Gestora com US$ 1,3 trilhão em ativos abandona perfil discreto para acelerar expansão

Wellington Management, que está prestes a completar 100 anos, tem investido para aumentar sua visibilidade e trazer executivos de grandes bancos de Wall Street, enquanto expande atuação para investimentos alternativos

Wellington Management
Por Loukia Gyftopoulou
06 de Setembro, 2025 | 06:00 AM

Bloomberg — A Wellington Management é uma raridade no mundo dos investimentos: uma gestora de fundos com mais de US$ 1 trilhão em ativos e quase nenhum reconhecimento de marca.

Mas isso não deve durar muito.

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A discreta gestora, prestes a completar 100 anos, que por décadas ofereceu estratégias tradicionais de ações e títulos a instituições formais como fundos de pensão e endowments, agora aposta pesado em mercados privados e hedge funds.

A Wellington tem investido alto na contratação de executivos vindos de grandes bancos e de firmas de investimentos alternativos, trazendo dezenas de especialistas em mercados privados para formar uma equipe de cerca de 40 pessoas.

Ao mesmo tempo, tenta conquistar espaço entre investidores de varejo, muitos dos quais nunca ouviram falar da gestora de US$ 1,3 trilhão.

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É uma mudança significativa para uma casa que, por décadas, não se importava com sua imagem pública, desde que seus grandes clientes institucionais estivessem satisfeitos.

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Entre as contratações recentes, a Wellington trouxe um chefe de captação para investimentos privados do Goldman Sachs, incorporou uma equipe da Pacific Investment Management Co. (Pimco) para reforçar sua atuação em crédito privado e recrutou Christina Kopec Rooney, também do Goldman, para liderar a entrada da gestora no mercado de wealth dos Estados Unidos.

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A empresa ainda se associou à gigante de private equity Blackstone e à Vanguard para lançar fundos híbridos voltados ao investidor pessoa física.

Talvez a mudança mais radical tenha sido algo impensável até pouco tempo atrás: a contratação de uma equipe de relações públicas para a sede da gestora, que ocupa 19 andares em um prédio de escritórios em Boston.

“É uma novidade para nós”, disse Steve Klar, presidente da Wellington.

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Steve Klar

A transformação reflete os novos tempos. Mudanças profundas na indústria de gestão de recursos estão empurrando a Wellington — e outras casas — para fora da zona de conforto.

Gestoras tradicionais, pressionadas pela saída de recursos e pela queda nas taxas cobradas em fundos mútuos, buscam alternativas mais lucrativas nos mercados privados para aumentar margens e ativos antes que a concorrência capture as melhores oportunidades.

Concorrentes como Franklin Resources e T. Rowe Price, além de gigantes como BlackRock e State Street, já avançam rapidamente nesse caminho, comprando gestoras de investimentos alternativos ou firmando parcerias com casas de private equity para lançar novos fundos.

Na quinta-feira (4), o Goldman Sachs anunciou a compra de até US$ 1 bilhão em ações da T. Rowe Price, dentro de uma aliança para oferecer produtos de mercado privado.

Jean Hynes, CEO da Wellington, afirmou em entrevista à Bloomberg News na sede da empresa que, mesmo com sua base de clientes predominantemente institucional e de longo prazo, ela sabe que a gestora não está imune às pressões que vêm transformando o setor.

A migração de recursos para fundos passivos de baixo custo derrubou a taxa média da indústria de cerca de 1% há 20 anos para apenas 0,3% atualmente, segundo a Morningstar. (A Vanguard — maior cliente da Wellington, responsável por um terço dos ativos da gestora — cobra em média apenas 0,07%.)

A Wellington acredita ter uma posição privilegiada para crescer no mercado privado. Seus executivos destacam que, por ter uma estrutura de partnership de capital fechado, sem acionistas a quem responder, a gestora tem mais controle sobre suas decisões, pode planejar no longo prazo e preservar sua cultura interna.

Michael Carmen, sócio da Wellington e responsável pela expansão, diz que a casa iniciou em 2023 um ambicioso plano de 10 anos para desenvolver a área de mercados privados, que hoje administra apenas US$ 9,7 bilhões. Ele já entrevista candidatos para montar uma unidade de “secondaries”, dedicada a comprar posições ilíquidas de outros investidores — um dos segmentos mais aquecidos do mercado de alternativos.

Wellington Wants To Grow In Private Assets | Alternatives are still a small slice of the asset manager's $1.3 trillion AUM

O novo foco em alternativas ao faturamento com taxas de administração já começa a mudar a dinâmica interna, num momento em que diferentes equipes disputam recursos.

