Bloomberg Línea — O impacto crescente da Inteligência Artificial nos negócios de diferentes indústrias se reflete também nos planos de carreiras de executivos em cargos de liderança no Brasil.
É o que revela um novo estudo da Page Executive, “braço” do PageGroup para contratação de executivos de alta liderança, como C-Level e para conselhos, publicado em primeira mão pela Bloomberg Línea.
O estudo global Talent Trends Leadership 2025 dá uma dimensão da extensão da preocupação de executivos com suas carreiras ao longo dos próximos anos sob os efeitos de uma IA cada vez mais presente.
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Segundo o levantamento, 58% dos respondentes acreditam que o crescimento da IA afetará seus planos de carreira a longo prazo. O percentual reportado é semelhante à média global (59%) e da América Latina (60%).
A intensificação do uso da IA em empresas de diferentes áreas de negócios representa o que a Page Executive descreve como “desafios complexos” às estruturas de governança e às lideranças estratégicas.
“A possibilidade de reconfiguração de funções, competências e trajetórias profissionais exige uma reflexão profunda sobre o futuro da gestão de talentos em um cenário cada vez mais orientado por dados e automação”, disse Humberto Wahrhaftig, diretor executivo na Page Executive.
Os números do estudo também mostram que mais da metade (54%) dos líderes brasileiros afirmaram que o crescimento da IA já exerce influência sobre a tomada de decisões de suas respectivas carreiras. O dado é semelhante ao verificado no mundo (54%) e superior ao da América Latina (50%).
Para Paulo Dias, diretor executivo da Page Executive, a inteligência artificial não tem substituído a liderança, mas leva ao que chama de efeito de redefinição.
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“Profissionais sêniores que entenderem como integrar a IA tendo em vista eficiência, estratégia e inovação terão vantagens.”
Segundo Dias, diante do cenário, “empresas devem garantir que seus líderes estejam preparados com treinamento, orientação e apoio adequados para lidar com o impacto da IA com confiança”.
“Em vez de temê-la, os líderes devem abraçar seu potencial, e as organizações, tomar medidas mais claras para entender e comunicar o poder transformador que ela possui”, explica.
Segundo o estudo, executivos estão em geral já empenhados em avaliar o potencial da IA para melhoria de processos, geração de valor e ganho de eficiência, mas, ao mesmo tempo, enfrentam a necessidade de estabelecer diretrizes éticas, regulatórias e operacionais para seu uso responsável.
Perspectiva imediata vs longo prazo
Se por um lado há uma preocupação com o impacto da IA sobre os modelos correntes de desenvolvimento de carreira, por outro, isso não significa, pelo menos para a alta liderança, que seus empregos estejam ameaçados - ao menos não imediatamente.
Segundo o levantamento, 84% dos respondentes disseram acreditar que a IA não é uma ameaça à sua segurança no trabalho. O índice é superior ao verificado tanto na América Latina (81%) como no mundo (68%).
Ainda assim, de acordo com a pesquisa, em uma perspectiva mais ampla, quase um quarto (24%) dos respondentes globais disse considerar o uso da inteligência artificial um risco à segurança de seu emprego no longo prazo. O número é superior ao registrado na América Latina (11%) e no Brasil (8%).
O Talent Trends Leadership 2025 foi conduzido entre novembro e dezembro de 2024, com entrevistas com cerca de 4.000 profissionais que atuam em empresas de diversos portes e segmentos em 36 países.
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