Bloomberg Línea — No fim do ano passado, a Suzano emitiu cerca de US$ 165 milhões em panda bonds, como são conhecidos títulos denominados em renmibi. A operação inédita para uma empresa não financeira das Américas foi coordenada pelo HSBC.
A operação demandou seis meses para a sua estruturação, além de road show de quase três meses, a obtenção de autorizações específicas e o reconhecimento do rating da empresa na China para a venda dos títulos verdes.
“Foi uma emissão interessante para a Suzano e também para nós, não só por ter sido inédita como porque reforçou a nossa atuação ligada à sustentabilidade, que é um tema em que temos buscado atuar”, disse Alexandre Guião, CEO do HSBC para o Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.
A emissão também foi apontada pelo executivo como exemplo da estratégia que tem sido perseguida no país pelo maior banco da Europa em ativos, tanto do ponto de vista de sua atuação como do perfil de clientes.
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“Existem muitos bancos internacionais, mas globais são poucos. E nós temos um diferencial que é a nossa presença na Ásia e na China, em que somos muito fortes”, disse Guião. O HSBC está atualmente presente em cerca de 60 países.
Segundo o executivo, em razão dessa característica da atuação do banco, a contribuição da operação brasileira é cerca do dobro do que aparece pelo resultado em si, dado que muitos negócios são realizados no exterior.
“Quando vamos medir a contribuição do Brasil para o HSBC global, temos que medir as duas pontas: tanto o local como o offshore”, explicou o executivo.
O banco cresceu mais de 10% no país em 2024 e a meta para 2025 é novamente uma expansão em dois dígitos, segundo o executivo. Nos números “apenas” da operação local, as receitas com intermediação financeiras chegaram a R$ 1,65 bilhão no último ano, e o lucro líquido foi de R$ 165,7 milhões.
É um crescimento que ocorre na esteira de transações mais recorrentes e também de deals de tamanhos maiores. Há também a conquista de novos clientes em produtos mais novos desenvolvidos, como de cash management (veja mais abaixo).
No ano passado, o HSBC no Brasil gerou um book de mais de US$ 3 bilhões em transações no exterior, na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos, com um crescimento expressivo que não é contabilizado nos resultados reportados conforme o IFRS.
No primeiro trimestre deste ano, o banco no país já gerou book de mais de US$ 600 milhões.
“O corredor com a Ásia é o que mais cresce. No ano passado, o crescimento foi de mais de 100%. Há muito investimento da China no Brasil e vice-versa, e temos conseguido capturar parte relevante”, disse.
“Esse crescimento também reflete a relevância crescente da Ásia, e da China em particular, para empresas brasileiras no fluxo de comércio. E também para a Europa e a América do Norte”, disse Marcelo Fraga Soares, managing director e Head de Corporate Banking do HSBC no Brasil, na mesma entrevista.
Nesse sentido, a guerra tarifária entre Estados Unidos e China, e a disposição da segunda maior economia do mundo de reforçar seus laços comerciais com outros parceiros, pode beneficiar países como o Brasil - e, por tabela, gerar mais negócios para o HSBC com empresas do país.
Segundo Guião, as perspectivas de expansão para o banco se sobrepõem ao cenário doméstico ainda marcado pela preocupação com o quadro fiscal e os juros elevados, que impedem um crescimento maior da economia.
Como parte da estratégia que ressalta a conectividade mundial como diferencial, o HSBC tem como foco “as grandes multinacionais, o que inclui grandes players brasileiros que são multinacionais.”
Para o HSBC, esse perfil de cliente também é igualmente mais interessante do que aqueles que sejam apenas locais. “Eu preciso que o relacionamento se dê no Brasil mas também no exterior. Se trabalhamos com um cliente em mais de uma jurisdição, o retorno é muito maior”, disse o CEO.
Atualmente, o banco atende cerca de 600 grupos econômicos que são multinacionais, dos quais 500 estrangeiros e 100 brasileiros.

Guião tem liderado o banco desde o seu reinício com a venda das operações no país para o Bradesco em 2016 por R$ 16 bilhões. O executivo, que tem 18 anos de HSBC, era head de Global Banking, à frente dos negócios com grandes clientes.
Desde então, sua missão tem sido o de remontar o HSBC no país e levá-lo a novos patamares de negócios.
Naquele momento há oito anos, o banco contava com cerca de 60 clientes. Teve que ainda que respeitar um non-compete de quase três anos com o Bradesco, em que praticamente realizava apenas transações cross-border.
Esse arranjo ajudou a dar origem a uma operação considerada mais enxuta e com menos níveis hierárquicos, que nasceu com cerca de 50 profissionais. A área de Commercial Banking só foi aberta ao fim do non-compete e acabou sendo incorporada ao Global Banking essencialmente por razões de custos.
