Além do frango e do ovo: Korin avança em bioinsumo e mira soluções ambientais

Empresa controlada pela Igreja Messiânica diversifica o portfólio e vê espaço para dobrar de tamanho, diz Sérgio Homma, CEO para Agricultura e Meio Ambiente, à Bloomberg Línea

Sede da Korin
18 de Junho, 2025 | 01:14 PM

Bloomberg Línea — Com atuação reconhecida na produção de ovos e frangos orgânicos, a Korin vem ampliando sua frente de negócios agrícolas, com foco em bioinsumos: de microorganismos para o solo aos fertilizantes biológicos.

Após uma reestruturação em julho de 2021, o engenheiro agrônomo Sérgio Homma passou a liderar a divisão de Agricultura e Meio Ambiente, enquanto Luiz Carlos Demattê Filho segue à frente da unidade de Alimentos como CEO.

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“A Korin Agricultura nasceu como um centro de pesquisa interno, voltado exclusivamente à nossa produção. Só em 2018 a área se tornou uma empresa independente, com foco em pesquisa, fabricação e comercialização de insumos biológicos”, disse Homma à Bloomberg Línea.

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Segundo o executivo, o objetivo é escalar outras frentes do portfólio da divisão. “Enxergamos espaço para dobrar o tamanho da operação”, disse.

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Atualmente, a capacidade produtiva da fábrica em Ipeúna, no interior de São Paulo, é de 2,4 milhões de litros de bioinsumos por ano, mas, para atingir esse volume, ainda são necessários ajustes em etapas como envase, filtração e gestão de estoques, disse o executivo. Hoje, a produção anual gira em torno de 1,3 milhão de litros.

Os bioinsumos começaram a ser comercializados na empresa de forma “tímida” em 2015. Mas, a partir de 2018, impulsionada pelo avanço do mercado de biológicos e por uma crise com o aumento nos preços dos fertilizantes convencionais, a operação ganhou tração.

O carro-chefe da empresa é o Bokashi, um biofertilizante líquido que pode ser utilizado no solo ou na planta e que é responsável por cerca de 80% da receita da divisão.

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Outro braço importante da empresa é a parte de pesquisa e desenvolvimento, onde atualmente é reinvestido entre 16% e 17% do faturamento anual nessa frente.

Parte desses recursos vem de programas de subvenção como de FAPESP e FINEP, além de incentivos fiscais via Lei do Bem.

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“Nossa base sempre foi científica. O que trouxemos do Japão, ainda lá atrás, continua sendo disruptivo, e isso exige uma estrutura de pesquisa sólida e contínua”, disse.

Além dos biológicos

O portfólio da Korin inclui soluções voltadas a produção animal, aquicultura, compostagem e biorremediação, para a redução de odores.

A expectativa da empresa é que as linhas ambiental e animal avancem mais rapidamente nos próximos anos, impulsionadas por um consumidor ávido por práticas mais sustentáveis nas cadeias produtivas.

“Essas áreas devem crescer mais de 100% já neste ano, pois partem de uma base menor. Para 2026 e 2027, projetamos expansão anual de até 30%”, afirmou Homma.

A empresa desenvolveu um neutralizador de odores para pets, disponível em seu e-commerce.

A entrada em grande escala nesse mercado, como pet shops, porém, ainda depende da chegada de um parceiro comercial.

“Estamos esperando alguém que compre essa ideia junto com a gente”, disse Homma.

Apesar da alta nos custos e do aperto no caixa dos produtores desde 2023, que esfriaram o apetite por bioinsumos, a Korin Agricultura projeta um crescimento de 5% a 10% na safra atual, com uma retomada mais robusta a partir de 2026.

Homma também avalia que a verticalização da produção será um passo essencial para a sustentabilidade financeira da empresa.

Hoje, cerca de 80% dos produtos são desenvolvidos internamente, e a meta é alavancar esse processo nos próximos dois a três anos.

Sérgio Homma, CEO da Korin Agricultura e Meio Ambiente

“Manter [o desenvolvimento] dentro de casa dá mais controle de qualidade e torna a operação mais eficiente economicamente.”

Propósito

Controlada pela Igreja Messiânica Mundial, a Korin não tem planos imediatos de abrir o capital ou trazer novos sócios, ainda que, segundo Homma, a companhia receba sondagens de investidores interessados em seu modelo de negócio sustentável.

