Opinión - Bloomberg

Netflix cresceu com construção de produto. Compra da Warner foge do modelo e tem riscos

Negócio no valor de US$ 72 bilhões marca junção de entretenimento com tecnologia e oportunidade para a Netflix ampliar catálogo, mas também traz questões de defesa da concorrência e problemas na integração cultural das empresas

Netflix apostó al K-Pop, pero Elon Musk y los aranceles frenaron su impulso.
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — No triunfo dos disruptores, a Netflix (NFLX) anunciou que venceu a disputa pela renomada produtora de Hollywood Warner Bros. Discovery com um acordo de US$ 72 bilhões em dinheiro e ações. Mas será que isso realmente faz sentido?

A transação, que vale US$ 83 bilhões incluindo dívidas, marca claramente um momento histórico no ataque da indústria de tecnologia ao negócio do cinema. A compra da Metro-Goldwyn-Mayer e da franquia James Bond pela Amazon (AMZN) por US$ 8,5 bilhões é bastante morna em comparação com esta.

E a aquisição de um nome como Warner por uma empresa de tecnologia pode ter um senso de inevitabilidade, dada a mudança nos hábitos de visualização para streaming e rolagem de feeds, em vez de ficar sentado por 90 minutos ou mais em um cinema.

Ainda assim, as primeiras avaliações são mistas.

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A lógica mais forte reside em oferecer mais conteúdo aos assinantes da Netflix para mantê-los fiéis à plataforma. O acervo adquirido tem algumas franquias fenomenais, incluindo Harry Potter e o Universo DC.

Leia mais: Como a Netflix superou Paramount e Comcast na compra da Warner por US$ 72 bilhões

Na televisão, o acordo une a Netflix à HBO. Os chefes da Netflix acreditam que podem distribuir o conteúdo da Warner para mais espectadores do que atualmente. Supondo que eles consigam – e a Netflix já mostrou que sabe como aumentar sua base de assinantes pagantes – há valor a ser explorado.

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Financeiramente, há algumas economias decentes com o corte de custos duplicados gerais, no valor de cerca de US$ 2,5 bilhões por ano, respeitáveis 6% da receita da Warner no ano passado. Isso reduz o múltiplo do valuation da transação de 25 vezes para 14 vezes o lucro de 2026 (medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

O valuation dos acordos com os estúdios têm ficado na faixa de 15 a 22 vezes o Ebitda, de acordo com a Bloomberg Intelligence. Essas sinergias contribuem significativamente para aliviar a tensão.

O acordo exclui as redes de TV a cabo tradicionais da Warner, como CNN e TNT, que estão em processo de desmembramento.

Há também alguns benefícios táticos mais amplos. Se a Netflix controlar o conteúdo, ela garantirá uma série de títulos lucrativos para si mesma, em vez de ter que fechar um acordo de licenciamento com a Warner ou outro futuro proprietário.

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As desvantagens variam em grau. A dívida aumentará à medida que a empresa contrair empréstimos para financiar a maior parte do componente em dinheiro do preço de oferta de US$ 27,75 por ação.

Os números são impressionantes. A Netflix deve levantar US$ 50 bilhões, além de assumir US$ 11 bilhões em dívida líquida. Ainda assim, a Bloomberg Intelligence acredita que a significativa geração de caixa da Netflix deve permitir que ela reduza rapidamente sua alavancagem.

Mais preocupante é o risco de choque cultural entre duas organizações muito diferentes e a possibilidade de o público se cansar de algumas das franquias de grande nome adquiridas.

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O acordo também compromete tempo e recursos financeiros que poderiam ter sido melhor gastos simplesmente comprando ou produzindo mais conteúdo internamente — em esportes, por exemplo, alertam analistas do Barclays.

“Estamos surpresos que a Netflix tenha sentido a necessidade de gastar mais de US$ 80 bilhões e pagar um prêmio por algo que ela mesma revolucionou, e não está claro qual problema ou oportunidade a Netflix está resolvendo que não poderia ter sido alcançado organicamente”, disseram os analistas do Barclays.

Leia mais: CEO da Warner pode se tornar bilionário com a venda de US$ 72 bi para a Netflix

Além disso, há o fato de que a Netflix nunca fez um negócio tão grande como este antes. Mesmo que queira manter os ativos da Warner funcionando como entidades quase autônomas, a falta de experiência em supervisionar uma integração dessa magnitude deve ser uma preocupação. De qualquer forma, há um longo histórico de grandes negócios de mídia que lutam para criar valor.

Acima de tudo, o que os espectadores ganham com isso? A questão principal é se essa união levará à criação de um ótimo conteúdo que nenhuma das duas empresas teria feito de outra forma — ou se, na verdade, menos filmes e programas de televisão memoráveis acabarão sendo produzidos.

A Netflix destaca que tem uma década de experiência na produção de conteúdo, enquanto a Warner tem mais de um século. Mas o comentário ressalta a preocupação de que a Netflix, como nova controladora, não traga as habilidades que permitirão à Warner desempenhar melhor sua função principal de criar entretenimento.

A transação também não tem um caminho tranquilo até a conclusão. A combinação de serviços de streaming concorrentes levanta questões óbvias de defesa da concorrência. E está claro que a rival Paramount Skydance, de David Ellison, está desesperada para colocar as mãos na Warner. Ainda não se sabe como ela reagirá; contestar uma aquisição acordada é uma tarefa difícil, mas não impossível.

As ações da Netflix caíram mais de 15% desde meados de outubro, à medida que aumentavam as expectativas de uma oferta como essa. Mas se o negócio acabar não dando certo, os acionistas da Netflix podem ficar felizes se a empresa voltar ao que a tornou o que é hoje: construir, em vez de comprar.

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Chris Hughes é um colunista da Bloomberg Opinion que cobre negócios. Ele trabalhou anteriormente para a Reuters Breakingviews, bem como para o Financial Times e o jornal Independent.

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