Opinión - Bloomberg

O poder das stablecoins está em facilitar as transferências de dinheiro

Criadas para dar agilidade e reduzir custos nas transações, as stablecoins podem impulsionar a inovação no mercado de pagamentos; o desafio de reguladores é garantir que elas cumpram esse papel e não se transformem em instrumentos de captação de depósitos

U.S. one-dollar bills are displayed
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Bloomberg Opinion — As criptomoedas estão em alta — e nenhuma mais do que as chamadas stablecoins, que buscam imitar o valor do dólar.

Há um bom motivo para isso: embora não sejam isentas de riscos, elas oferecem uma forma rápida e barata de transferir dinheiro — algo de que os consumidores americanos precisam urgentemente.

Para os reguladores, o objetivo deve ser garantir que as stablecoins possam trazer a concorrência tão necessária ao setor de meios de pagamento, sem desestabilizar o sistema bancário.

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Não há dúvida de que a indústria de pagamentos precisa mudar. Países como Brasil e Índia implantaram rapidamente sistemas que permitem a consumidores e empresas transferir dinheiro de forma instantânea e gratuita — ou quase gratuita.

Já os bancos dos Estados Unidos têm sido mais lentos em adotar tecnologias semelhantes, alegando preocupações com fraudes e com o custo de novas infraestruturas.

O resultado é que a maioria dos americanos ainda realiza pagamentos por meio de lentas redes interbancárias, ou usa cartões de débito e crédito — geralmente emitidos por bancos — que cobram taxas de até 3,5% dos comerciantes.

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Um estudo recente estimou que transações demoradas custam às empresas US$ 171 bilhões por ano em rendimentos não recebidos e custos de financiamento de curto prazo, além de elevar os preços aos consumidores em até meio ponto percentual.

É aí que entram as stablecoins. Diferentemente do bitcoin e de outros tokens voláteis, elas foram criadas para manter seu valor estável e permitir pagamentos em blockchain que são liquidados instantaneamente, com taxas mínimas e funcionamento transfronteiriço.

Enquanto operavam fora do sistema financeiro regulado, esses tokens eram usados principalmente por criminosos e entusiastas de criptoativos. Agora, o Congresso americano tenta mudar esse quadro.

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Em julho, os legisladores criaram um novo arcabouço legal para as chamadas “payment stablecoins”, exigindo que esses tokens sejam totalmente lastreados em dinheiro e ativos seguros, e que as empresas emissoras sigam muitas das mesmas regras de proteção ao consumidor e de combate à lavagem de dinheiro aplicadas aos bancos.

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Os investidores reagiram com entusiasmo, impulsionando uma onda de inovação, à medida que bancos e outras instituições financeiras passaram a testar a nova tecnologia.

A Bloomberg Intelligence estima que as stablecoins possam movimentar US$ 50 trilhões em transações anuais até 2030.

Tudo isso é positivo. Mas, enquanto os reguladores elaboram as regras para esse novo setor, precisam manter uma distinção fundamental.

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As stablecoins devem poder oferecer recompensas vinculadas ao uso para pagamentos — assim como fazem muitos cartões de crédito — e também permitir que empresas concedam descontos ou outros benefícios a clientes que as utilizem.

Isso ajudaria a nivelar o campo de competição e traria vantagens tanto para consumidores quanto para comerciantes.

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Ao mesmo tempo, há o risco de que as stablecoins atraiam depósitos que hoje estão nos bancos tradicionais. Como não contam com seguro federal de depósitos nem acesso a programas de crédito do Federal Reserve, isso pode gerar riscos desnecessários.

Embora o Congresso americano tenha proibido que paguem juros, as “recompensas” oferecidas podem ter efeito semelhante. É fundamental manter clara a diferença entre conceder benefícios pelo uso em pagamentos (como fazem os cartões de crédito) e oferecer ganhos pela simples manutenção de depósitos (como fazem os bancos).

Se desejam competir por depósitos, as corretoras de criptoativos e emissoras de tokens devem solicitar licenças bancárias. Até lá, os reguladores precisam garantir que elas permaneçam dentro de seus limites. Com as proteções adequadas, as stablecoins podem impulsionar a inovação e manter o dinheiro em movimento.

O Conselho Editorial publica as opiniões dos editores sobre uma série de assuntos de interesse global.

-- Editores: Christine Harper e Timothy Lavin.

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