Opinión - Bloomberg

Como estes emergentes estão saindo da sombra dos países desenvolvidos

Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e outros países permanecem neutros quando solicitados a escolher um lado em meio às tensões do Ocidente com a Rússia e a China

Área de exploração de lítio próxima ao Salar do Atacama: países do chamado Sul Global buscam manter controle sobre atividade (Foto: John Moore/Getty Images)
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Deixe o comércio correr livremente. Vincule sua moeda ao dólar. Alinhe sua política externa com a dos Estados Unidos. Os EUA e seus parceiros ocidentais definiram essas regras econômicas, uma pedra angular da ordem mundial que prevalece desde a Segunda Guerra Mundial. Agora, os países em desenvolvimento, chamados de Sul Global, estão discretamente fazendo uma revisão desses acordos.

O Sul Global vê uma chance de traçar seu próprio futuro. Nirupama Menon Rao, ex-secretária de relações exteriores da Índia, destaca a disseminação dos pagamentos digitais em seu país para países em desenvolvimento. “A aproximação da Índia com os países do Sul Global tem sido bem-sucedida”, disse a ex-embaixadora nos EUA à Bloomberg Television em junho.

Os países em desenvolvimento estão exigindo o controle de seus recursos, reordenando uma relação que data dos tempos coloniais, em parte por insistirem em terem fábricas em seus próprios países. Junto com a Namíbia e o Zimbábue, Gana está se preparando para proibir exportações de lítio – essencial para veículos elétricos. A Indonésia proibiu a exportação de minérios de níquel.

Argentina, Brasil, Chile e Indonésia estão aceitando investimentos em fábricas de baterias para veículos elétricos da China, e não dos EUA. “Não podemos continuar implorando a vocês”, disse Luhut Panjaitan, ministro de investimentos da Indonésia, em maio. “Vocês podem ficar com raiva de nós por negociarmos com outros países, mas temos que sobreviver”.

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Ao visitar a China em abril, o presidente Lula perguntou “quem decidiu que o dólar” deveria ser todo-poderoso. O Banco da Tailândia está falando de novos planos para diversificar sua cesta de moedas, utilizada para estabelecer o valor do baht, para que a moeda nacional fique menos atrelada ao dólar.

A Indonésia está fortalecendo os mercados de moeda local, à medida que seus vizinhos regionais estabelecem sistemas de pagamento digital, reduzindo a necessidade do dólar nas compras do dia a dia. A África está discutindo uma moeda comum.

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Acrescentando um componente geopolítico, os países não estão mais escolhendo lados em disputas entre o Ocidente e a Rússia ou os EUA e a China. Em fevereiro, 32 países se abstiveram de uma resolução das Nações Unidas que exigia que a Rússia se retirasse da Ucrânia.

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Líderes como o primeiro-ministro de Bangladesh, Sheikh Hasina, e o secretário de Finanças das Filipinas, Benjamin Diokno, parecem estar lendo um roteiro quando explicam sua neutralidade com variações das palavras “somos amigos de todos”.

Em junho, quando uma embarcação chinesa antagonizou um navio de guerra americano no Estreito de Taiwan, os ministros da defesa asiáticos em uma cúpula em Cingapura apenas enfatizaram a necessidade de evitar conflitos.

A África do Sul está negando a alegação de um embaixador dos EUA de que está fornecendo armas à Rússia para sua guerra contra a Ucrânia. O Vietnã tem mantido silêncio sobre a Ucrânia devido à sua antiga parceria de segurança com a Rússia, que remonta à Guerra do Vietnã. A Índia está comprando petróleo russo, desafiando as sanções lideradas pelos EUA. “Energia não tem a ver com altruísmo ou filantropia”, disse o ministro do petróleo Hardeep Singh Puri à Bloomberg TV em fevereiro.

O comportamento das grandes potências desagradou a muitos no Sul Global, como no caso do desastre com o teto da dívida e mais desordem política nos EUA, a ameaça iminente da China e o Brexit no Reino Unido. Os resultados da pesquisa do Pew Research Center mostram que as opiniões desfavoráveis sobre a China estão atingindo níveis históricos.

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Mas os EUA não conseguiram tirar proveito do declínio da popularidade do presidente chinês Xi Jinping. “Xi Jinping foi um presente de Deus para a construção de alianças dos EUA na Ásia”, diz Ashley Tellis, ex-funcionário sênior do Departamento de Estado, atualmente no Carnegie Endowment for International Peace.

Os EUA mal ofereceram uma alternativa convincente, de acordo com o ex-representante comercial dos EUA, Michael Froman. “Eles ainda não viram qual é a nossa visão para o futuro”, disse ele ao podcast Stephanomics da Bloomberg em junho. Em resposta, o Sul Global decidiu apresentar sua própria visão.

- Com a colaboração de Haslinda Amin e Claire Jiao.

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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Jamrisko cobre economia de Cingapura; Marlow, diplomacia de Washington. Ambos são repórteres sênior da Bloomberg.Michelle Jamrisko cobre economia em Cingapura e Iain Marlow escreve sobre diplomacia em Washington. Ambos são repórteres sênior da Bloomberg.

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