Bloomberg — A icônica camisa amarela do futebol brasileiro se tornou um símbolo político conservador tão potente que muitos esquerdistas se recusam a usá-la. Agora, os rumores de que o time poderia usar uma cor diferente com profundas associações com a esquerda na Copa do Mundo de 2026 inflamaram a direita.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) negou que a equipe nacional do país usaria uniformes secundários vermelhos no próximo ano em uma declaração na noite de terça-feira (29), um dia depois que o site Footy Headlines informou que o país planejava substituir os kits azuis que normalmente complementam suas camisas amarelas mais famosas.
A reportagem provocou uma explosão de reações negativas no Brasil, onde o esporte favorito do país tem se encontrado cada vez mais no centro de ferozes divisões políticas.
“As imagens recém-divulgadas dos supostos uniformes da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2026 não são oficiais”, disse a (CBF) em um comunicado publicado nas redes sociais, acrescentando que a entidade cumpriria as regras que exigem o uso das cores da bandeira do país. “Nem a CBF nem a Nike divulgaram formalmente detalhes sobre a nova linha da Seleção”.
Um porta-voz da Nike, que fabrica as camisas do Brasil, disse que a empresa “não comenta rumores e especulações”.
Qualquer mudança em um uniforme tão famoso como o do Brasil é capaz de gerar polêmica. Mas o momento de uma possível camisa vermelha exacerbou a resistência: A Copa do Mundo de 2026 ocorrerá apenas alguns meses antes da próxima eleição presidencial do país e, enquanto os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro transformaram a camisa amarela em um símbolo da política de direita, o vermelho é a cor do Partido dos Trabalhadores, de esquerda, do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-líder, denunciou a ideia como “uma afronta a tudo aquilo que sempre representou o orgulho do nosso povo” e pediu que ela fosse “veementemente repudiada”.
“Não há identificação, não há história, não há justificativa para alguém querer substituir o verde e o amarelo pelo vermelho”, disse ele em uma postagem na rede social. “Nossa bandeira não é vermelha, e nunca será!”
Outros rapidamente se juntaram a ele. O senador conservador Cleiton Azevedo, conhecido como Cleitinho, ameaçou abrir um inquérito no Congresso para investigar o chefe da federação de futebol em resposta ao relatório.
A rivalidade entre Lula e Bolsonaro dividiu fortemente o Brasil, e as tensões só se aprofundaram desde a acirrada disputa eleitoral de 2022. Meses depois de sua derrota apertada, os apoiadores de Bolsonaro organizaram uma insurreição contra o governo de Lula, e o ex-presidente vai ser julgado sob a acusação de ter tentado um golpe de Estado para permanecer no poder.
Mas a oposição às camisas vermelhas pareceu unir a nação: 90% dos comentários nas redes sociais sobre as camisas foram negativos, segundo a pesquisa de opinião pública brasileira Quaest, de acordo com uma reportagem do G1.
Figuras políticas de esquerda também estavam entre os críticos.
“As cores da nossa seleção nacional não são uma ‘identidade ideológica’; elas representam o que nos distingue no mundo”, disse o senador Randolfe Rodrigues, líder do governo Lula no Congresso, em uma postagem nas redes sociais. “Qualquer cor que não seja verde, amarela, branca e azul não se justifica”.
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