Bloomberg Línea — O espaço para cortes de juros pelo Banco Central em 2026 irá depender principalmente do comportamento do câmbio, o que tende a ser influenciado pelo sentimento do mercado sobre as eleições presidenciais, de acordo com Luis Otávio Leal, economista-chefe e sócio da G5 Partners.
O argumento do economista da empresa de gestão de patrimônio e assessoria financeira, que tem mais de R$ 35 bilhões em ativos, se baseia no fato de que a queda do dólar no último ano foi a grande responsável pela desaceleração da inflação observada no Brasil, uma vez que ajudou a manter os preços de alimentos e de bens industriais mais estáveis.
Uma eventual valorização do dólar no ano que vem, portanto, poderia interromper esse processo de acomodação dos preços e dificultar o trabalho do Banco Central de atingir a meta de inflação anual de 3%.
“O espaço para cortes de juros vai depender muito desse mood do mercado como reflexo da eleição. Se o mercado estiver nervoso, e o dólar, voltando para R$ 6, obviamente o espaço é bem menor. Se ele se mantiver no patamar R$ 5,20, R$ 5,30, o espaço é bem maior", disse Leal em entrevista à Bloomberg Línea.
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A inflação no Brasil tem desacelerado nos últimos meses. Depois de atingir um pico de 5,53% em abril, o IPCA acumulado em 12 meses recuou a 4,68% em outubro. Isso tem levado a uma revisão para baixo das expectativas de inflação.
De acordo com o mais recente Boletim Focus, do Banco Central, economistas consultados pela instituição preveem que a inflação oficial deve encerrar 2025 em 4,46% e o ano que vem em 4,20%.
O número em 2026 está distante do centro da meta do Banco Central, mas ficaria dentro do intervalo de tolerância, de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O economista da G5 Partners projeta que o Banco Central deve iniciar um ciclo de cortes de juros em janeiro ou março, levando a Selic a 12,50% ao ano até o fim de 2026. Isso significaria um corte total de 2,50 pontos percentuais em relação ao atual patamar de 15% ao ano da taxa básica de juros.
Leal disse que o corte de juros poderia ser maior em um cenário otimista com o câmbio “comportado” e uma safra de grãos boa e sem choques climáticos. A chance de a inflação ficar próxima de 4% ou abaixo de 4% seria maior, o que poderia abrir espaço para cortes mais amplos, levando a Selic a 10,5% ao ano.
Diante das incertezas, no entanto, ele prefere manter uma projeção intermediária. “Não é uma projeção altamente pessimista, mas também entendo quem está prevendo uma Selic de 10,5%, 11,5% em 2026”, afirmou.
A previsão mediana de economistas no Boletim Focus é a de que a Selic deve encerrar 2026 em 12,25% ao ano.

Leal disse avaliar que três fatores influenciaram a queda do dólar em 2025 em relação ao real: o desmonte de posições de hedge que tinham sido feitas quando o dólar chegou a mais de R$ 6, a própria alta da Selic que impulsionou esse movimento de desmonte e a perda de força da moeda americana no mercado internacional.
“Uma prova de que essa questão dos derivativos foi importante é que temos uma valorização cambial próxima de 20% no ano com um recorde de saída de fluxo estrangeiro no Brasil”, afirmou.
Para o ano que vem, Leal acredita que o dólar pode continuar a passar por desvalorização no mercado internacional, principalmente se o próximo presidente do Federal Reserve, que assume em maio mas será anunciado antes dessa data, for muito alinhado às teses de Donald Trump - em particular de que o juro tem que ser muito mais baixo.
Por outro lado, uma Selic mais baixa tende a exercer uma pressão contrária no câmbio.
“Dependendo de quem estiver na frente nas pesquisas eleitorais, o país pode ter uma desvalorização cambial maior do que o esperado”, disse.
Nesse ambiente, Leal avalia que o Banco Central terá um desafio de comunicação para conseguir passar a mensagem de que continua comprometido em levar a inflação para a meta, ao mesmo tempo em que busca abrir espaço para cortes de juros.
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