IPCA de novembro reforça ritmo de cortes da Selic em 0,5 ponto, dizem economistas

Inflação teve alta de 0,28% em novembro, ficando dentro do consenso do mercado, o que deve garantir postura cautelosa do BC, segundo economistas

BC protagoniza uno de los ciclos de ajuste monetario más agresivos de la historia (Rodrigo de Oliveira)
12 de Dezembro, 2023 | 09:16 PM

Bloomberg Línea — O resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o mês de novembro reforçou o argumento de que o Banco Central (BC) deve continuar a manter o ritmo de corte de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

O diretores do BC comunicam a nova decisão sobre a Selic nesta quarta-feira (13), na qual podem dar indicações sobre os próximos passos da política monetária. A maior parte dos economistas prevê mais um corte de 50 pontos-base nesta quarta, para 11,75%.

Em novembro, o IPCA teve alta de 0,28%, impulsionada pela aumento dos preços dos alimentos. O resultado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça, representa uma variação 0,04 ponto percentual acima da taxa de outubro, que foi de 0,24%.

No ano, a inflação oficial acumula alta de 4,04% e, nos últimos 12 meses, de 4,68%, abaixo dos 4,82% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em novembro de 2022, a variação havia sido de 0,41%.

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Segundo a XP Investimentos, a leitura do IPCA de novembro foi neutra e garante “uma postura cautelosa do Banco Central”, de modo que a casa de investimentos espera “que ele mantenha o forward guidance de redução de 0,50pp na taxa Selic nas próximas reuniões”.

“De fato, depois de meses de surpresas baixistas, a leitura de serviços mostrou uma ligeira deterioração na margem — o movimento, no entanto, está relativamente em linha com o que esperamos para a inflação deste grupo no médio prazo [...] Mantemos nossas projeções para o IPCA em 4,4% em 2023 e 4,1% em 2024″, dizem os analistas.

Daniel Karp e Adriano Valladão, do Santander Brasil (SANB11), apontam que a média dos cinco principais núcleos permanece estável em torno de 3,0% na taxa anualizada em média móvel de três meses, “apesar de serviços surpreendendo positivamente”.

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“Vale notar que, mesmo com uma surpresa positiva em higiene pessoal (indicando descontos menores na Black Friday), bens industriais conseguiram surpreender negativamente (com bens semi duráveis e não duráveis continuando a cair)”, dizem os analistas.

Além disso, segundo eles, a projeção é de “uma composição favorável com alguns indicadores centrais permanecendo em níveis controlados, e a leitura de hoje confirmou nossas expectativas”.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter (INTR), acredita que o corte da Selic pode ser ainda maior em breve. “Para o Copom de amanhã, seria apropriado no comunicado o comitê se desfazer do guidance que amarra as discussões dos próximos passos e ancora as expectativas de queda da Selic em um ritmo que talvez esteja lento demais para o patamar de inflação que vemos hoje. No longo prazo, as expectativas de inflação acima da meta podem limitar a Selic terminal, mas no curto prazo, vemos espaço ainda para cortes mais significativos, e poderíamos chegar na taxa de 9% mais próximo do meio do ano, com cautela suficiente para monitorar o risco fiscal e eventual aceleração da inflação ao longo do próximo ano.”

Leonardo Porto, do Citi, vê a inflação contida em novembro, conforme o esperado, mas ressalta que a inflação de serviços ganhou impulso, com alta de 0,70% em relação ao mês anterior, o que é preocupante do ponto de vista de política monetária. “Esperamos que a inflação permaneça relativamente comportada no curto prazo, com os componentes mais persistentes - como serviços - operando acima da meta de ponto médio do BC, reforçando nossa expectativa de taxa Selic acima do consenso (10,0% até o final de 2024)”, afirmou em relatório.

David Beker e Natacha Perez, do Bank of America (BofA), avaliam que a inflação geral e as medidas subjacentes estão bem comportadas e que os riscos para a previsão de um IPCA de 4,8% ao final de 2023 estão inclinados para baixo. “A leitura de hoje apoia uma redução contínua nas taxas básicas a uma taxa de 50 pontos-base por reunião, enquanto o setor externo e a atividade forte devem suprimir uma aceleração no ritmo de alívio”, dizem os economistas em relatório.

A mesma opinião é compartilhada por Claudia Moreno, economista do C6 Bank. Para ela, “os dados mais benignos da inflação recente e o alívio no cenário externo devem dar conforto ao Copom para a continuação do ritmo de corte de juros”.

“Para o acumulado do ano, prevemos um IPCA de 4,8%, mas com viés de baixa. O mercado de trabalho aquecido deve manter a inflação de serviços resiliente à frente e, na nossa visão, traz desafios à convergência da inflação para a meta. Projetamos IPCA em 5,5% para 2024″, diz. A Selic em 2024, segundo a economista, deve ficar em 9,25% — em linha com o que o BC apresentou no Boletim Focus.

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Na segunda-feira (11), os economistas do Banco Central divulgaram o relatório Focus, que trouxe alterações para o IPCA deste ano, que caiu para 4,51%, ante 4,54%. Para a Selic, as estimativas se mantiveram em juros de 11,75% em dezembro deste ano e de 9,25% ao fim de 2024.

Alberto Ramos, do Goldman Sachs, avalia que a inflação moderada de novembro respalda a continuidade de um ciclo de corte de juros gradual, mas o economsita chama a atenção para pontos que podem influenciar a decisão do Banco Central à frente, como a política fiscal, a falta de credibilidade nas metas fiscais para 2024-26, o mercado de trabalho aquecido, além de riscos para a inflação de alimentos e de serviços. São pontos que, na visão do economista, “exigem cautela na calibragem de curto prazo da política monetária”.

Enquanto isso, Igor Cadilhac, economista do PicPay, explica que “dos nove grupos de pesquisa, seis tiveram inflação”, mas que “o acumulado nos últimos 12 meses segue sua tendência de baixa, saindo de 4,82% em outubro para 4,68% em novembro”, o que traz um novo desafio para o ano que vem.

“A leitura qualitativa também foi favorável como antecipávamos. A baixa média dos núcleos, em conjunto com os serviços subjacentes em patamar historicamente baixo, reforça um cenário desinflacionário mais consistente no curto prazo. Por outro lado, é importante reconhecer que o melhor momento dos alimentos ficou para trás. Este que parece ser o principal desafio para 2024″, afirma.

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Segundo Cadilhac, “eventuais riscos de baixa seguem vindo principalmente do bom contágio dos preços de bens sobre os demais, incluindo petróleo recentemente do comportamento dos núcleos e sua inércia, e do combate à inflação de forma sincronizada mundo afora”.

“Do outro lado, temos monitorado o mercado de commodities agrícolas e softs, incluindo os eventuais efeitos do El Niño sobre cereais, leguminosas e oleaginosas e os aumentos salariais dado o baixo desemprego, os ganhos reais recentes e a regra do salário mínimo”, afirma.

Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, “a leitura do IPCA de novembro continuou mostrando que a desaceleração da inflação continua em curso e não há nada a se preocupar”.

“O número de hoje não traz novidades em relação a parte qualitativa da inflação, ou seja, a desinflação dos núcleos e serviços permanece em linha com o esperado, e segue como notícia positiva dado o momento do mercado de trabalho e o forte desempenho da atividade econômica. O destaque do mês foi a mudança de composição de itens que normalmente capturam os descontos de Black Friday no IPCA”, diz.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.