Bloomberg Línea — A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a Selic para 14,75% ao ano foi interpretada por economistas e analistas dos principais bancos como o provável encerramento do ciclo de alta iniciado em setembro do ano passado.
A mudança no tom do comunicado pós-reunião — que abandonou a sinalização explícita de novos aumentos — reforçou entre os economistas a leitura de que a taxa de juros deve permanecer em patamar elevado por um período prolongado, mas sem novos ajustes.
Com isso, a política monetária deve ser guiada por uma postura mais dependente de dados e marcada por cautela diante do cenário incerto, tanto no ambiente internacional quanto no doméstico.
Para o Bank of America (BofA), o comitê optou por encerrar o ciclo, permitindo agora avaliar os efeitos acumulados das altas anteriores.
Analistas liderados por David Beker, chefe de pesquisa econômica para o Brasil, destacou que a incerteza global e doméstica ainda é elevada, mas avaliou que a maior parte do trabalho já foi feita, sendo improvável que novas altas gerem impacto significativo.
O BofA também vê espaço para o início de um ciclo de cortes a partir de dezembro, desde que os dados de inflação mostrem trajetória mais benigna.
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O BTG Pactual também considera provável que o Copom tenha encerrado o ciclo de alta. Segundo a análise do banco, o tom do comunicado — que reconhece de forma mais explícita os riscos de desaceleração da economia global e os efeitos ainda em curso da política monetária — reforça a leitura de que a Selic deve ser mantida em um nível contracionista por um período mais longo, sem necessidade imediata de novos ajustes, segundo relatório assinado por economistas liderados por Claudio Ferraz.
O Citi compartilha avaliação semelhante. A equipe de análise, chefiada por Leonardo Porto, destacou que a autoridade monetária retirou do comunicado a menção à assimetria no balanço de riscos, passando a considerar tanto riscos de alta quanto de baixa para a inflação.
Diante disso, o banco projeta estabilidade da Selic em 14,75% até o final do ano, com expectativa de melhora gradual da inflação doméstica.
Já o Itaú vê o comitê operando em um modo de juros elevados por tempo prolongado, mas ressalta que a mudança no tom da comunicação sugere que um eventual novo aumento, se houver, devem ocorrer em ritmo mais brando, de 0,25 ponto percentual, caso seja necessário.
O banco, no entanto, entende que o ciclo de aumento pode ter sido pausado e que o Banco Central estabeleceu uma “barra relativamente alta” para um novo ajuste da Selic, diz a equipe do banco em relatório assinado pelo economista-chefe Mario Mesquita.
A instituição também destaca a projeção de inflação ainda acima da meta para o horizonte relevante, o que justifica a manutenção de uma postura restritiva.
O Goldman Sachs também reconhece que o comunicado adotou um tom mais moderado, mas chama atenção para o fato de que as projeções de inflação ainda estão distantes da meta. Para o banco, o Copom pode optar por mais um ajuste residual de 0,25 ponto na próxima reunião, caso as expectativas não melhorem significativamente, segundo relatório assinado por Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina.
A XP Investimentos identificou na comunicação do Copom elementos mais brandos em comparação com reuniões anteriores.
Para os economistas da casa, liderados por Caio Megale, o equilíbrio entre os riscos altistas e baixistas e a referência a uma política “significativamente contracionista por período prolongado” indicam que o plano do comitê é manter a Selic no nível atual nas próximas reuniões, salvo uma piora relevante do cenário.
No mesmo sentido, o Santander destacou que a mudança no balanço de riscos — agora descrito como simétrico — surpreendeu parte do mercado por sugerir um viés mais brando.
Em relatório assinado pelo economista Marco Antonio Caruso, o banco manteve sua avaliação de que o ciclo de alta foi encerrado. Se houver um novo ajuste, as chances de um aumento de 0,25 ponto são maiores do que as de uma alta mais agressiva.
O UBS BB interpretou a decisão como uma pausa deliberada no ciclo de aperto monetário, que deve se traduzir em manutenção da taxa até meados de 2026.
A instituição enfatizou que o comitê parece aguardar a convergência da inflação à meta antes de considerar qualquer redução nos juros, o que, pelas estimativas do banco, só seria viável a partir de abril do próximo ano.
Segundo relatório da equipe de economia liderada por Cassiana Fernandez, o J.P. Morgan avalia que o aumento de 0,5 ponto percentual decidido nesta reunião foi o último da sequência iniciada em setembro de 2024.
O banco destaca que a mudança na avaliação do balanço de riscos, agora simétrico, e a redução nas projeções de inflação indicam que o Banco Central considera o ciclo de alta encerrado, ainda que mantenha a possibilidade de um ajuste residual.
