Café cada vez mais caro nos EUA. E o clima no Brasil deve manter os preços em alta

Chuvas abaixo da média em regiões produtoras do Brasil reduzem a oferta do grão e mantêm os preços em alta em meio às tarifas dos EUA

A worker washes freshly picked coffee cherries in Colombia. Photographer: Juan Cristobal Cobo/Bloomberg
Por Renata Carlos Daou
23 de Outubro, 2025 | 09:45 AM

Bloomberg — Os americanos têm pago mais por uma xícara de café depois que os EUA impuseram em julho uma tarifa de 50% sobre o Brasil, o maior produtor mundial do grão.

Esta semana, os preços subiram novamente no mercado futuro, já que os estoques de grãos brasileiros nos EUA diminuíram para o nível mais baixo desde 2020 e Donald Trump ameaçou impor tarifas à Colômbia, outro grande exportador.

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Mas a guerra comercial do presidente obscurece outro fator importante que impulsiona os preços do café: as mudanças climáticas.

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As regiões produtoras de café no Brasil enfrentam uma seca intensa. No último mês, partes do estado de Minas Gerais, uma importante região produtora de café, registraram cerca de 70% da média de chuvas para esse período.

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Na semana passada, a área recebeu menos da metade da média histórica de chuvas, de acordo com a Bloomberg Brazil Weather Analysis.

“Ainda há a questão climática”, disse Fernando Maximiliano, gerente de inteligência de mercado de café da consultoria StoneX.

“Essas tarifas são uma camada adicional, mas não podemos ignorar o fator principal e estrutural, que é a oferta mais restrita.”

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Desde agosto deste ano, os preços futuros do arábica, uma variedade de grãos de café cultivada principalmente no Brasil, subiram quase 40% e estão próximos de níveis recordes.

Os preços do Robusta, outra variedade usada principalmente para café instantâneo, aumentaram cerca de 37%.

(Fonte: ICE via Bloomberg)

O Brasil produz quase 40% do café do mundo. O país tem passado por secas todos os anos desde 2020, resultando em uma demanda global de café superior à oferta, segundo analistas.

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Maximiliano espera que a situação se equilibre, não por causa do aumento da produção, mas porque as pessoas estão cortando o café devido aos altos preços.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão do governo brasileiro que gerencia a política agrícola, disse que espera que as chuvas recentes atenuem o estresse sobre as plantas causado pela seca anterior.

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No início deste mês, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, iniciaram conversações para remover as tarifas sobre os produtos brasileiros, o que resultaria em preços mais baratos do café para os consumidores, uma vez que as importações reabasteceriam os armazéns dos Estados Unidos.

No longo prazo, porém, espera-se que os preços continuem subindo com o aumento das temperaturas.

Devido às mudanças climáticas, apenas cerca de 50% das regiões de cultivo de café atuais serão adequadas para a produção de café até 2050, segundo estudos.

Os países produtores já se preparam para o futuro.

Pesquisadores no Brasil têm zoneado novas áreas de cultivo de café com temperaturas amenas, chuvas ou opções de irrigação.

Os países, incluindo o Brasil e Uganda, também buscam formas de proteger as plantas do calor e da seca, bem como a clonagem para criar culturas mais resistentes ao calor.

“O Brasil é um país muito rico”, disse Kleber Santos, auditor fiscal do Ministério da Agricultura do Brasil.

“Uma grande vantagem para nós é que, aqui mesmo no país, podemos encontrar condições adequadas e diferenciadas para o café.”

O arábica, que alcança os preços mais altos, é mais sensível às mudanças climáticas do que o robusta, que tolera temperaturas mais altas. Independentemente da variedade, a produção de café precisa de chuvas constantes.

Andrea Illy, presidente da IllyCaffe, uma empresa italiana de café, estima que menos de 10% das plantações de café do mundo são irrigadas.

Ele espera que essa parcela precise aumentar para um terço para acompanhar as tendências climáticas e a demanda atuais.

Essa e outras mudanças para tornar o café mais resistente aumentarão ainda mais seu custo, incluindo o investimento em novas técnicas de produção, fertilizantes e melhor coleta de grãos de café.

“Se o clima está mudando, temos que entender isso e nos adaptar”, disse Daniel El Chami, diretor de estratégia sustentável da TIMAC AGRO International, que oferece soluções tecnológicas para a agricultura sustentável.

“Não podemos continuar criando novas necessidades e novos materiais de consumo como se o clima não existisse.”

-- Com a ajuda de Ilena Peng, Dayanne Sousa e Emma Court.

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