Comércio global está mudando e adaptamos aos clientes, diz head de corporate do Citi

Em entrevista à Bloomberg Línea, Jason Rekate, co-Head global de Corporate Banking, fala sobre o impacto e as oportunidades que identifica com as mudanças nos fluxos de comércio e nas cadeias globais de suprimentos

A "Citi" flag flies outside Citigroup headquarters in New York, US, on Thursday, Aug. 4, 2022. Citigroup Inc. is planning a 500-person hiring spree over the next three years for a new wealth division catering to junior employees at private equity offices, consultancies and accounting firms, betting those clients will someday join the ranks of the ultra wealthy. Photographer: Juan Cristobal Cobo/Bloomberg
07 de Julho, 2025 | 05:31 AM

Bloomberg Línea — À frente da área de Corporate Banking do Citi, Jason Rekate comanda uma operação global de atendimento a empresas com presença física em mais 90 países e capacidade de realizar transações em mais de 150.

Nos últimos meses, boa parte de sua atenção - com foco nos clientes - tem sido dedicada aos impactos das tarifas de importação a partir do plano do presidente Donald Trump, com efeitos sobre cadeias globais de suprimentos.

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“O mundo está se tornando mais complexo. Não acho que isso signifique que haverá menos comércio — mas o comércio será diferente. Nossos clientes vão mover suas cadeias de suprimento e vão tentar otimizar suas oportunidades”, disse o co-Head de Corporate Banking do Citi em entrevista à Bloomberg Línea.

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Com a ressalva de que ainda é cedo para dispor de uma visão consolidada - “as pessoas estão esperando para ver como tudo vai terminar antes de tomar grandes decisões”-, o executivo americano disse acreditar em uma nova configuração do comércio e de seus fluxos regionais e também globais.

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“Acho que veremos mais manufatura nos EUA no futuro, mas ainda haverá muitos bens sendo fabricados e montados e enviados do exterior. E não vai parecer tudo igual. Daqui a alguns anos, vai ser diferente do que é agora.”

Esse quadro de mudanças, segundo ele, significa que o Citi terá que fazer valer sua condição única de banco global com tamanho alcance geográfico para atender às novas necessidades financeiras das empresas que atende.

“Vamos adaptar o que fazemos com os clientes à realidade deles, ao que precisam. Temos uma presença geográfica ampla o suficiente e um portfólio de produtos suficientemente diverso para adaptar nossas soluções à realidade, seja a atual ou a nova — e não adaptar nossos clientes ao que temos", afirmou.

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Jason Rekate, co-Head Global de Corporate Banking do Citi (Foto: Divulgação)

Segundo ele, isso significa foco não apenas no que acontece de um mercado determinado para os EUA mas entre todos os países e todos os corredores globais.

“É muito importante para nós garantir que entendemos os vários fluxos comerciais, como eles se movem, porque eles não são consistentes.”

Essa compreensão permite que o banco possa oferecer soluções como cash management, câmbio, financiamento ao comércio e operações de câmbio.

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“São arranjos comerciais incrivelmente importantes para garantir que os bens cheguem ao usuário final da forma mais eficiente possível.”

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Isso inclui o atendimento a grandes empresas brasileiras, que, segundo o co-Head de Corporate Banking do Citi, têm ampliado a sua presença em outros países.

Trata-se de um movimento que também demanda suporte financeiro em diferentes frentes e que tem representado oportunidades para o banco de Wall Street, segundo contaram Rekate e também Miguel Queen, Head de Corporate Banking do Citi para o Brasil, na mesma entrevista à Bloomberg Línea.

Na entrevista concedida na sede global do banco em Manhattan, Nova York, Rekate e Queen falaram ainda sobre o potencial do Brasil para atrair investimentos em data centers para IA (veja amanhã na segunda parte da entrevista).

Veja a seguir os principais trechos da primeira parte da entrevista com Jason Rekate, editada por tópicos para fins de clareza e compreensão:

Mudanças no comércio global

“O mundo está se tornando mais complexo. Não acho que isso signifique que haverá menos comércio — mas o comércio será diferente. Nossos clientes vão mover suas cadeias de suprimento e vão tentar otimizar suas oportunidades. Os EUA continuarão sendo um mercado muito importante para eles, mas eles também terão outros lugares com os quais vão fazer comércio."

