Data centers e transição: Hitachi Energy prevê dobrar operação no Brasil em três anos

Investimentos em modernização de redes são necessários para que o país capture a demanda relacionada à transição energética e à atração de data centers para IA, disse o CEO da Hitachi Energy, Glauco Freitas, em entrevista à Bloomberg Línea

Hitachi Energy headquarters in Zurich, Switzerland (Foto: Divulgação)
27 de Novembro, 2025 | 06:18 AM

Bloomberg Línea — A Hitachi Energy, líder global no desenvolvimento de soluções para transmissão de energia, prevê dobrar o tamanho de sua operação no Brasil em três anos, diante de grandes tendências como transição energética e data centers para IA.

“O Brasil terá um crescimento de demanda vertiginoso por eletricidade, seja pela eletrificação da indústria em si quanto pela alta procura daquelas que são eletrointensivas, como é o caso dos data centers”, afirmou Glauco Freitas, CEO da Hitachi Energy Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Para que esse potencial de negócios seja devidamente explorado, no entanto, o país terá que realizar investimentos de forma coordenada, em movimento que passa por governos e pela iniciativa privada, de acordo com o executivo.

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“Precisamos garantir que essas indústrias que demandam eletrificação se instalem no Brasil o quanto antes. O grande desafio é garantir o entendimento de que as redes precisam ser modernizadas imediatamente, para que não se perca essa demanda que está passando na nossa porta”, afirmou.

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O Brasil, que já é referência no setor e tem uma das maiores redes interligadas do mundo, tem o desafio de aplicar as inovações tecnológicas em uma infraestrutura já consolidada, enquanto países que começaram recentemente o processo de expansão já crescem com integração de novas tecnologias às suas redes.

Segundo o executivo, uma das tecnologias já implementadas que poderiam ganhar protagonismo é o sistema HVDC, que permite transportar blocos de energia por longas distâncias, com perdas menores que os sistemas convencionais.

Em linhas com 2.000 km de extensão, por exemplo, a Hitachi estima que o HVDC perde cerca de 5% da potência, enquanto a transmissão tradicional em corrente alternada perde o dobro.

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Outra solução que precisaria ser implementada são os sistemas de armazenamento em baterias, especialmente necessários para lidar com a intermitência de fontes renováveis como energia solar e eólica.

As baterias são capazes de reter energia quando há excesso de geração e distribuir o excedente em momentos de maior demanda.

Existe ainda uma expectativa pela digitalização das redes elétricas com a instalação de sensores e software de gerenciamento em tempo real, com soluções que fazem uso de IA (Inteligência Artificial) e que permitem prever e se antecipar à demanda, em vez de agir de forma reativa.

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Seria uma solução prioritária para atração de data centers, que têm um comportamento de picos e “vales” em consumo de energia.

Glauco Freitas, country managing director at Hitachi Energy Brazil, during the Bloomberg Green At COP30 event in Sao Paulo, Brazil, on Tuesday, Nov. 4, 2025. Bloomberg will bring together top leaders from business, finance, policy, academia and NGOs for candid discussions in Sao Paulo focused on creating solutions to support the goals set forth at COP30. Photographer: Jonne Roriz/Bloomberg

Do lado do governo, responsável pela regulação e pela regulamentação do setor, o CEO disse enxergar um interesse grande das autoridades em conhecer as tecnologias disponíveis.

A Hitachi Energy, antes denominada Hitachi ABB Power Grids, em joint venture da japonesa Hitachi com a sueca ABB Power Grids, atua na produção de equipamentos e sistemas de transmissão e no desenvolvimento de soluções de tecnologia que permitem à eletricidade percorrer longas distâncias de forma eficiente.

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As redes que conectam as usinas hidrelétricas de Itaipu, do rio Madeira (Santo Antônio e Jirau) e de Belo Monte foram estruturadas pela empresa, além de 40% das redes que interligam parques eólicos e 50% dos solares.

Os principais produtos da Hitachi são os transformadores, os sistemas HVDC (corrente contínua em alta tensão, na sigla em inglês) e os equipamentos de alta tensão.

Para viabilizar o avanço na demanda por eletricidade, a Hitachi anunciou em 2024 um investimento de US$ 200 milhões (mais de R$ 1 bilhão) no Brasil para aumentar sua capacidade de produção.

Cerca de 80% do valor vem sendo aplicado na construção de uma nova fábrica de transformadores de energia, localizada em Pindamonhangaba, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo.

Os outros 20% são para a expansão da planta de Guarulhos, na Grande São Paulo, que fabrica transformadores e equipamentos de alta tensão no país desde 1954.

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Globalmente, a Hitachi Energy tem investido mais de US$ 1 bilhão na sua frente de serviços, em particular com a sua nova plataforma HMAX Energy, de digitalização com uso de IA, com a expansão e a capacitação de mão de obra.

A indústria de transmissão de energia cresce no mundo justamente em razão das tendências acima citadas de expansão da demanda com a transição energética e as novas capacidades de uso de IA com uso de data centers, o que tem atraído investimentos de gigantes do mercado de capitais.

No fim de outubro, a Hitachi Energy anunciou a aquisição de uma participação minoritária na Shermco, uma empresa recém-adquirida pela Blackstone - seu “braço” de fundos para transição energética - voltada para reforçar a segurança e a capacidade de transmissão em redes nos Estados Unidos.

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