CEOs de Wall St acumulam maior poder em seus bancos desde a crise de 2008

Pela primeira vez desde 2007, os chefes executivos das seis maiores instituições financeiras dos EUA acumulam o cargo de presidente do conselho; mudança reflete o atual momento do setor, mas gera preocupações sobre a governança

Da esquerda para a direita, Charlie Scharf,  Brian Moynihan, Jamie Dimon e Jane Fraser
Por Todd Gillespie - Katherine Doherty
25 de Outubro, 2025 | 06:00 AM

Bloomberg — Na última vez em que todos os chefes executivos de bancos dos Estados Unidos também presidiam seus conselhos de administração, Steve Jobs lançava o primeiro iPhone e o Bear Stearns tinha valor de mercado de cerca de US$ 20 bilhões.

Depois que a CEO do Citigroup, Jane Fraser, assumiu nesta semana o cargo de chair, é a primeira vez, na era moderna do sistema financeiro americano, que os CEOs dos gigantes de Wall Street comandam simultaneamente os seus conselhos.

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A última vez que o Citigroup teve a mesma pessoa como CEO e presidente do conselho havia sido em 2007 — época em que Bear Stearns, Lehman Brothers, Merrill Lynch e Washington Mutual ainda eram grandes nomes do setor bancário, antes de a crise financeira global transformar a indústria.

Três meses atrás, Charlie Scharf foi igualmente promovido a presidente do conselho do Wells Fargo, juntando-se a Jamie Dimon, do JPMorgan Chase; David Solomon, do Goldman Sachs; Brian Moynihan, do Bank of America; e Ted Pick, do Morgan Stanley, que recebeu o título de chairman em janeiro.

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A concentração de poder ocorre em um momento em que os lucros no setor sobem com o impulso dos juros mais altos e o aquecimento dos mercados de fusões e aquisições, o que fez as ações dos seis maiores bancos subirem mais de 20% no último ano. As do Citigroup foram as que mais avançaram, com alta de 53%.

Esse cenário de conforto não agrada a todos, especialmente enquanto reguladores afrouxam padrões e os chefes de bancos recebem pacotes de remuneração generosos, impulsionados pelo bom desempenho das ações.

Ao ser nomeada chair do Citigroup, Fraser ganhou um bônus especial de dezenas de milhões de dólares, como incentivo para permanecer na instituição — em movimento semelhante ao prêmio de US$ 30 milhões em ações restritas concedido a Charlie Scharf, em julho, quando ele assumiu a presidência do conselho do Wells Fargo.

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“Reis cujos nomes vêm seguidos de ‘o Grande’ costumam reinar em tempos de prosperidade econômica”, disse Mike Mayo, analista do Wells Fargo que criticou o pagamento especial a Fraser por considerá-lo excessivo e prematuro. “A frase ‘não confunda inteligência com um mercado em alta’ me vem à cabeça.”

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Os seis executivos — que juntos receberam US$ 212,7 milhões no ano passado — somam mais de meio século de experiência combinada como CEOs.

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Alguns, como Fraser, de 58 anos, e Scharf, de 60, estão conduzindo difíceis planos de reestruturação em suas instituições. Todos indicaram que pretendem permanecer nos cargos por muitos anos.

No início deste ano, Solomon, de 63 anos, e seu provável sucessor, John Waldron, receberam bônus de retenção de US$ 80 milhões cada.

O CEO com mais tempo no posto entre eles, Jamie Dimon, de 69 anos, sugeriu em maio que ainda tem “anos de energia no tanque”.

Pick, de 56, assumiu a função de CEO apenas no ano passado, e Moynihan, de 66, não dá sinais de que pretende deixar o comando, mesmo após 15 anos no cargo.

Mudança de clima

Há alguns anos, o clima era bem diferente.

O Morgan Stanley ainda escolhia entre três candidatos para suceder James Gorman. Solomon enfrentava turbulência entre seus principais executivos, em meio a discordâncias sobre a estratégia e cortes salariais.

E Scharf e Fraser eram questionados sobre sua capacidade de superar as restrições regulatórias que pressionavam as ações de seus bancos.

Agora, talvez no momento mais estável para os chefes dos grandes bancos americanos em tempos recentes, os investidores têm poucos motivos para reclamar: os seis maiores bancos dos EUA aumentaram suas recompras de ações em cerca de 75% no terceiro trimestre, para mais de US$ 27 bilhões, valorizando as participações dos acionistas existentes.

Embora hoje existam menos grandes bancos — e cada um detenha proporcionalmente mais poder —, Wall Street também se transformou bastante para as instituições financeiras em comparação com duas décadas atrás, quando regras mais flexíveis permitiam apostas arriscadas e o crédito privado ainda era um nicho.

Isso significa que os conselhos estão sob mais pressão para reter talentos e evitar perdê-los para firmas de private equity, que costumam pagar salários mais altos.

“Nem sempre é fácil encontrar um bom líder”, disse Jason Goldberg, analista do Barclays que acompanha o setor desde 1995. “Então, quando se encontra um, cabe ao conselho de administração garantir que ele continue no cargo.”

-- Com a colaboração de Hannah Levitt.

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