“Vamos adaptar o que fazemos com os clientes à realidade deles, ao que precisam. Temos uma presença geográfica ampla o suficiente e um portfólio de produtos suficientemente diverso para adaptar nossas soluções à realidade — e não adaptar nossos clientes ao que temos.“

“Isso nos torna bastante diferentes, porque nos dá muitas opções. Não entramos em uma reunião com o cliente dizendo: ‘Quero que você compre isso de mim.’ Entramos dizendo: ‘Me conte o que está acontecendo com seu negócio e como você precisa melhorá-lo’, e então descobrimos como ajudá-lo a melhorar.”

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Novos hubs de competitividade

“Historicamente, houve lugares que eram partes muito importantes da manufatura e das cadeias intermediárias de suprimento. Há uma demanda constante dos nossos clientes para encontrar outros lugares que continuem sendo boas oportunidades para eles — lugares onde possam montar, construir, fabricar, fazer P&D [pesquisa e desenvolvimento], entre outras coisas."

“E parte disso é porque eles querem ter ofertas melhores e mais próximas dos mercados onde vendem. E parte é porque, para a cadeia global de suprimentos deles, querem continuar a encontrar os lugares mais eficazes e eficientes para fazer isso. E isso está mudando. Há países que antes não eram tão relevantes na cadeia de suprimentos global e que recentemente melhoraram muito e se tornam muito mais competitivos. A competitividade do mercado global está mudando.”

Navegando com incertezas

“Em um mercado com mais volatilidade do que antes, nossos clientes estão começando a pensar mais em gerenciamento de risco. Se o câmbio vai ser menos estável — foi bastante estável por um tempo —, significa que agora vai oscilar mais. E se você produz em uma moeda e vende em outra, tem exposição cambial. Isso é verdade para muitas empresas multinacionais. O que você vai fazer para garantir que o câmbio não seja o que determina o sucesso ou o fracasso do seu negócio?"

“Buscamos também garantir que as empresas tenham o financiamento de que precisam, com diferentes opções. Querem financiamento garantido por recebíveis, para comércio exterior ou de longo prazo para o balanço? Se estiverem fazendo algo grande, precisam ir ao mercado de ações?”

“Nosso papel é fazer tudo isso. E depois tentamos focar muito em todas as questões cross-border, não apenas o que acontece de um lugar para os EUA, mas entre todos os países e todos os corredores globais. É muito importante para nós garantir que entendemos os vários fluxos comerciais e como eles se movem."

Abordagem para empresas

“Somos o banco com presença física no maior número de países no mundo. Tentamos garantir que sejamos muito agnósticos em relação a produtos. Queremos entender nossos clientes primeiro. Do que eles precisam? Temos soluções para diferentes necessidades e o trabalho dos nossos bankers corporativos, que trabalham com nossos parceiros globalmente, é garantir que apliquemos o que entendemos sobre o cliente ao que podemos oferecer para ajudá-los. ”

Potencial de IA

“A IA se tornou provavelmente a indústria de crescimento mais importante que observamos. Há outras que sempre têm alto crescimento, mas a IA gerou todo um ecossistema de crescimento, e parte disso é muito voltada para software e focada em pessoas. Mas também há muito hardware, data centers e energia necessários.”

“Nós olhamos e tentamos entender para onde o futuro está indo — o que é importante para um banco, porque você quer pensar também onde seu capital e seus recursos estão agora e para onde vão. Nossa suposição é que a IA vai superar tudo o que aconteceu até agora no espaço da internet."

“Vai ser múltiplas vezes maior do que o que vimos antes. Apenas porque é incrivelmente útil e muda a forma como as empresas operam. Vemos isso no nosso próprio negócio, com a forma como estamos começando a implantar IA internamente aqui, e também na forma como nossos clientes estão pensando sobre isso.”

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.