BrasilAgro prioriza tecnologia para mitigar efeito do clima após prejuízo de R$ 64 mi

Executivos da companhia explicam como têm utilizado telemetria, drones e integração de dados para mitigar perdas e recuperar margens; trimestre foi afetado pela redução de 19% no volume de cana comercializada na safra 2025/26 e pela ausência de vendas de terras

Geada tardia em região produtora de cana-de-açúcar da empresa afetou volume de comercialização, e, consequentemente, os resultados financeiros (Foto: Paulo Fridman/ Bloomberg)
06 de Novembro, 2025 | 09:54 PM
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Bloomberg Línea — A BrasilAgro tem utilizado uma combinação de tecnologias como telemetria, drones e sistemas de gestão integrados, como SAP e Agrobit, para buscar mitigar efeitos das mudanças climáticas que foram, em parte, responsáveis por um resultado negativo no início da safra 2025/2026.

Segundo o CEO André Guillaumon, a tecnologia tem permitido identificar falhas de plantio, antecipar decisões e ajustar pulverizações em tempo real.

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“Estamos muito satisfeitos com os primeiros resultados alcançados com a telemetria, e a forma como a gente está gerindo isso. É o futuro do agronegócio brasileiro”, disse o executivo em entrevista a jornalistas para comentar o resultado do trimestre encerrado em 30 de setembro.

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Apesar de as ferramentas já operarem nas 16 unidades de produção, os resultados do primeiro trimestre fiscal da empresa mostraram o peso das condições climáticas adversas, como uma geada tardia na região de Brotas (SP), e de um cenário de preços pressionados.

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No período, a companhia registrou receita líquida de R$ 303 milhões, queda de 33% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Os executivos atribuíram o resultado à redução de 19% no volume de cana comercializada no primeiro trimestre do ano safra de 2026, à ausência de ganhos com venda de fazendas, que somaram R$ 107,9 milhões no mesmo trimestre do ano anterior, e aos impactos de cerca de R$ 40 milhões negativos com ajustes de valor justo de ativos biológicos e recebíveis de venda de fazendas, afetados pela valorização do real ante o dólar e pela queda no preço da saca de soja.

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Com isso, a empresa reverteu o lucro líquido de R$ 97,4 milhões do mesmo período do ano passado e registrou prejuízo líquido de R$ 64,2 milhões.

O Ebitda ajustado - importante métrica nos negócios - ficou negativo em R$ 64,3 milhões.

Além da queda na produtividade da cana, a liquidação de algodão de menor qualidade e a margem negativa na pecuária também pressionou o resultado.

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“Temos buscado ser bastante rigorosos na rotação de culturas, evitando repetir soja sucessivamente no mesmo lote e mantendo cerca de 80% da área com cobertura vegetal para reduzir erosão e enfrentar melhor os veranicos e as mudanças climáticas”, disse Gustavo Javier Lopez, diretor financeiro da companhia.

O trimestre da companhia foi afetado ainda por ajustes de valor justo dos ativos biológicos e recebíveis de venda de fazenda, que tiveram impacto contábil de cerca de R$ 40 milhões negativos, em função da valorização do real e da queda no preço da soja.

O diretor financeiro explicou que parte relevante do resultado reflete ajustes contábeis e não de caixa.

“O resultado está influenciado por muitas estimativas que nada têm a ver com fluxo de caixa, principalmente os recebíveis de venda de fazenda e a marcação dos arrendamentos. Mas, do ponto de vista operacional, estamos dentro do planejado”, disse.

A ação da empresa (AGRO3) caiu 2,25% no fechamento desta quinta-feira (6), a R$ 19,95. No acumulado do ano, a queda é de 10,34%.

Venda de fazendas

Mesmo com um cenário de margens mais apertadas, Guillaumon reforçou que a estratégia de venda de fazendas continua sendo um pilar central da companhia.

“Vender fazenda está no nosso DNA. Somos uma empresa anticíclica e vamos continuar fazendo bons negócios mesmo em um cenário desafiador. Há produtores capitalizados, especialmente na Bahia e no Paraguai, buscando áreas com potencial de irrigação, e nós temos esses ativos”, avaliou o CEO, que disse que a empresa faturou cerca de R$ 369 milhões com venda de fazendas na média dos últimos cinco anos anos.

“Essa diversificação do portfólio, que começou pensando na produção, está se mostrando muito eficiente também do lado imobiliário”, disse.

O portfólio da BrasilAgro soma 252,8 mil hectares distribuídos entre seis estados do Brasil, Paraguai e Bolívia. O valor de mercado das propriedades foi estimado em R$ 3,5 bilhões, segundo dados da consultoria Deloitte citados no balanço da empresa, o que representa um crescimento médio de 18% ao ano nos últimos cinco anos.

Guillaumon ponderou que o arrendamento já começou a mostrar sinais de acomodação e, por isso, tem olhado para outros negócios, como a compra de terras.

“Temos visto uma redução de preço na casa de um a dois sacos e isso aparece nas propostas que chegam até nós. Nesse cenário, estamos olhando para outras oportunidades, como cana, irrigação e novos segmentos. Mas, hoje, uma operação tradicional de arrendamento de soja, milho ou safrinha no Mato Grosso, com esses níveis atuais, nós não vamos fazer”, disse o executivo à frente da companhia.

O CEO reforçou que o objetivo é garantir uma operação mais estável no longo prazo, mesmo em um setor sujeito a ciclos e choques climáticos.

“O que a gente tem que ter é uma companhia sustentável no médio e longo prazo. Sabemos que o agro não pode ser mostrado em sua complexidade em uma foto, tem que ser mostrado em um filme”, disse o executivo, ao comentar a complexidade por trás dos resultados e a importância de olhar a empresa sob uma perspectiva de longo prazo.

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