A instituição projeta que os juros devem permanecer em 14,75% até novembro, quando a combinação de desaceleração da atividade e arrefecimento inflacionário poderá abrir espaço para cortes.
Já o Morgan Stanley vê o comunicado como compatível com o fim do ciclo e projeta cortes apenas a partir do segundo trimestre de 2026, ressaltando que a autoridade monetária reforçou a necessidade de manter os juros elevados por um “período prolongado”.
O banco destacou como desenvolvimentos positivos a retirada da assimetria no balanço de riscos e a inclusão da queda das commodities como fator desinflacionário. Ainda assim, aponta que os riscos fiscais e externos podem adiar o início de um ciclo de alívio monetário.
O Bradesco também passou a considerar encerrado o ciclo de alta da taxa Selic após a decisão do Copom. Em relatório assinado pelo economista-chefe Fernando Honorato Barbosa, o banco destaca que o choque recente na política econômica dos Estados Unidos aumentou a incerteza no cenário internacional, o que levou o BC a adotar uma postura mais cautelosa e a deixar aberta a possibilidade de um ajuste residual, caso os riscos inflacionários se agravem.
Para o Bradesco, o Copom reconheceu que há sinais iniciais de moderação na atividade econômica, mas ponderou que o mercado de trabalho ainda está apertado e que os dados de consumo continuam resilientes. O diagnóstico, segundo o Bradesco, justifica a estratégia do BC de manter a flexibilidade na condução da política monetária, mas sem indicar novos aumentos como base do cenário atual.
O que dizem os bancos sobre a decisão do Copom
Bank of America
“Não há muito valor em esperar mais uma reunião antes de parar o ciclo e que qualquer aumento adicional seria apenas um ajuste fino na taxa de política monetária. O grosso do trabalho já foi feito.”
BTG Pactual
“Essa avaliação, juntamente com o reconhecimento de que os efeitos cumulativos dos aumentos anteriores ainda estão se manifestando, sugere que este pode ter sido o aumento final do ciclo atual.”
Citi
“Como esperamos a melhora do cenário inflacionário doméstico a partir de agora, vemos o Copom em pausa até o fim do ano. [...] Vemos a taxa Selic estável em 14.75% até o final do ano.”
Goldman Sachs
“O Copom acrescentou um novo risco de baixa para a inflação (preços de commodities) e agora destaca 3 riscos de alta e 3 riscos de baixa, com ambos os lados sendo vistos como ‘mais elevados que o usual’.”
Itaú
“Em suma, o comitê indica que está virtualmente operando em um modo de juros altos por tempo prolongado. Apesar da aparente escolha por uma estratégia de juros elevados por tempo prolongado, dado o tom levemente mais brando, a discussão sobre um eventual ciclo de afrouxamento pode ser antecipada pelo mercado e em nosso cenário.”
Santander
“A redação escolhida no comunicado sugere que as preferências do Copom classificam as probabilidades como um aumento de 25bps ≥ 0 > aumento de 50bps. No entanto, por ora, não vemos razão para mudar nossa estimativa de que o ciclo de alta já foi encerrado.”
UBS BB
“Acreditamos que o comitê está sinalizando o fim do ciclo. Em nossos cálculos, 25bps ou zero na próxima reunião fazem pouca diferença para a projeção. O ponto principal é quando começar a cortar a taxa. Pelas nossas estimativas, isso não ocorrerá antes de abril do próximo ano (assumindo um ritmo preferido de corte de 50bps por reunião).”
XP
“O Copom evitou oferecer uma sinalização clara para a próxima reunião. Em vez disso, ressaltou a necessidade de ‘cautela adicional’ e ‘flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação’. Em nossa visão, isso significa que, caso haja um novo aumento na reunião de junho, será de 0,25 p.p.”
J.P. Morgan
“Embora o Banco Central tenha mantido flexibilidade em sua comunicação — sugerindo que poderia tanto encerrar o ciclo de aperto quanto seguir com um aumento residual de 25 pontos-base — acreditamos que este foi o último aumento deste ciclo. Antecipamos que a taxa básica de juros será mantida em 14,75% até novembro deste ano, quando esperamos que a desaceleração da economia e a perspectiva desinflacionária permitam ao BC iniciar cortes nos juros.”
Morgan Stanley
“Este é o fim do ciclo de alta de juros, na nossa visão, e esperamos que o Banco Central mantenha a Selic nesse patamar até o final do ano; projetamos cortes apenas em 2026, diante do desafiador cenário inflacionário.”
Bradesco
“Nosso cenário indica que este foi o último aumento no atual ciclo de aperto monetário. O Banco Central, no entanto, preferiu deixar a porta aberta para um aumento residual, se necessário.”
-- Reportagem atualizada para incluir o comentário do Bradesco.
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