A relação com a controladora, segundo o CEO, é profissional e estruturada via conselho de administração.

“Há uma orientação muito clara em relação à ética e à conduta. Isso não limita o exercício empresarial, mas define os princípios com os quais queremos crescer.”

No site da Korin, a empresa diz que segue os ensinamentos da Agricultura Natural formulados por Mokiti Okada, fundador da empresa e da Igreja Messiânica.

“Todas as decisões que tomamos - estratégicas, empresariais e até em relação à forma de atuação da empresa - são fortemente baseadas nos princípios que ele [Okada] nos deixou”, disse o executivo.

Segundo Homma, a controladora não tem interesse em receber dividendos e reinveste o lucro da empresa no próprio negócio.

“Temos uma visão de longo prazo. Não buscamos crescer a qualquer custo, mas com propósito e responsabilidade.”

“O nosso papel é justamente transformar esse passivo ambiental em algo que contribua para o equilíbrio ecológico, com uso de produtos biológicos que tratam os resíduos, reduzem o odor e a carga patogênica desses dejetos”, disse o CEO.

A empresa também estuda ampliar a sua atuação com produtos voltados à pecuária animal. Para isso, tem intensificado parcerias com centros de pesquisa e universidades.

“Queremos ampliar nossa base científica, investir em ensaios clínicos e comprovações que ajudem a romper barreiras ainda existentes na adoção dos bioinsumos em larga escala na pecuária”, disse.

Para o consumidor final, produtos de frango orgânico são a face mais conhecida da Korin (Foto: Bloomberg Línea)

A estratégia também está ligada à diversificação do portfólio e à redução da dependência do mercado de grãos, que é mais volátil.

“Hoje, o setor agrícola ainda responde pela maior parte do nosso faturamento, mas vemos na área animal e ambiental um caminho de médio e longo prazo para garantir sustentabilidade financeira e relevância no mercado”, disse o executivo.

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A empresa tem desenvolvido soluções para tratamento de efluentes e recuperação de solos contaminados, atendendo desde pequenas propriedades até grandes empreendimentos do setor industrial.

“Muitas pessoas associam bioinsumo exclusivamente à agricultura, mas essa fronteira se expande rapidamente”, disse Homma.

Apesar dos projetos e das frentes em desenvolvimento, a empresa se descreve cautelosa quanto ao ritmo de expansão.

“Nós sabemos que o mercado de bioinsumos é promissor, mas ainda muito desafiador em termos de escalabilidade e convencimento”, ponderou.

Para Homma, o DNA da empresa está em olhar para o futuro, para avançar em novos mercados, mas com os pés no chão.

Mercado externo

Apesar de já ter exportado para países como Bolívia, Chile e alguns do continente africano, além de ter o Oriente Médio no radar, o CEO da Korin disse que mantém os “pés no chão” quanto à internacionalização, que ainda representa uma fatia pequena dos negócios.

Isso acontece também porque o foco atual da Korin Agricultura e Meio Ambiente está em crescer no Brasil.

“Não é que não temos interesse em ir para fora, mas entendemos que precisamos estar mais consolidados antes de dar esse passo”, disse Homma, que vê que no momento atual o mercado externo impõe mais exigências, com legislações fiscais e regulatórias mais rígidas.

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“Para sermos um exportador com responsabilidade, precisamos ao menos dobrar de tamanho”, afirmou o executivo, que prevê um horizonte de cinco anos para concretizar a estratégia de crescimento.

A confiança vem da percepção de que há um mercado em busca de soluções como as que a empresa oferece.

O executivo faz questão de buscar se diferenciar de concorrentes do setor de biológicos que, nos últimos anos, cresceram rápido demais, segundo ele, e acabaram enfrentando dificuldades financeiras.

“Muitas empresas se alavancaram fortemente e agora estão reduzindo de tamanho ou até entraram em recuperação judicial. Nós seguimos um caminho mais planejado, oferecendo apenas o que sabemos que é de boa qualidade. Às vezes, isso leva mais tempo, mas vale a pena”, disse.

Internamente, a produção de bioinsumos atende a menos de 10% das necessidades do próprio grupo, o que também motivou a abertura da nova empresa e sua entrada no mercado.

“O consumo interno era pequeno e limitava os investimentos em melhoria. Colocar no mercado era a forma de viabilizar esse aprimoramento”, afirmou.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.