Soja do Brasil e da Argentina domina mercado chinês e pressiona produtores dos EUA

Produção robusta e preços competitivos consolidam o grão sul-americano como líder na venda à China, segundo relatório da Oxford Economics

Colheita de soja em Goiás
23 de Outubro, 2025 | 11:01 AM

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O Brasil e a Argentina tem consolidado o papel como os principais fornecedores de soja para a China, em meio a uma prolongada retirada do grão dos EUA do mercado asiático.

De acordo com um relatório da Oxford Economics, a ausência de compras dos EUA continua durante a atual janela de exportação, enquanto a América do Sul abastece a China com volumes maiores e preços competitivos.

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A Oxford Economics aponta que a combinação da expansão da produção na América do Sul e das políticas comerciais chinesas fez com que os EUA perdessem participação no mercado.

Leia também: Agricultores dos EUA enfrentam crise de armazenamento de soja sem demanda chinesa

Em 2017 e 2018, os EUA responderam por 35% do mercado global de soja; entre 2024 e 2025, sua participação caiu para 28%. Paralelamente, o Brasil e a Argentina aumentaram sua participação combinada de 47% para 52% no mesmo período.

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Impacto nos Estados Unidos

A perda do principal comprador, a China, afeta significativamente a agricultura dos EUA. Em 2024, a China foi responsável por cerca de metade das exportações de soja dos EUA, enquanto a União Europeia, o segundo maior destino, foi responsável por apenas 10%.

Além disso, a soja contribui com cerca de um quinto da renda agrícola do país.

A tarifa de 44% da China mantém a soja dos EUA fora da competição com as alternativas sul-americanas.

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A Oxford Economics aponta que, apesar de os preços dos EUA serem negociados com desconto para o Brasil e de um dólar mais fraco favorecer as compras de outros destinos, as exportações totais cresceram apenas 1,2% em relação ao ano anterior no início do ciclo 2025/26.

Projeções de preço e produção

Segundo o levantamento, os preços da soja nos EUA serão em média de US$ 10,10 por bushel no quarto trimestre de 2025, com a possibilidade de cair abaixo de US$ 10 devido à fraca demanda externa.

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Em 2026, estima-se uma ligeira recuperação para US$ 10,20 por bushel, apoiada pela redução da área plantada e da pressão de colheita.

A relação de preços entre o milho e a soja, juntamente com o aumento dos custos dos fertilizantes, incentivou alguns agricultores a reduzir a área cultivada com soja. Isso pode afetar a produção dos EUA durante o ciclo 2025/26, mantendo certa pressão sobre os preços.

Perspectivas sobre negociações comerciais

A Oxford Economics identifica que a eventual retomada das compras dos EUA pela China dependerá das próximas negociações comerciais entre os dois países, nas quais a soja é uma questão central.

Entretanto, mesmo que as tarifas sejam reduzidas, espera-se que a China continue a diversificar seus fornecedores, favorecendo a combinação da América do Sul e suas reservas domésticas.

Além disso, fatores como condições climáticas adversas ou doenças na América do Sul poderiam afetar a disponibilidade de grãos, o que aumentaria os preços regionais e permitiria uma melhora temporária na competitividade da soja dos EUA. A liberação de subsídios governamentais aos agricultores também poderia permitir o armazenamento da safra e o suporte de preços no curto prazo, embora isso não alterasse a perda de mercado no médio e longo prazo.

A nova dinâmica do comércio global

O relatório conclui que , mesmo que a China retome as compras de soja dos EUA e as tarifas sejam removidas, é improvável que os EUA recuperem sua participação no mercado antes da guerra comercial.

A combinação da expansão da produção no Brasil e na Argentina, juntamente com a estratégia chinesa de diversificação de fornecedores e acúmulo de estoques, mantém a América do Sul como a principal fonte de suprimento para a China.

O caso específico da Argentina

O documento indica que a Argentina suspendeu temporariamente o imposto de exportação de soja no início de outubro, permitindo que a China comprasse até 30 carregamentos adicionais.

Essa operação contribuiu para reforçar as reservas estratégicas do país asiático, em linha com sua meta de autossuficiência alimentar.

O Brasil, por sua vez, está se preparando para uma nova safra recorde, programada para começar em fevereiro, consolidando seu papel na oferta global.