Bloomberg — O Brasil não vai adotar tarifas recíprocas contra os Estados Unidos neste momento em resposta às taxas comerciais de 50% que Donald Trump impôs sobre seus produtos, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma entrevista à agência Reuters.
Em vez disso, Lula disse que procurará outros países-membros dos Brics - incluindo Índia e China - para avaliar seu interesse em uma resposta conjunta às tarifas, de acordo com a reportagem.
O presidente disse que planeja ligar para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, cujo país também enfrenta o aumento das taxas comerciais de Trump, para falar sobre as tarifas na quinta-feira (7), disse um funcionário do governo aos repórteres, pedindo anonimato para discutir assuntos internos.
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No mês passado, Trump colocou o Brasil no meio de sua guerra comercial global, ameaçando impor tarifas mais altas ao país, a menos que o Supremo Tribunal Federal encerrasse imediatamente o julgamento no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta acusações de tentativa de golpe.
As tarifas entraram em vigor na quarta-feira (6), uma semana depois que Trump isentou quase 700 produtos do aumento da taxa.
Lula acusou Trump de tentar intervir nos assuntos internos do país e de violar sua soberania. Seu governo tem procurado abrir negociações com os EUA e, ao mesmo tempo, desenvolver um pacote de medidas de contingência para ajudar as empresas que enfrentarão o peso das tarifas mais altas.
O líder de esquerda já havia dito anteriormente que só retaliaria os EUA depois de esgotar todas as outras opções. Na quarta-feira, seu governo disse que havia apresentado um pedido de consultas com os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Lula reiterou que só ligará para Trump quando sentir que a porta está aberta para negociações, mas disse que não vai se humilhar.
Por enquanto, ele deixará as conversas para outras autoridades como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que deve conversar com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na próxima semana.
“Não tenho motivo para ligar para o Trump porque nas cartas que ele manda, nas decisões, ele nunca fala de negociações, o que ele fala é de novas ameaças”, disse Lula na entrevista, que foi transmitida pela TV local, acrescentando que sua equipe fez pouco progresso nas discussões com as autoridades americanas. “Sempre que eles quiserem conversar, vamos conversar”, afirmou.
O Brasil tem trabalhado para expandir as relações comerciais com outros mercados em meio à agitação comercial de Trump, com Lula priorizando laços mais fortes com a China, a Índia, o Sudeste Asiático e seus parceiros dos Brics.
O bloco atacou o uso de tarifas e os ataques militares de Trump contra o Irã durante a cúpula de líderes no Rio de Janeiro no mês passado, o que levou o presidente dos EUA a ameaçar aumentar as taxas contra seus membros por causa do que ele chamou de políticas “antiamericanas”.
Lula recebeu Modi em Brasília após a cúpula e conversou com o líder indiano sobre a construção de laços comerciais mais profundos entre as duas economias emergentes.
-- Com a colaboração de Daniel Carvalho.
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