Na Colômbia, plano contra tarifas passa por ampliar exportações de cafés especiais

Federação Nacional de Cafeicultores aposta em industrialização e cafés de valor agregado para ampliar presença nos EUA, enquanto o Brasil, maior produtor global, enfrenta tarifas de 50%

Segundo associação, o café 100% colombiano tem a oportunidade de ampliar sua fatia no mercado global por meio da industrialização. (Foto: Edinson Arroyo/ Bloomberg)
19 de Agosto, 2025 | 10:22 AM

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Não apenas exportar café padrão como matéria-prima, mas também vender cada vez mais cafés especiais e de valor agregado para os Estados Unidos.

Essa é a estratégia adotada pela Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia (FNC) para enfrentar a tarifa de 10% imposta por Donald Trump sobre as vendas externas do grão.

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A Colômbia é o terceiro maior produtor de café do mundo.

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“O que devemos fazer é aproveitar esse momento para melhorar as exportações de café diferenciado para os EUA, como os cafés especiais. É aí que concentramos recursos importantes para atacar esse mercado e não apenas vender produtos padrão, mas também melhorar nossa diferenciação”, disse Germán Bahamón, gerente da FNC, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Segundo Bahamón, a estratégia passa por aumentar a exportação de café torrado na origem e expandir a presença de marcas como Juan Valdez, Dios Mío! Coffee by Sofía Vergara e o Buencafé liofilizado da Colômbia.

Para ele, o café 100% colombiano tem a oportunidade de ampliar sua fatia no mercado global por meio da industrialização.

Atualmente há uma distorção no mercado de café devido às tarifas impostas pelos EUA, que fizeram com que cada uma das origens tivesse uma tarifa diferente, e onde o país produtor de café fica com a menor tarifa possível: a Colômbia tem 10% e concorrentes fortes como a Indonésia com 19%, o Vietnã com 20% e o Brasil, o maior produtor global, com 50%.

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“Embora seja verdade que isso possa ser interpretado como uma vantagem competitiva, é importante observar que há incertezas, porque todos os nossos clientes nos Estados Unidos tiveram complexidades e, obviamente, o que nos interessa neste momento é estar o mais próximo possível deles para analisar qual será a melhor estratégia que permita que os cafeicultores colombianos tenham o melhor pagamento”, disse Bahamón.

O executivo explicou que, embora o atual diferencial tarifário possa aumentar a competitividade do café colombiano, não há, como origem, um estoque disponível nos armazéns capaz de atender de imediato a uma eventual alta na demanda dos Estados Unidos.

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“Peço prudência: não se trata de comemorar vitória nem prever uma hecatombe, mas de agir com responsabilidade junto aos clientes”, afirmou o executivo.

Segundo ele, a vantagem dos cafeicultores colombianos é contar com um sindicato consolidado e forte, capaz de dialogar com compradores nos Estados Unidos e com a National Coffee Association (NCA) para identificar oportunidades.

O café colombiano, com a marca Juan Valdez, tem se consolidado em estados americanos como a Flórida. Com a Almacafé, há atualmente uma aliança com Sofía Vergara para que em 1.700 pontos de venda do Walmart haja café torrado na origem, e a Buencafe está se consolidando com o café liofilizado.

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Quarenta e seis por cento das vendas da fábrica de café liofilizado da FNC vão para a América do Norte.

“Os esforços que temos feito precisam ir nessa direção, onde podemos percorrer a cadeia e capturar o mercado de valor agregado para poder oferecer o melhor possível aos produtores de café colombianos”, disse Bahamón.

Além disso, os pequenos torrefadores dos Estados Unidos exigem cafés de qualidade diferenciada, com perfis de xícara que sejam característicos de cada uma das regiões colombianas.

Preços ‘justo’

Para o gerente da FNC, o preço que os cafeicultores recebem hoje é justo. A volatilidade do preço do grão tem se mantido em níveis acima de US$ 2,90 por libra-peso, o que, segundo ele, é muito importante porque é a única maneira de proteger o elo mais fraco da cadeia.

Atualmente, o preço por libra-peso do café está entre US$ 3,26 e US$ 3,29. “Nesse nível, os cafeicultores recebem um preço justo que gera prosperidade e lhes permite reinvestir para garantir a sustentabilidade do negócio e do setor cafeeiro global”, disse.

Isso se deve ao fato de que hoje há um equilíbrio “quase perfeito” entre a oferta e a demanda, dos 177 milhões de sacas que o mundo precisa para seu consumo e o que os países produtores têm capacidade de oferecer.

Em 2000, o consumo mundial de café foi de 104 milhões de sacas e, até 2030, prevê-se que a demanda esteja próxima de 200 milhões de sacas.

Produção recorde de café

O ano cafeeiro, que se encerra em setembro, deve registrar produção recorde de 14,6 milhões de sacas para a região, sendo o maior volume desde 1991. Em julho, foram colhidas 1,37 milhão de sacas de 60 kg, a maior marca para o mês em uma década.

Isso significa que uma contração é esperada para o resto do ano por motivos naturais.

“Do ponto de vista fisiológico, quando uma lavoura atinge um pico como o atual, é natural que a produtividade caia no ciclo seguinte”, afirmou.

A FNC projeta uma safra de 7,1 milhões de sacas para o segundo semestre, um milhão a menos em relação ao mesmo período anterior.

“No entanto, isso mostra mais uma vez que o fornecimento de países como a Colômbia, que é o terceiro maior produtor de café do mundo e o segundo maior produtor de café arábica, é absolutamente necessário”, enfatizou o gerente da FNC.

Ele acrescentou que o país continua a se consolidar como um país que gera segurança para o setor cafeeiro.

María C. Suárez

Jornalista económico e especialista em Gestão de Marketing com ênfase na investigação. Ex-editor de economia da La W Radio e do Diario La República, em Bogotá.