Empresas de LatAm voltam a se preparar para IPO nos EUA, diz escritório global

Há de cinco a dez empresas que consideram uma oferta inicial no mercado americano, disse Matthew Poulter, sócio do escritório de advocacia Linklaters, à Bloomberg Línea

Empresa mexicana Tiendas 3B faz sua estreia como empresa listada na Bolsa de Nova York em fevereiro de 2024 (Foto: Reprodução/NYSE)
11 de Abril, 2024 | 05:36 AM

Bloomberg Línea — Empresas da América Latina voltaram a estudar e a preparar uma abertura de capital nos Estados Unidos de olho em uma possível janela no mercado neste ano ou no ano que vem, de acordo com Matthew Poulter, sócio do escritório de advocacia global Linklaters.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Poulter disse que o interesse tem sido tanto por operações tradicionais de ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) quanto por fusões com SPACs – nome dado às chamadas “empresas de cheque em branco”, que abrem capital e são criadas com o único objetivo de encontrar um comprador.

“Estamos conversando com cinco a dez empresas que estão realmente considerando um IPO nos EUA. Dessas dez, possivelmente uma ou duas devem abrir capital neste ano porque estão mais preparadas. As demais devem ficar mais para o ano que vem, mas elas precisam começar a preparação agora”, disse Poulter, que é americano e trabalha na filial da empresa em São Paulo.

O especialista disse que das cerca de dez empresas com as quais vêm trabalhando, metade são brasileiras, outras “três ou quatro” são argentinas e há também companhias chilenas.

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“Algumas dessas empresas estão preparando as demonstrações financeiras no padrão internacional e já têm divulgação que usaram na oferta de bonds no passado. Portanto, têm uma boa base para construir o processo. Outras estão um pouco mais para trás”, afirmou ele.

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Bancos de investimento têm a expectativa de um crescimento do mercado de IPOs em 2024 depois do baixo número de operações no ano passado. No mercado americano, foram realizadas 48 ofertas no primeiro trimestre, que movimentaram US$ 9,6 bilhões, de acordo com a Bloomberg News.

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Uma das ofertas foi a da varejista Tiendas 3B, do México, que levantou US$ 589 milhões em um IPO na Bolsa de Nova York em fevereiro, a maior operação de uma empresa mexicana nos EUA desde 2012, segundo dados da Bloomberg.

A expectativa é que o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed), ainda que adiado para a segunda metade do ano, possa ajudar na retomada dos negócios, principalmente no segundo semestre ou no ano que vem.

“Vejo que o ambiente está melhorando, mas ainda não o suficiente. Uma empresa bem preparada, que já fez muitos M&As [fusões e aquisições], que está em um setor de que o mercado gosta, que é de um país em que não teve movimento há muito tempo, pode ter mercado, sim”, afirmou.

Entre os setores com maior potencial de atrair interesse estão tecnologia, biotecnologia, energia, agricultura e farmacêutica, segundo ele.

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O escritório especializado, que auxilia companhias em operações internacionais de M&As ou ofertas nos mercados de capitais, trabalhou recentemente na abertura de capital da OmnigenicsAI, da Argentina, antes chamada Héritas.

No fim de março, a empresa de análises genômicas anunciou uma fusão com a britânica MultiplAI Health e com o SPAC APx Acquisition para abrir capital na Nasdaq.

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A empresa tem entre os sócios a Bioceres, empresa de biotecnologia para agricultura da Argentina, que, por sua vez, abriu capital nos EUA por meio de uma fusão com um SPAC, em 2018. A operação também teve a assessoria do Linklaters.

Outros negócios que tiveram a participação do escritório foram as operações da farmacêutica colombiana Procaps, em 2021, e da empresa de biotecnologia Moolec, da Argentina, em 2023. Ambas abriram capital em fusões com SPACs.

“O De-SPAC [nome dado à operação] é um pouco mais complicado, um pouco mais caro, mas o lado bom é que é um pouco mais seguro. Tem mais certeza. Você sabe que vai fechar”, disse. “Agora é um momento interessante nesse mercado porque tem muitos SPACs que fizeram IPO e o prazo deles para realizar uma fusão está acabando. Estão meio desesperados para fazer uma operação.”

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O especialista lembra que uma oferta pública leva até mais de um ano para ser realizada e é cara, pois exige preparação da estrutura legal, de levantamentos contábeis, dos documentos regulatórios, da governança da empresa etc.

Segundo ele, o custo para fazer abertura de capital nos EUA é maior do que no Brasil, o que exige que a empresa tenha uma receita de pelo menos R$ 1 bilhão e esteja preparada para arcar com custos legais altos, durante e depois do processo de IPO.

“Só os custos de só manter e fazer toda a divulgação que a SEC ou a bolsa exigem requer muito mais dinheiro. É um custo muito mais alto. E os EUA ainda têm outros riscos. Há acionistas que fazem demandas nos tribunais. Tudo isso aumenta os custos”, ressaltou.

Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.