IPCA-15 reforça expectativas de corte de juros apenas em março, dizem economistas

Resultado de dezembro mostrou uma inflação de serviços resistente, que continua a limitar o espaço para uma flexibilização da política monetária, segundo economistas

Banco Central
23 de Dezembro, 2025 | 12:16 PM

Bloomberg Línea — O IPCA-15 de dezembro reforçou a leitura de que o início dos cortes de juros pelo Banco Central deve ficar apenas para março, segundo a avaliação de alguns economistas.

A prévia da inflação avançou 0,25% no mês, em linha com as expectativas de analistas consultados pela Bloomberg, e levou o acumulado de 12 meses a 4,41%, abaixo do teto da meta do Banco Central, mas ainda distante do centro de 3%.

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O resultado confirmou um padrão observado ao longo de 2025: alívio em componentes de alimentos e bens industriais, convivendo com uma inflação de serviços resistente, que continua a limitar o espaço para uma flexibilização da política monetária.

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A leitura do IPCA-15 de dezembro foi marcada por fatores sazonais, como a alta de passagens aéreas e de serviços ligados a turismo e lazer, enquanto alimentos no domicílio e bens industriais voltaram a registrar deflação, ainda sob efeito residual dos descontos da Black Friday.

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O problema, na avaliação de analistas, está menos no número cheio e mais na composição. Para o Daycoval, “os itens intensivos em trabalho, que são mais sensíveis aos ciclos, mostraram aceleração com relação ao mês anterior e ainda em patamar elevado”, disse o economista Antonio Ricciardi, em comentário a clientes. O comportamento reforça a necessidade de cautela por parte do Banco Central.

Na mesma linha, a XP destacou que “as métricas de serviços surpreenderam para cima, com reaceleração nos indicadores”, em um movimento consistente com a força do mercado de trabalho.

“A decomposição do IPCA-15 de dezembro veio levemente pior do que o esperado, reforçando nossa avaliação de que o Copom deve iniciar o ciclo de flexibilização apenas em março”, disse o economista Alexandre Maluf, em relatório.

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O PicPay também manteve a leitura de que o corte de juros terá como início o mês de março, ressaltando “a ausência de elementos que forneçam uma perspectiva mais positiva para o desempenho do IPCA, especialmente no caso dos preços de serviços”, disse o banco em relatório assinado pelo economista Matheus Pizzani.

Por outro lado, a gestora Galapagos Capital manteve a expectativa de corte em janeiro, mas reforçou que ainda “será necessário a desaceleração da inflação de serviços” para que isso ocorra.

“Esse processo de desinflação com resiliência da inflação de serviços mantém o Bacen em posição desconfortável para iniciar corte de juros”, disse Tatiana Pinheiro, economista-chefe da gestora, em comentário a clientes.

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Inflação resiliente

Ao longo de 2025, a inflação mostrou trajetória de desaceleração, conforme analisado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em sua carta de conjuntura mais recente, impulsionada principalmente pela melhora nos preços de alimentos e por um comportamento mais benigno dos bens industriais.

Esse processo, ajudado pela queda do dólar ao longo do ano, no entanto, foi incompleto. O instituto apontou que a persistência da inflação de serviços — especialmente os componentes mais ligados à renda e ao emprego — manteve o índice em patamar elevado ao longo do ano, criando um cenário de desinflação lenta e desigual entre os grupos.

O IPCA-15 de dezembro, ao encerrar o ano com inflação acima de 4%, reforçou essa leitura.

O Itaú vai na mesma direção. Embora o resultado do IPCA-15 tenha ficado abaixo da projeção do banco, a economista Luciana Rabelo observou que “apesar do headline mais baixo, o componente qualitativo veio pior do que o esperado, com pressões altistas disseminadas tanto em serviços subjacentes quanto em industriais subjacentes”.

O banco ressalta que, na média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada, os serviços subjacentes aceleraram para 5,8%.

As expectativas captadas pelo Boletim Focus reforçam esse pano de fundo. A mediana das projeções para o IPCA de 2025 recuou para 4,33%, enquanto a estimativa para 2026 caiu para 4,06%, ambas ainda acima do centro da meta, segundo o relatório divulgado pelo Banco Central na segunda-feira (22).

Nos horizontes mais longos, as expectativas seguem próximas de 3,8% para 2027 e 3,5% para 2028, indicando uma convergência apenas gradual.

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