Importação de carne argentina instala crise entre Trump e pecuaristas nos EUA

Presidente atacou produtores do país, em geral apoiadores dos republicanos, pelas críticas ao plano de ampliar as compras de carne do país sul-americano em tentativa de conter a alta do alimento: ‘eles precisam baixar os seus preços’

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Bloomberg — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atacou pecuaristas norte-americanos por causa das críticas ao seu plano de tentar reduzir os preços recordes da carne bovina com aumento da importação da Argentina.

As críticas de Trump aprofundam uma desavença com um grupo de apoiadores ao seu governo considerados confiáveis e levantam preocupações entre os legisladores republicanos do estado.

Na quarta-feira (22), Trump disse que os pecuaristas deveriam ser gratos por suas tarifas. E afirmou que elas ajudaram a aumentar seus lucros e, ao mesmo tempo, implorou para que eles reduzissem o custo de seus produtos.

“Se não fosse por mim, eles estariam fazendo exatamente o que fizeram nos últimos 20 anos - terrível! Seria bom se eles entendessem isso”, publicou o presidente nas redes sociais.

“Eles também precisam baixar seus preços, porque o consumidor também é um fator muito importante em minha opinião!”

Os comentários do presidente foram feitos um dia depois que o líder da maioria no Senado, John Thune, e outros republicanos disseram que levantaram a questão durante um almoço na Casa Branca.

Vários legisladores disseram que também conversaram com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, com a secretária de Agricultura, Brooke Rollins, e com o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer.

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Thune, republicano de Dakota do Sul, disse que discutiu a importação de carne bovina da Argentina “extensivamente” com a Casa Branca.

O senador John Hoeven, republicano de Dakota do Norte, disse que enfatizou em reuniões com Trump e outros membros do gabinete que os pecuaristas querem ser os únicos a criar mais oferta nos EUA para baixar os preços.

O governo, acrescentou Hoeven, analisa várias soluções para atender às suas preocupações.

A polêmica ilustra o dilema enfrentado por Trump ao elevar os impostos de importação aos níveis mais altos em um século.

Embora os impostos tenham ajudado a proteger algumas indústrias americanas, também ajudaram a aumentar os preços para os consumidores - contra sua promessa de campanha de combater a inflação.

O plano de Trump de aumentar as importações de carne bovina argentina foi recebido com desdém pelos pecuaristas, que disseram que isso poderia esmagar seu setor, enquanto especialistas afirmam que isso faria pouco para baixar os preços.

A carne bovina argentina representa apenas cerca de 2% das importações de carne bovina dos EUA e o aumento da oferta pode ter apenas um efeito marginal sobre o que os consumidores pagam.

“Os participantes do mercado sabem que o aumento das importações da Argentina reduzirá a demanda por gado doméstico, e é por isso que os mercados reagiram negativamente ao plano do presidente”, disse Bill Bullard, diretor executivo do Ranchers-Cattlemen Action Legal Fund e do United Stockgrowers of America, em um comunicado na segunda-feira (20).

“O presidente Trump deve instruir seus agentes antitruste para que determinem até que ponto a suposta fixação ilegal de preços contribuiu para o aumento dos preços da carne bovina hoje.”

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Os preços da carne bovina nos EUA dispararam para níveis recordes, desafiando a promessa de Trump de tornar os mantimentos mais acessíveis.

As importações em alta não conseguiram compensar a grave escassez de gado doméstico.

Tarifas que totalizam 50% sobre os produtos importados do Brasil, o maior exportador de carne bovina do mundo, restringem ainda mais a oferta.

Ao mesmo tempo, muitos fazendeiros que lutam com os preços mais baixos da soja e do milho devido à guerra comercial de Trump com a China dizem que a receita da carne bovina é crucial para manter suas operações em funcionamento.

Rollins disse na terça-feira (21) que o governo lançará em breve um “grande pacote” destinado a reforçar a produção de carne bovina dos EUA, já que os consumidores enfrentam um aumento nos preços.

“O que faremos é incentivar a abertura de novas terras, tornar mais fácil ser um fazendeiro, construir mais fábricas de processamento em todo o país, para que não haja apenas um punhado no meio do país”, disse Rollins em entrevista à CNBC.

Ela acrescentou que, ao longo dos anos, os Estados Unidos enviaram grande parte de sua produção de carne bovina para países como o Brasil, e que agora era o momento de reverter o curso, dizendo: “Poderemos começar a transferir a produção de carne bovina de volta para os Estados Unidos”.

O senador Steve Daines, republicano de Montana, disse que Rollins tem sido “muito receptivo e compartilha a preocupação que muitos de nós temos aqui” sobre a inundação do mercado com carne bovina da Argentina.

-- Com a colaboração de Laura Curtis e Erik Wasson.

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