Bloomberg — Com a expectativa de que o Copom mantenha a Selic em 15% nesta quarta-feira (10), e as atenções mais uma vez voltadas para possíveis sinalizações do Banco Central, o mercado estará de olho também no aumento da incerteza política desde sexta-feira (5).
As taxas de juros mais longas dispararam quase 70 pontos, e o dólar avançou mais de 2% desde o anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência, na sexta-feira.
Como resultado, a precificação de corte da Selic em janeiro de 2026 deixou de ser uma certeza para os operadores. A curva de juros futuros também passou a incorporar um ciclo de alívio menor no próximo ano.
Os analistas não acreditam que o Copom citará explicitamente a turbulência em seu comunicado.
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No entanto, não se descarta um tom de maior cautela diante da deterioração do mercado, uma vez que a queda do dólar vinha ajudando a reduzir a inflação e melhorar as expectativas.
No Copom anterior, em 5 de novembro, o dólar estava em R$ 5,35. Nesta quarta-feira (9), é negociado acima de R$ 5,43.
Questão política “já está no balanço de riscos, no risco de depreciação significativa do real”, diz Iana Ferrão, sócia e economista do BTG Pactual. “Comunicado deve vir sem sinalização explícita do que o BC fará em janeiro”, mantendo um tom mais duro, diz ela.
Parte dos analistas enxerga espaço para uma sinalização menos hawkish, enquanto outros acreditam que o BC evitará uma indicação explícita de cortes, mantendo a flexibilidade.
Um dos trechos que poderiam deixar a comunicação é a expressão sobre “não hesitar” em retomar a alta dos juros, se necessário.
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Outro ponto no radar é aquele em que o BC dizia que a política monetária seguiria restritiva por período “bastante prolongado”.
Em falas recentes, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse que a instituição não tem necessidade de “criar algum tipo de código dentro da comunicação” para telegrafar alguma ação que irá tomar. Ele avaliou ainda que o mercado de trabalho está apertado e que o progresso da inflação é mais lento que o desejado.
Veja o que dizem os analistas:
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú
“Sinalização deve permanecer flexível, sem compromisso explícito com o início do ciclo de cortes, mas reconhecendo que ajustes poderão ser feitos conforme o cenário evolua.
Será importante que o comitê ajuste a comunicação, eliminando o trecho que afirma que ‘não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado’ e qualificando em que estágio o referido ‘período bastante prolongado’ se encontra.
Risco de postergação do início do ciclo de cortes ainda está presente: uma surpresa positiva na atividade ou mercado de trabalho, taxa de câmbio mais depreciada, podem adiar o início da flexibilização."
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco
“Copom deve manter a Selic em 15% e avançar no processo de reconhecimento do funcionamento da política monetária, dada a desaceleração em curso da atividade e acomodação da inflação.
BC deve remover a referência à possibilidade de elevação dos juros."
Iana Ferrão, sócia e economista do BTG Pactual
“Galípolo tem sido ‘enfático e recorrente’ de que decisões vão ser estritamente dependentes dos dados e que o comitê não planeja sinalizar próximos passos.
Deve manter trecho sobre ‘não hesitar’ em elevar juros e a expressão sobre taxa restritiva por período ‘bastante prolongado’; retirar seria entendido como sinal dovish."
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
“Copom pode remover a expressão de que não hesitará em retomar o ciclo de alta, se necessário, e adicionar linguagem para indicar que a política monetária já ficou restritiva por um período razoável e está operando como esperado.”
Brendan McKenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo
“BC deve abrir caminho para um corte em janeiro, mas a comunicação sobre esse corte será ‘repleta de cautela’.”
Victor Scalet, estrategista macro da XP
“Percepção é de que com preços de ativos nos níveis atuais se reduz a chance do corte de janeiro em favor do ciclo começando em março.
Pelas falas recentes do Galípolo e diretores, impressão é que eles tentaram dissociar a comunicação de dezembro e o que vão fazer em janeiro ao sinalizar que estão ‘data-dependent’ por conta da elevada incerteza."
Marcela Rocha, economista-chefe para América Latina da Principal Asset Management
“Galípolo ‘tirou um pouco’ a importância da expressão ‘bastante prolongado’ e também da que ‘não hesitará’.
Economista dará atenção especial se BC vai utilizar o termo ‘ao redor da meta’."
Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays
“Copom deve retirar a sentença sobre sobre não hesitar em retomar a alta se apropriado.
Comitê deve manter a frase afirmando que manter a taxa de juros em seu nível atual por um período ‘bastante prolongado’ será suficiente para garantir a convergência da inflação para a meta."
Milena Landgraf, sócia da Jubarte Capital
“BC tem um desafio; ideal seria ajustar a comunicação, abrindo flexibilidade para um corte sem abrir mão da opção de manutenção.”
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