflação deu uma melhorada, mas ainda está acima da meta

Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1

  • Principal argumento a favor de um aperto adicional da política monetária é que a atividade econômica no primeiro semestre tem sido mais forte do que o Banco Central esperava

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