Exame e Saint Paul entram em graduação e reforçam tese de desenvolvimento pessoal

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Exame, Pedro Valente, e o CEO da Exame Educação e fundador da Saint Paul Escola de Negócios, José Cláudio Securato, contam como a graduação em administração completa o ecossistema de negócios do grupo

Passeio Paulista Pedro Vannucchi Brookfield
18 de Agosto, 2025 | 08:49 AM

Bloomberg Línea — O modelo de ecossistema de negócios se tornou um dos objetivos perseguidos por empresas de diferentes segmentos, do financeiro ao de luxo.

A tese é que essa é uma maneira eficiente de aprofundar e rentabilizar o relacionamento com o cliente, dentro de uma jornada que resulta em evolução dos gastos ao longo do tempo - o chamado LTV (Lifetime Value).

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Esse tem sido o norte da Exame, marca que faz parte da mesma holding do BTG Pactual.

O objetivo é se tornar uma espécie de one-stop-shop para educação, formação e conteúdo de negócios para diferentes públicos e ao longo de suas respectivas jornadas de desenvolvimento pessoal e profissional, dentro do conceito cada vez mais disseminado de lifelong learning.

Um novo passo fundamental na execução dessa estratégia será dado com a entrada no mercado de gradução, com o curso de administração (business) a partir de 2026, por meio da Saint Paul Escola de Negócios, que faz parte da Exame Educação desde o fim de 2024.

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“Durante o processo de aquisição da Saint Paul pela Exame, houve um alinhamento das duas partes que até facilitou o M&A: um sonho muito parecido de entrar no mercado de gradução, em que ambos identificaram uma oportunidade relevante”, disse Pedro Valente, CEO da Exame, em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo ele, esse mercado já havia sido mapeado por ambos, e foi identificado o que ele descreveu como dificuldade de instituições tradicionais de se modernizarem em relação a métodos de ensino e à adaptação das necessidades dos alunos. Ao mesmo tempo, novos players conseguiam sucesso em seus planos.

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“A Exame já tinha um canal [de conteúdo] e uma distribuição muito forte, enquanto a Saint Paul já contava com uma grade de produtos [educacionais] completa e de excelência. A única coisa que faltava aos dois portfólios era a graduação", disse Valente.

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O curso de administração terá duas especializações por meio de eletivas, em finanças (voltada ao mercado financeiro) e empreendedorismo.

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“Em finanças, temos confiança de que conseguimos navegar como nenhuma outra instituição, dada a experiência da Saint Paul e da Exame na área e o fato de termos o BTG Pactual como acionista”, disse José Cláudio Securato, CEO da Exame Educação e fundador da Saint Paul Escola de Negócios, na mesma entrevista.

Ele disse que a especialização em empreendedorismo será reforçada pela própria grade voltada para a experiência no mercado, com atividades a partir do terceiro ano - os dois primeiros serão em período integral.

Pedro Valente, CEO da Exame (Foto: Divulgação)

A graduação vai funcionar com a metodologia Learning by Doing, em que os alunos terão que resolver desafios e cases reais do mercado brasileiro com ferramentas e estratégias utilizadas por grandes empresas - com sinergias a partir da cobertura e do relacionamento já existente com a própria Exame.

‘Cases capa de revista’

“Estamos desenvolvendo casos atuais para discussão nas aulas, que chamamos de ‘cases capa de revista’. Não são cases de muitos anos atrás, mas que acabaram de sair na Exame, como foi o caso da Embraer recentemente, nos quais o time acadêmico vai entrar para montar a discussão, como acontece em Harvard", disse Securato.

A referência se faz à sinergia que existe entre a prestigiosa universidade americana, a sua escola de negócios, a Harvard Business School, e a sua publicação para gestão de negócios, a Harvard Business Review.

“Ao fim da discussão do caso, levaremos os executivos das empresas para conversar com os alunos”, afirmou o CEO da Exame Educação, em ponto que também foi destacado pelo CEO da Exame: “esse acesso aos grandes empresários e executivos do Brasil é um grande diferencial”, disse Valente.

Além das tradicionais disciplinas de administração, haverá outras de soft and personal skills (como comunicação, negociação, pensamento crítico e equilíbrio emocional) a professional skills (como técnicas de entrevista e branding pessoal).

Outro diferencial que se pretende entregar aos alunos, segundo os executivos, é a área de Inteligência Artificial, por meio de disciplinas tanto da tecnologia em si como de outros temas, discutida e aplicada de forma transversal.

Securato destacou que a graduação contará com professores da Saint Paul e de escolas do exterior, dos Estados Unidos à Alemanha, por meio de parcerias já acertadas.

Segundo os executivos, o público-alvo são alunos das melhores escolas que hoje acabam em instituições como Insper e FGV (Fundação Getulio Vargas), além de Link School, quando o foco é empreendedorismo, e universidades federais e estaduais.

Outra “concorrente” potencial pelos melhores alunos é o Inteli, instituto sem fins lucrativos idealizado por André Esteves e família e Roberto Sallouti, presidente do conselho e CEO do BTG Pactual, respectivamente.

Tanto Valente como Securato disseram que há diferenças importantes entre as propostas das duas instituições, citando que o Inteli, que busca desenvolver habilidades de liderança com competências em tecnologia, opera com outro modelo de ensino e em sua maioria com bolsas bancadas por doadores.

Serão inicialmente 150 vagas, com início esperado da graduação em fevereiro de 2026. Os preços das mensalidades devem ficar em torno de R$ 8.000 a R$ 10.000.

“O processo seletivo é inspirado no admission de faculdades internacionais, no qual a Saint Paul avaliará a evolução do aluno ao longo do ensino médio, e não apenas uma foto da performance em uma prova de vestibular tradicional”, disse Camila Securato, Diretora Executiva da Graduação, em comunicado.

O investimento inicial para viabilizar a estreia em graduação é de R$ 40 milhões. Os valores incluem a preparação da sede da faculdade no novo prédio Passeio Paulista, na rua da Consolação, a cerca de um quilômetro da avenida Paulista. O local vai abrigar todas as áreas da Exame, incluindo a Saint Paul.

Ecossistema de desenvolvimento profissional

A aquisição da Saint Paul pela Exame foi anunciada ao mercado em dezembro de 2024, por valor não revelado.

Valente disse que o plano de integração de cem dias, dividido em eficiência operacional e aumento de receitas, foi executado dentro do que estava previsto, de modo que os executivos decidiram acelerar o projeto de entrada em graduação.

“Em janeiro deste ano, já sabíamos os produtos que iríamos vender”, disse Valente.

A Saint Paul, fundada em 2002 por Securato, é uma das mais longevas e bem avaliadas escolas de negócios do país - segundo números internos, mais de 500 mil alunos já se formaram pela instituição.

José Cláudio Securato, CEO da Exame Educação e Fundador da Saint Paul Escola de Negócios (Foto: Leandro Fonseca/Divulgação)

“Ao longo desses anos, em que sabemos como chegam os alunos da escola e da universidade, percebemos que ainda faltam pessoas no mercado, em particular pessoas qualificadas e com formação mais prática”, disse Securato.

“Começamos a estudar os currículos de muitas faculdades e percebemos que são muito semelhantes ao que era proposto na década de 1990. É a mesma grade e são os mesmos livros-texto daquela época″, afirmou.

Segundo o fundador da Saint Paul e CEO da Exame Educação, são diferenças relevantes para diferenciar a graduação do que existe em geral no mercado.

“Vamos levar a visão estratégica que temos como grupo de mídia, em que estamos em contato com o que há de mais atual no Brasil e no mundo. Como grupo que forma executivos há mais de duas décadas, sabemos do que as pessoas precisam para performar no mercado de trabalho”, disse Securato.

“Juntando tudo isso, conseguimos montar um programa de graduação que consideramos mais relevante, com a tese de que as pessoas não precisam esperar uma pós-graduação ou um MBA para aprender certas coisas na faculdade.”

Diversificação da Exame

O avanço na área de educação representa uma mudança estratégica da Exame, que faz parte da mesma holding do BTG Pactual desde o começo de 2020.

A marca que nasceu em 1967 como uma das primeiras revistas impressas da Editora Abril, de Victor Civita, se consolidou ao longo de décadas como referência na cobertura de negócios no mercado editorial brasileiro.

“A ideia era como tornar a marca Exame, inicialmente uma revista, um ecossistema de negócios. A diversificação de negócios acontece em torno de temas que a Exame sempre abordou com autoridade”, disse Valente.

Sob o controle da holding do BTG e inicialmente sob o comando de Pedro Thompson, ex-CEO da Estácio (hoje Yduqs), além de Valente e Renato Mimica, a Exame passou a atuar no início da década também na área de educação, inicialmente com cursos voltados para o investidor pessoa física. Era um momento de boom do mercado financeiro no Brasil, com juros em patamares mínimos históricos.

Mais tarde, já sob o comando de Valente e Mimica como co-CEOs, a Exame entrou na área de educação executiva, como parte da tese de ecossistema para a formação de líderes de negócios - e também um segmento com cursos com tíquetes mais altos e churn (taxas de desistência) mais baixo.

Segundo Valente e Securato, novas graduações já estão mapeadas para o médio prazo, de economia, contabilidade e direito, com associação mais evidente e direta com a área de negócios, a jornalismo, relacionada com a Exame.

“Não temos pressa e é um plano de médio e longo prazos. O foco é começar em administração com excelência para que a Exame Educação se torne com o passar do tempo uma referência em graduação”, disse o CEO da Exame.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.