Falta de senso de urgência em ajuste fiscal amplia riscos, diz economista do UBS WM

Solange Srour avalia que propostas para lidar com o ajuste fiscal serão evitadas por candidatos na campanha eleitoral de 2026 e que mercado reagirá a pesquisas, em painel do Bloomberg Línea Summit nesta segunda-feira (27) em São Paulo

Solange Srour, diretora de Macroeconomia para o Brasil do Bloomberg Línea Summit 2025, no painel "Uma Agenda de Desenvolvimento para o Brasil - Uma Visão Econômica", no W Hotel, em São Paulo (Foto: Jessica Liar/Bloomberg Línea)
27 de Outubro, 2025 | 05:02 PM

Bloomberg Línea — A diretora de Macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour, avaliou que a discussão sobre o ajuste fiscal dificilmente entrará na campanha presidencial de 2026, diante de um senso de urgência que não se faz presente em Brasília, ainda mais depois da melhora do cenário externo.

No painel “Uma Agenda de Desenvolvimento para o Brasil - Uma Visão Econômica”, do Bloomberg Línea Summit 2025 na manhã desta segunda-feira (27), em conversa com Marcelo Sakate, editor-chefe da Bloomberg Línea, a economista analisou o que se deve pautar o comportamento do mercado no próximo ano.

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“Acredito que essa discussão da pauta fiscal não vai entrar muito na campanha. É uma discussão dura de fazer. Os dois lados vão tentar trazer outras discussões”, afirmou Srour, citando a polarização política.

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Segundo ela, temas como segurança pública devem prevalecer no debate eleitoral dos candidatos, enquanto propostas de mudanças na regra do salário mínimo, desindexação de educação e saúde ou cortes de gastos discricionários tendem a ser evitadas por candidatos de quaisquer tendências.

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A economista avaliou que o mercado precifica atualmente probabilidades equilibradas entre continuidade e mudança da política fiscal, com aproximadamente 50% para cada cenário.

“O mercado vai ficar reagindo à probabilidade dos dois cenários. Se ficar um pouco mais claro qual é o resultado, o mercado pode se mexer muito”, disse.

Srour explicou a ausência de senso de urgência em Brasília pelo cenário econômico atual, em paralelo com a melhora de preços de ativos diante do quadro externo. Com crescimento da ordem de 3%, desemprego baixo e inflação em queda, não há pressão imediata para ajustes.

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“Enquanto esse ambiente internacional está favorável, o senso de urgência não vem”, disse.

A economista alertou, no entanto, que o ajuste postergado pode resultar em crise acelerada quando o cenário externo virar, o que acontecerá cedo ou tarde, a julgar pelos ciclos econômicos.

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O resultado seria uma desaceleração econômica, com inflação e juros mais altos.

Por outro lado, destacou a oportunidade que existe para o país caso reformas sejam implementadas: “Nós vivemos recentemente com juros reais de 3%. Isso mostra o tamanho da oportunidade que existe.”

Srour alertou que temas como o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho e na produtividade estão ausentes do debate brasileiro.

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Segundo ela, o país está atrasado nessa discussão, que já avança em economias desenvolvidas com programas públicos de requalificação para trabalhadores deslocados pela tecnologia.

“O país triplicou os programas sociais sem nenhum vínculo com educação. Tiramos uma parcela da população da mão de obra que não está trabalhando e está recebendo benefício social, e não está se qualificando”, criticou.

A economista colocou a redução da insegurança jurídica como outra prioridade antes de qualquer agenda microeconômica.

“Não dá para ter investimentos no Brasil com insegurança jurídica. Decisões estão sendo tomadas na justiça revendo questões tributárias e regulatórias”, afirmou.

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