Essa decisão à época se mostrou ainda mais acertada recentemente com a decisão do “novo” CEO global, Georges Elhedery, de unificar as duas divisões - para o Brasil, diferentemente de muitos mercados, não houve necessidade de ajustes.
“Não temos intenção de nos tornarmos o maior banco internacional no Brasil, mas, sim, que seja reconhecido pelos clientes como o melhor”, disse Guião sobre o tamanho da operação no país.
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Aposta em produtos customizados
O HSBC opera como um banco de atacado no Brasil, com foco em tesouraria e empréstimos tanto com livro local como no mercado internacional para grandes empresas com o perfil acima citado.
Recentemente, o HSBC liderou um empréstimo sindicalizado de US$ 325 milhões com bancos internacionais para a Vamos, empresa de aluguel de máquinas pesadas da holding Simpar.
“Representou um ‘bolso’ novo de financiamento para a empresa, que não havia acessado o mercado dessa forma, e trouxe cinco bancos com os quais ela não tinha um relacionamento próximo para a operação”, disse o Head de Corporate Banking.
Apesar do quadro de volatilidade e de incertezas nos mercados globais, os executivos disseram que há um pipeline relevante no mercado de dívida.
Outra área de destaque do banco é a de trade finance, no financiamento a operações de exportações e importações, e de trade services, o que inclui, por exemplo, o atendimento, o suporte ao cliente, análise de documentos etc.
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O banco também tem avançado na oferta de cash management para seus clientes, novamente dada a sua presença relevante em diferentes países. São de 10 a 15 novos clientes por mês para o serviço.
Essa é uma das linhas mais recentes de produtos desenvolvidos para os clientes no Brasil, que passou a contar com cartão de crédito corporativo em 2024.
“Se o cliente está na Ásia ou na Europa, ele consegue acessar um sistema com o mesmo visual e operar, por exemplo, lá de fora aqui no Brasil”, disse Guião.
Segundo ele, os novos produtos são um diferencial competitivo, dado que o HSBC no Brasil se beneficiou ao trazer o que há de melhor já desenvolvido por outras operações no mundo, com uma experiência de usuário mais amigável. “O app que temos é muito fácil para navegar e realizar as transações.”
‘Empresa tech de oito anos’
Guião destacou que, ao remontar o banco no país, foi tomada a decisão de adotar um sistema que pudesse ser plugado a APIs locais, o que possibilita a customização de soluções às particularidades do país e às necessidades dos clientes.
É como se fosse uma empresa de tecnologia financeira com oito anos dentro de uma instituição que completa 160 anos em 2025, segundo ele.
“No ano passado ganhamos um prêmio para uma solução que desenvolvemos para a reconciliação automática de contas de varejo da Danone”, disse.
“E neste ano ganhamos de outra empresa da indústria de alimentos, que ainda não podemos revelar, com uma tecnologia de Pix QR Code na ‘ponta’. Levamos oito meses para desenvolver esse produto. Isso mostra a nossa capacidade de entender a necessidade do cliente para buscar atendê-la.”
Muitas dessas soluções podem ser levadas para outros países em que o banco está presente, como parte de um intercâmbio de desenvolvimento com as equipes locais de produtos e tecnologia do Brasil e de outros países.
Atualmente o HSBC conta com cerca de 200 profissionais no Brasil.
“Qual a dor do tesoureiro de uma multinacional? Para o executivo que está no Brasil, no México ou na Turquia, há questões locais, mas muitas das demandas são similares”, disse Fraga Soares sobre o compartilhamento de soluções.
E, em casos assim, muitos desses clientes com atuação em diferentes países e regiões preferem operar com o mesmo banco, o que reforça o apelo do HSBC.
“Queremos buscar o cliente que enxerga essa conectividade mundial como uma vantagem. Sem contar que ele entende o que é o HSBC e que o que ele encontra no Brasil é parecido com o que ele tem na Europa e na Ásia”, disse Guião.
Como exemplo das necessidades locais, o CEO do HSBC contou que acertou há cerca de um ano e meio uma parceria com o Banco do Brasil para o pagamento de impostos nas esferas federal, estadual e municipal, o que dispensa o cliente de ter que operar com “cinco ou seis” bancos diferentes para efetuar as transações.
Pegada sustentável
Além dos panda bonds da Suzano, o HSBC trabalhou no ano passado em duas outras operações consideradas emblemáticas na frente da sustentabilidade.
Uma foi a emissão de green bonds no total de US$ 2 bilhões pelo governo brasileiro, apenas a segunda então realizada pelo país em nível soberano.
E liderou a emissão de outcome bonds pelo Banco Mundial em um valor recorde de US$ 225 milhões, vinculada à captura de carbono da Amazônia pela Mombak e à subsequente venda de créditos para a Microsoft.
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