Bloomberg — As tarifas de Donald Trump já têm abalado o comércio agrícola, ao atrasar a compra de tratores e restringir a importação de insumos químicos para os Estados Unidos.
Essa tem sido a principal mensagem de grandes empresas do setor agrícola ao divulgarem seus resultados trimestrais, oferecendo uma prévia dos impactos abrangentes da guerra comercial do presidente dos EUA.
As interrupções no comércio global ameaçam prolongar uma recessão que já dura anos no setor agrícola americano, que vem sofrendo com excesso de oferta, preços deprimidos das commodities e concorrência crescente do Brasil.
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A falta de clareza sobre como o governo Trump lidará com os incentivos tão necessários para os biocombustíveis nos próximos anos só aumentou as preocupações.
As tradings e processadoras de grãos estão entre as mais afetadas.
A Archer-Daniels-Midland e a Bunge Global viram seus lucros operacionais combinados caírem cerca de US$ 750 milhões no primeiro trimestre, com ambas citando o impacto da incerteza em relação à política comercial e de biocombustíveis.
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Importadores postergaram compras de grãos e oleaginosas dos EUA à medida que Trump ameaçava impor tarifas e taxações sobre navios chineses que atracassem em portos americanos, o que reduziu o fluxo do comércio, segundo a trading The Andersons.
“As incertezas no comércio global interromperam os fluxos típicos de grãos e fizeram com que muitos de nossos clientes comerciais se concentrassem em compras no modelo just-in-time,” disse William Krueger, CEO da The Andersons, na última semana em teleconferência com investidores.
Os fabricantes de tratores CNH Industrial e AGCO também relataram queda nas vendas no primeiro trimestre e alertaram para uma possível redução na demanda por parte dos agricultores — o que diminuiria a capacidade de investimento em máquinas para plantar, colher e tratar os campos.
Ambas as empresas elevaram os preços para mitigar o impacto das tarifas nos custos.
“As incertezas geopolíticas e as tensões comerciais têm prejudicado o sentimento dos agricultores nos EUA recentemente,” afirmou Eric Hansotia, CEO da AGCO, em teleconferência com analistas. “Como resultado, a demanda por máquinas foi menor no trimestre do que esperávamos.”
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As tarifas também ameaçam restringir as importações de fertilizantes e pesticidas.
Os embarques de fosfato — um nutriente essencial para as lavouras — para os EUA estão abaixo dos níveis do ano passado, já que navios têm sido desviados para outros países a fim de evitar a tarifa de 10% imposta pelos EUA, informou a Mosai em seu relatório de resultados.
“O mercado de fosfato continua apertado e, embora as tarifas possam alterar os fluxos comerciais, elas não criam mais oferta de fosfato,” disse o CEO Bruce Bodine em teleconferência com investidores.
Espera-se que os agricultores paguem mais por pesticidas, já que os EUA dependem de países atingidos por tarifas, como China e Índia, para parte desses insumos.
A Nutrien afirmou que seus produtos de marca podem ter um aumento de até 7,5% nos preços, com reajustes ainda maiores previstos para ingredientes genéricos.
“Resumindo, vamos ver aumentos de preços,” disse Jeff Tarsi, presidente de varejo global da Nutrien, em teleconferência na última semana. “Nosso plano é repassar esses aumentos para os nossos clientes.”
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O Brasil, por outro lado, emerge como um dos vencedores das tensões comerciais.
A Minerva afirmou que a turbulência tarifária elevou a demanda chinesa e os preços de exportação da carne bovina sul-americana no primeiro trimestre, ajudando a aumentar os lucros da fornecedora brasileira.
Enquanto isso, a China praticamente fechou seu mercado para exportadores de carne dos EUA, como a Smithfield Foods.
A China, maior importadora mundial de commodities, já passou a recorrer ao Brasil de forma ampliada para uma parte significativa de suas necessidades de soja desde que Trump começou a aplicar tarifas sobre produtos chineses em 2018.
“Quaisquer impactos negativos sobre a lucratividade dos produtores americanos resultantes das tarifas e da mudança nos fluxos comerciais provavelmente beneficiarão os produtores brasileiros,” afirmou Jenny Wang, vice-presidente executiva de operações comerciais da Mosaic, em teleconferência com analistas.
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