Bradesco quer contratar 20 executivos para banco de investimento, diz Fabri

À Bloomberg News, Eurico Fabri, vice-presidente responsável pelo banco corporativo e de investimento, disse que vagas serão para originação e distribuição de títulos corporativos

Receita do banco com coordenação de emissão de títulos de dívida e ações mais do que dobrou no 3º tri
Por Cristiane Lucchesi - Gerson Freitas Jr - Augusta Saraiva
16 de Novembro, 2023 | 09:36 AM

Bloomberg — O Bradesco (BBDC4) planeja contratar 20 executivos para seu banco de investimento após um ano recorde em receita com esse negócio.

“Agora temos uma força de distribuição de títulos de renda fixa muito grande devido à estrutura que temos, com maior integração do banco de atacado com a gestão de patrimônio, private banking, gestão de fundos e corretagem”, disse Eurico Fabri, vice-presidente responsável pelo banco corporativo e de investimento, em entrevista à Bloomberg News no escritório da Bloomberg em Nova York.

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Em um ano fraco para bancos de investimento no mundo e no Brasil, o Bradesco ganhou participação de mercado, segundo Fabri.

O banco teve receita recorde com o negócio até setembro, de R$ 917 milhões, aumento de 32% em relação ao mesmo período de 2022. Fabri disse que espera um recorde também para o ano inteiro.

Muitas empresas brasileiras tiveram dificuldades para obter crédito no país e no exterior no primeiro semestre devido às altas taxas de juros e ao estresse no mercado com o colapso da Americanas (AMER3) e com o pedido de recuperação judicial da Light (LIGT3).

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Mas, à medida que o Banco Central começou a reduzir a taxa Selic em julho e a preocupação com uma crise de crédito mais ampla diminuiu, o mercado de capitais de dívida melhorou no país.

A emissão de títulos locais por empresas e bancos brasileiros caiu 28% neste ano, após um recorde de R$ 460 bilhões em todo o ano passado, disse Fabri.

“O mercado sofreu muito nos primeiros seis meses, mas o segundo semestre está compensando isso de certa forma”, disse Felipe Thut, responsável pelo banco de investimento do Bradesco.

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Os investidores buscam produtos isentos de Imposto de Renda, como debêntures de infraestrutura e títulos garantidos por crédito, como CRIs, que estão vinculados ao setor imobiliário, e CRAs – vinculados a empréstimos agrícolas, disse Thut, acrescentando que ele espera que essa tendência continue nos próximos meses.

Em resposta a essa demanda, o Bradesco planeja adicionar 20 executivos focados principalmente na originação e distribuição de títulos corporativos à sua equipe de banco de investimento de 100 pessoas, disse ele.

“Isso aqui é uma fábrica, fazemos mais de 150 transações de títulos por ano, e precisaremos de mais gente para isso”, disse Fabri.

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A receita do Bradesco com coordenação de emissão de títulos de dívida e ações e com assessoria financeira mais do que dobrou no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 526 milhões. Bancos podem ganhar de 0,5% a 3,5% ao liderar uma transação de dívida no mercado local.

O Bradesco está entre os bancos líderes na emissão de uma debênture de infraestrutura de R$ 7 bilhões da Eletrobras (ELET3; ELET6), que teve seu preço definido em setembro.

Em junho, participou da venda de uma debênture de infraestrutura de R$ 3,8 bilhões da Iguá Saneamento. E está entre os coordenadores na emissão de um título de R$ 1,5 bilhão lastreado em créditos de aluguel da Rede D’Or (RDOR3), lançado em agosto.

O banco também está ganhando participação no mercado de capitais de renda variável, subindo um degrau no ranking para o terceiro lugar neste ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

As vendas totais de ações de empresas brasileiras neste ano caíram 34%, para R$ 37,9 bilhões, em relação ao mesmo período do ano passado, mostram os dados. Nenhuma empresa brasileira abriu capital no ano passado nem em 2023.

Tanto Fabri quanto Thut esperam melhoria nas perspectivas para o negócio de banco de investimento em 2024, com o mercado local de títulos de dívida voltando ao nível de R$ 460 bilhões alcançado em 2022.

Até mesmo a assessoria em fusões e aquisições provavelmente melhorará, disseram eles, com o Fed parando de aumentar as taxas de juros, o que deve reduzir a volatilidade nos mercados, e o Banco Central do Brasil mantendo o processo de flexibilização monetária.

“As fusões e aquisições sofrem muito quando as taxas de juros estão altas, porque é mais caro financiar uma aquisição”, disse Thut.

Os bancos no Brasil têm enfrentado altas taxas de inadimplência de pessoas físicas de baixa renda e pequenas e médias empresas este ano. O Bradesco é um dos bancos mais expostos a esses clientes e está tentando mitigar esses riscos.

A instituição financeira reduziu sua carteira de crédito para pequenas e médias empresas, incluindo garantias, em 5,3% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 165,3 bilhões, enquanto manteve a carteira de crédito para grandes empresas estável em R$ 351,4 bilhões no mesmo período.

Para as pessoas físicas, o aumento foi de 2,3%, para R$ 360,9 bilhões.

A menor receita de crédito e o aumento das provisões para empréstimos de liquidação duvidosa contribuíram para uma queda de 12% no lucro líquido recorrente do Bradesco no terceiro trimestre, para R$ 4,62 bilhões, o que correspondeu às estimativas dos analistas.

“O pior já passou”, disse Fabri. “A gente vê o início de um ciclo claro de redução das taxas de inadimplência.”

A inflação está sob controle, o mercado de trabalho está resiliente e as taxas de juros devem continuar a ser reduzidas, o que ajuda a reduzir a inadimplência das pessoas e empresas, disse Fabri.

Por isso, ele disse estar otimista quanto às perspectivas do mercado financeiro para 2024 mesmo que o governo brasileiro não cumpra sua meta de déficit primário zero.

“O governo demonstra compromisso com a meta de déficit zero e isso é positivo para os investidores, mas a gente entende que o mercado de certa forma já tinha precificado 0,8%, tinha imaginado que teríamos algum nível de déficit”, disse ele.

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