Bloomberg Línea — Grandes empresas brasileiras têm ampliado a sua presença em outros países, como parte de um processo de internacionalização dos negócios.
É um movimento que demanda suporte financeiro em diferentes frentes e que representa oportunidades para o Citi, segundo contaram Jason Rekate, co-Head global de Corporate Banking, e Miguel Queen, Head de Corporate Banking do banco americano para o Brasil, na segunda parte de sua entrevista à Bloomberg Línea.
“As multinacionais brasileiras estão começando a se tornar mais globais, e isso é um verdadeiro sinal de uma economia avançada para nós”, disse Rekate.
O executivo americano destacou uma métrica acompanhada pelo Citi que reflete esse fenômeno: o percentual da receita gerada pelo banco fora do país de origem de empresas atendidas com esse perfil.
“Hoje de 15% a 20% das nossas receitas com empresas brasileiras vem do exterior. Isso é um marco de quão rapidamente o país avança.”
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Segundo Rekate, em economias mais avançadas, como Japão e outras na Europa Ocidental, mais da metade das receitas para o banco vem de fora do país de origem, “porque essas empresas fazem isso há 50 ou 60 anos”.
São multinacionais brasileiras como Embraer, JBS, Marfrig, Natura e Votorantim, entre outras.
“São clientes que já estão ou vão para fora do Brasil — e não que dependam de nós — e nós os ajudamos a facilitar toda essa operação cross-border“, disse Queen.
Para o banco de Wall Street, que em 2025 comemora 110 anos de presença no Brasil, isso significa fazer valer a sua presença global em mais 90 países com operação física e em cerca de 150 em que consegue realizar transações.
E também que “Miguel e sua equipe precisam estar muito mais em aviões”, disse Rekate, em alusão à maneira como o Citi atua.
“Espero que estejam viajando constantemente, ajudando empresas brasileiras em todos os lugares. Temos uma grande rede de bankers, que estão nos países de origem e ajudam os clientes que chegam", disse o head global de corporate banking.
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“Mas o jeito como nosso modelo funciona é que o Miguel e sua equipe trabalham muito de perto com os bankers nesses outros países para garantir que estamos comunicando o que a empresa quer fazer no mercado local, o que a matriz espera, e garantir que atendamos às necessidades de toda a cadeia de valor.”
Na segunda parte da entrevista concedida na sede global do banco em Manhattan, Nova York, Rekate e Queen falaram ainda sobre o potencial do Brasil para atrair investimentos em data centers para IA (Inteligência Artificial).
O executivo americano havia chamado atenção para esse potencial um ano atrás, antes, portanto, do hype que se seguiu com empresas e outras fontes.
Veja a seguir os principais trechos da segunda parte da entrevista com Jason Rekate e Miguel Queen, editada por tópicos para fins de clareza e compreensão:
Potencial do Brasil em data centers
Jason Rekate: “A IA se tornou provavelmente a indústria de crescimento mais importante que observamos. A IA gerou todo um ecossistema de crescimento, e parte disso é muito voltada para software e focada em pessoas. Mas também há muito hardware, data centers e energia necessários.”
“Portanto, à medida que as pessoas buscam maneiras de expandir suas capacidades de IA, tentam encontrar os lugares mais otimizados para desenvolver isso, onde possa ter os melhores recursos.”
“O Brasil tem duas grandes vantagens. Uma é que tem um ambiente energético muito estável. Ele gera quase 100% da sua energia usada domesticamente a partir de fontes renováveis. Também tem essa indústria energética incrível, principalmente com petróleo e gás offshore.”
“Portanto, há vantagens massivas. Isso realmente diferencia o Brasil do resto da região e o torna um lugar atrativo globalmente para o desenvolvimento da infraestrutura de IA que será necessária. ”
Talento brasileiro em tecnologia
Jason Rekate: “O país também tem uma população muito boa de jovens profissionais bem-educados, pessoas no setor de tecnologia que estão interessadas em entrar em novas áreas inovadoras. Tem essa energia que você vê em alguns lugares, mas não em todos. Mas o Brasil certamente tem esse tipo de energia inovadora e empresas que podem aproveitar as novas inovações da IA.”
“Portanto, fez sentido [ter chamado atenção para esse potencial do Brasil para atrair data centers] para mim há um ano. Agora faz ainda mais sentido. Acho que o que estamos vendo é que esse tema continua forte, mesmo enquanto atravessamos um período global de disrupção, enquanto pensamos em novas tarifas e nas relações comerciais entre países. Ainda vemos um avanço real em IA e na necessidade de toda essa construção massiva de data centers, que não desacelerou."
Empresas brasileiras globais
Miguel Queen: “Estamos em mais de 90 países. Somos o maior banco que atua com clientes multinacionais no Brasil. E estamos extremamente focados em como ajudar as multinacionais brasileiras a operarem pelo mundo.”
“Hoje, cerca de 15 a 20% de nossa receita com clientes locais brasileiros já vem de fora do Brasil. São multinacionais brasileiras como Votorantim, Marfrig, JBS, Embraer, Natura. Esses são os clientes que estão com negócios fora do Brasil — e não que dependam de nós — e nós os ajudamos a facilitar toda a operação cross-border."
Jason Rekate: “O Brasil está crescendo nisso. Isso é o interessante: as multinacionais brasileiras estão começando a se tornar mais globais.”
“Hoje de 15% a 20% das nossas receitas com empresas brasileiras vem do exterior. Isso é um marco de quão rapidamente o país avança.”
Demandas de empresas no exterior
Jason Rekate: “À medida que as empresas se tornam realmente globais, uma coisa que vemos elas fazendo é estabelecer centros regionais de tesouraria. Portanto, inicialmente, elas vão para fora e vendem para alguns países vizinhos. Depois vão para outro continente e acrescentam mais alguns países.”
“Mas uma vez que chegam a 20, 30 países no exterior, começam a perceber: ‘Não posso gerenciar tudo isso da matriz. Os fusos horários não funcionam. Precisam criar um centro regional de tesouraria em uma das cidades mais high-tech com boa operação de tesouraria, boa gestão e talentos qualificados, e começam a gerenciar esses países individuais a partir de centros regionais.”
“Nós acompanhamos isso com nossa cobertura. Temos bankers especializados em cobrir os centros regionais de tesouraria. Se uma dessas grandes empresas brasileiras decide que vai ser mais forte na Ásia, frequentemente estabelece seu centro de tesouraria regional em Singapura, e teremos um banker que os ajuda lá, mas também à medida que se movimentam pela Ásia — seja na Indonésia, talvez na China —, esse banker os ajuda a trabalhar na região."
Miguel Queen: “Em muitos casos, somos nós que ensinamos as empresas a fazer isso, porque temos experiência há mais de cem anos e mostramos: ‘Olha, foi isso o que a Nestlé fez quando entrou naquela região, é isso o que a Volkswagen está fazendo.’ E trazemos até exemplos da própria indústria deles para que possam aprender e entender o que podem fazer, o que querem fazer.”
“O banker lidera, mas obviamente trazendo todas as outras áreas do Citi, como nosso time de serviços, nosso time de mercados, se houver qualquer descasamento cambial. É um trabalho legal do qual os clientes enxergam muito valor.”
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