BTG quer testar apetite do mercado com 10 a 15 emissões de dívida, diz CFO

Renato Cohn diz que operações estão em processo de estruturação e devem chegar ao mercado neste e no próximo trimestre; mercado de IPOs segue fechado

Por

São Paulo — O BTG Pactual (BPAC11) pretende testar o apetite do investidor por títulos de dívida emitidos por companhias dentro de duas a três semanas, disse o sócio e CFO do banco, Renato Cohn.

“Estamos construindo um pipeline para o mercado de capitais. São entre 10 e 15 operações em processo de estruturação que devem vir a mercado neste e no próximo trimestre”, indicou o executivo durante teleconferência nesta segunda-feira (8) para comentar o balanço do primeiro trimestre.

Sem revelar nomes dos emissores, ele acrescentou que as operações são 100% para o mercado de dívida, pois não há ainda condições adequadas para IPOs (ofertas iniciais de ações).

“Com essas operações, vamos testar se o mercado está disposto a absorver e aceitar esses novos papéis”, afirmou Cohn.

Segundo dados divulgados nesta segunda, o BTG Pactual participou de 13 operações de dívida (DCM) de janeiro a março, totalizando US$ 918 milhões, abaixo das 32 transações que movimentaram R$ 2,8 bilhões de outubro a dezembro.

No mercado de equity (ECM), foram três operações totalizando R$ 330 milhões, valor até superior ao do quarto trimestre de 2022 para o mesmo número de transações.

Ele lembrou que o primeiro trimestre foi marcado por uma “chacoalhada” no mercado de crédito, com a recuperação judicial da Americanas (AMER3) e a renegociação de dívidas da Light (LIGT3).

O cenário macroeconômico também foi desfavorável, segundo ele, com as incertezas sobre o desenho do arcabouço fiscal pelo governo federal, sobre o futuro das metas de inflação e a crise dos bancos regionais nos Estados Unidos a partir do colapso do SVB, banco que financiava startups no Vale do Silício, além de turbulências na Europa que resultaram na venda do Credit Suisse para o rival UBS.

“Não faltaram incertezas e confusão no primeiro trimestre”, avaliou o CFO.

Segundo Cohn, a visibilidade do mercado sobre a economia melhorou neste segundo trimestre. “O cenário está ficando um pouco menos incerto. Deu uma melhorada”, afirmou.

Ele disse que o mercado de emissão de títulos de dívida desacelerou bastante neste ano, com o investidor mais cauteloso para tomar risco nesses papéis, evitando assumir novas posições em sua carteira. “A indústria de assets sofreu muitos resgates de renda fixa”, reconheceu Cohn.

Wealth management

O CFO do BTG também disse que o segmento de wealth management (gestão de patrimônio) está mais competitivo, com os grandes bancos defendendo mais suas contas enquanto os clientes se mostram menos dispostos a mudar de instituição. Ele não revelou o número de clientes do segmento do BTG. Disse apenas que o volume de ativos de wealth atingiu R$ 568 bilhões, com alta de 24% em 12 meses.

Instituições financeiras como Santander Brasil (SANB4) e Bradesco (BBDC4), que enfrentaram aumentos significativos nos indicadores de inadimplência, têm reforçado a estratégia e o discurso de maior foco em clientes de maior renda, a fim de melhorar seus índices de atrasos.

A filial brasileira do banco espanhol, que disse ter cerca de 834 mil clientes de alta renda (segmento abaixo do wealth management e talvez até do private), divulgou no mês passado a ambição de fechar o ano com 1 milhão desses correntistas. Em fevereiro, o Bradesco já havia manifestado intenção de dar mais atenção ao segmento private. O Santander estimou em cerca de 5 milhões de clientes o mercado de alta renda no Brasil, que tem o Itaú Unibanco (ITUB4) e XP (XP) como outros concorrentes.

Americanas

Cohn também falou da expectativa de conclusão de um acordo entre bancos credores e a Americanas. Itaú, Santander e Bradesco já apontaram, nesta temporada de balanços, que as negociações estão em andamento, com possibilidade de um entendimento até o fim deste semestre.

“[A negociação] está em processo avançado de discussões, está bem encaminhado”, disse o CFO.

A varejista deve R$ 3,5 bilhões ao BTG Pactual, que travou uma batalha jurídica com o grupo desde a revelação do rombo contábil de ordem de R$ 20 bilhões, mas acabou aceitando a trégua jurídica de 30 dias, condição da Americanas para negociar um acordo.

Leia também

Atrasos de empresas devem se normalizar nos próximos trimestres, diz Maluhy