Pessoas ligadas à empresa afirmam que profissionais das áreas tradicionais, de menor margem, percebem que os maiores bônus e recompensas estão sendo direcionados para quem atua em mercados privados.

Klar, um dos três executivos que definem a remuneração dos sócios, nega essa leitura. “Se o negócio de ativos alternativos vai bem, todos os sócios se beneficiam”, afirmou.

Sigilo extremo

Embora a maior parte dos ativos da Wellington esteja em contas privadas — cujos dados não são divulgados —, os números de seus fundos públicos mostram os desafios da indústria. Aproximadamente 160 fundos, que juntos somam meio trilhão de dólares sob gestão ou com assessoria da casa, registraram saídas líquidas de mais de US$ 130 bilhões entre 2022 e junho de 2025, segundo a Morningstar.

A divisão de hedge funds da Wellington, criada em meados dos anos 1990, hoje administra cerca de US$ 20 bilhões em estratégias long-short. Apesar de representar uma fatia pequena do total de ativos, é responsável por uma parcela desproporcional dos lucros.

Para atrair e reter o talento necessário a entregar retornos acima do mercado — como esperam os clientes de investimentos alternativos —, a gestora passou a adotar caminhos diferentes de sua tradicional e demorada trajetória até a sociedade.

Profissionais de portfólios alternativos recebem pacotes compatíveis com os padrões de mercado, disse Klar. Para aqueles que têm impacto relevante no desempenho financeiro da empresa, existe ainda o cargo de managing director — posição que permite compartilhar parte dos lucros sem que o profissional seja formalmente sócio.

Wellington Management

A expansão da Wellington para o segmento de gestão de patrimônio também forçou a empresa a repensar outro traço marcante de sua cultura: a aversão à exposição pública. Por décadas, a gestora se orgulhou de ser conhecida apenas por fundos de pensão e endowments, mantendo distância dos holofotes.

Esse apego à discrição chegava a extremos. Um ex-funcionário lembra que, quando entrou na empresa há 20 anos, encontrou tão poucas informações disponíveis que só acreditou que a Wellington existia de fato ao participar da entrevista.

Executivos de bancos que distribuem produtos da Wellington relatam que muitos investidores de varejo sequer conhecem a gestora e que, para os fundos terem maior aceitação, a marca precisa ganhar visibilidade.

Por isso, nos últimos anos, a Wellington passou a contratar seus primeiros profissionais de relações públicas. Aos poucos, a empresa aprende a se mostrar ao público.

O próximo século

Não é a primeira vez que a Wellington se reinventa.

Fundada em 1928, a empresa enfrentou uma crise existencial 50 anos depois, quando uma sequência ruim de desempenho em ações quase levou a sua quebra. Na época, os cerca de 20 sócios hipotecaram suas casas para tirar a empresa da bolsa.

Em 1974, demitiram Jack Bogle após divergências sobre estratégia e gestão. Bogle fundou a Vanguard, e a Wellington fechou um acordo para administrar as estratégias ativas da nova gestora. Com o tempo, a Vanguard se tornou sinônimo do mercado de planos de aposentadoria 401(k) nos EUA, equivalente aos planos de previdência privada, enquanto a Wellington fortaleceu sua imagem entre clientes institucionais e manteve a discrição.

Nas décadas seguintes, a Wellington deixou de ser tão concentrada em Boston, abriu escritórios e fundos na Europa e na Ásia e diversificou os investimentos, antes focados apenas em ações americanas, para incluir também papéis internacionais e, mais recentemente, títulos de renda fixa. Hoje, cerca de 40% dos ativos da gestora estão em renda fixa.

Agora, ao olhar para seu segundo século de existência, a Wellington vai além do status quo. Como parte da parceria com a Blackstone e a Vanguard, cerca de 100 profissionais em diferentes países trabalham no projeto. Terry Burgess, um dos três executivos mais importantes da casa, lidera a iniciativa.

Klar afirmou que, além de buscar investidores de varejo, a expansão em alternativos — e a necessidade de atrair talentos para essa área — é outro motivo pelo qual a Wellington quer dar mais visibilidade à sua marca. Para isso, a gestora passou a produzir podcasts, vídeos com comentários semanais de mercado e comunicados à imprensa com frequência.

É uma guinada para uma empresa que, até pouco tempo atrás, sequer tinha um assessor de imprensa.

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