Líder da Nasdaq para a América Latina prevê volta de IPOs da região até 2024

Ivana Ferreira diz em entrevista à Bloomberg Línea que algumas empresas da região estão preparadas para abrir capital quando a janela reabrir

Desde 2018, quase 30 empresas latino-americanas de diversos setores foram listadas na Nasdaq (Foto: Michael Nagle/Bloomberg)
26 de Junho, 2023 | 05:05 AM

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Bloomberg Línea — O ambiente para IPOs (ofertas públicas iniciais) no mercado americano, o maior do mundo, continua a enfrentar obstáculos como taxas de juros elevadas e incertezas como a recessão. Mas, para uma das principais bolsas do mundo, a Nasdaq, as condições estão encaminhadas para a retomada das ofertas até o final do ano, com a expectativa de que a América Latina siga o caminho em 2024.

Estima-se que existam cerca de 20 unicórnios - startups avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão - da região que estivessem com planos de listagem antes da virada dos mercados locais e globais com o aumento das taxas de juros a partir de 2021. Nem todas vão retomar os planos no curto prazo, mas há aquelas que se prepararam do ponto de vista operacional para quando a janela de ofertas reabrir.

São nomes como Ebanx, PicPay e Rappi, por exemplo, segundo especialistas de mercado.

“Meus colegas que analisam a perspectiva global apontam que o mercado se recuperará até o final do ano e, é claro, a América Latina seguirá o mesmo caminho. Talvez vejamos a região entrar em cena em 2024, pois temos empresas se preparando há alguns meses”, disse Ivana Ferreira, chefe de listagens da América Latina na Nasdaq, em entrevista à Bloomberg Línea na sede da empresa em Nova York.

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A Creditas, fintech que é investida da americana Fidelity e atua com foco em empréstimos com garantia, por exemplo, é uma das startups mais valiosas da América Latina e candidata a um IPO em Nova York, segundo a avaliação de grandes investidores e de especialistas em mercados de capitais.

O plano da startup é alcançar o lucro antes de abrir capital. O fundador e CEO Sergio Furio disse esperar levar a empresa a um IPO se o mercado de ações reabrir em 2024 e se a empresa for lucrativa. Se as taxas de juros permanecerem estáveis ou caírem, como indicam os contratos futuros no Brasil, a fintech acredita que pode atingir o ponto de equilíbrio financeiro (breakeven) até dezembro deste ano.

Mas esse é apenas um exemplo. As startups têm motivações variadas para abrir capital, desde expansão geográfica até acesso a uma base mais ampla de investidores, de acordo com Ferreira.

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“É crucial observar que o dia da listagem é um marco significativo, mas apenas o começo de sua jornada como empresa pública. Portanto, precisamos garantir que você, como fundador, continue contando a história, escalando e informando corretamente seu conselho e investidores”, disse.

Ferreira lembrou que, em 2020 e 2021, houve muitos IPOs de empresas da América Latina nas bolsas em Nova York e que cada um deles atraiu uma grande quantidade de capital. O Nubank (NU), por exemplo, levantou US$ 2,6 bilhões em seu IPO na NYSE, enquanto a uruguaia dLocal (DLO) movimentou US$ 618 milhões; a Vtex (VTEX), por sua vez, captou US$ 361 milhões em seu IPO em 2021.

Desde 2018, quase 30 empresas latino-americanas de diversos setores, incluindo finanças, educação, agricultura e energia, foram listadas na Nasdaq.

Aproximação com startups

Nos últimos anos, especialmente nos tempos de juros baixos, um número crescente de empreendedores da América Latina foi destaque no painel eletrônico da Nasdaq na Times Square, em Nova York, celebrando eventos como ofertas, aquisições e captações. Foi um reflexo de um período de crescimento acelerado e de atração sem precedentes de capital: o volume total levantado por empresas latino-americanas de 2018 a 2022 somou US$ 46 bilhões, de acordo com dados do Sling Hub.

Para a Nasdaq, dado o fato de que a bolsa concentra empresas de tecnologia, a atração de startups latino-americanas se tornou um caminho natural ao longo dos anos.

Segundo a executiva, a Nasdaq oferece serviços para suas empresas listadas que vão da área de relações com investidores a branding corporativo, além de acesso aos eventos do mercado da própria bolsa, ao centro empreendedor em São Francisco e à inclusão em seus índices.

Ferreira disse que a bolsa visa fornecer às corporações ferramentas e recursos que aproveitam o amplo pool de liquidez e a base diversificada de investidores oferecidos pelo mercado dos EUA.

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Além disso, oferece visibilidade global e acesso a um setor de tecnologia mais maduro, motivos pelos quais, segundo ela, empresas latinas optam gastar mais para listar no exterior.

Veja a seguir outros destaques da entrevista de Ivana Ferreira:

IA não é uma bolha

Segundo Ivana Ferreira, a Nasdaq tem explorado novas funcionalidades da Inteligência Artificial, identificando padrões de comportamento e tornando-a mais inteligente.

A bolsa anunciou no começo do mês que concordou em adquirir a Adenza, fabricante de software financeiro, da empresa private equity Thoma Bravo, em um acordo de US$ 10,5 bilhões.

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“A IA não é algo novo”, ressaltou Ferreira. A diferença agora é a oportunidade para empresas que terão muitos benefícios em diferentes áreas ao incorporar essa tecnologia, segundo ela.

“Todas as pessoas em todas as empresas começarão a olhar para isso porque desejam garantir que a IA traga benefícios. Eu não acho que seja uma bolha, é uma nova tecnologia. Muitas outras virão. Abraçamos cada nova tecnologia. Como Nasdaq, temos usado a IA em nossos produtos há muitos anos.”

10 SPACs na fila

Depois de terem atraído um volume crescente de capital em 2020 e 2021, as SPACs (Special Purpose Acquisition Companies), companhias que captam recursos de investidores com o mandato de buscar empresas para uma fusão, perderam força a partir de 2022, com queda nos negócios.

Ainda assim, Ferreira disse que a Nasdaq avalia que essa modalidade de listagem veio para ficar, especialmente quando envolve “patrocinadores” conceituados. A chave está em encontrar alvos adequados para esses SPACs.

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XP, Patria e MEKA (SPAC do Mercado Livre e da Kaszek) são algumas das pelo menos dez empresas de “cheque em branco” que estão buscando ativamente alvos na América Latina.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups