Bradesco terá foco maior em alta renda ante queda de rentabilidade, diz CEO

Octavio de Lazari diz que inadimplência de baixa renda e pequenas empresas deve pressionar o resultado no 1º semestre; provisão integral de Americanas foi para deixar o caso para trás

Octavio de Lazari Junior, CEO do Bradesco, diz que o banco está mais seletivo no segmento de baixa renda e pequenas empresas diante do aumento da inadimplência
10 de Fevereiro, 2023 | 01:06 PM

São Paulo — O Bradesco (BBDC4) pretende focar mais na clientela de alta renda neste ano. A estratégia faz parte dos esforços para estancar a piora da rentabilidade com o aumento da inadimplência nos públicos de baixa renda e pequenas e médias empresas devido ao aperto monetário com a taxa Selic a 13,75% ao ano.

O CEO do banco, Octavio de Lazari Junior, disse nesta sexta-feira (10) em teleconferência que a inadimplência só deve se estabilizar no terceiro trimestre de 2023.

As ações do Bradesco recuavam cerca de 7,5% perto das 13h, entre as maiores quedas do Ibovespa.

“As novas safras de crédito, iniciadas em agosto do ano passado, já apontam para uma desaceleração maior dos atrasos. Com a Selic no atual patamar, há um maior cuidado em tomar empréstimos”, afirmou o executivo, que ainda espera aumento da inadimplência neste semestre.

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No ano passado, a exemplo de outras instituições financeiras, o banco ajustou seus modelos de crédito, reduzindo emissões de produtos de maior risco de calote como cartões de crédito e empréstimos pessoais, com maior rigor na avaliação do rating dos clientes, principalmente aqueles capturados no chamado “mar aberto” (sem vínculo anterior com o banco).

Com indicadores de atrasos em curva ascendente desde 2021, o Bradesco passou a dedicar mais atenção ao público de maior renda, que é considerado mais resiliente e apresenta menores índices de inadimplência.

“Em 2023, esperamos consolidar nossa vertical de alta renda, que terá um foco maior. Além disso, vamos continuar otimizando a rede de agências e o controle de custos, principalmente com a ajuda de canais digitais”, afirmou Lazari Junior.

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A área de alta renda do Bradesco, incluindo o segmento private e Prime, a corretora Ágora e a distribuição de investimentos, está sendo comandada por Guilherme Leal após a saída de Leandro Miranda em janeiro.

Nesse segmento, o Bradesco enfrenta a forte concorrência de grandes bancos, como o Itaú Unibanco (ITUB4) e o BTG Pactual (BPAC11), além de players digitais, como o C6 Bank.

As operações fora do país (offshore) também recebem maior atenção desde o ano passado, com ações como a aquisição da financeira Ictineo no México, anunciada em agosto.

Nos Estados Unidos, o banco com sede em Osasco também tem reforçado as operaçoes do BAC na Flórida, que foi adquirido em 2019 e é voltado para atender principalmente os clientes brasileiros que vivem nas principais cidades do estado americado, como Miami e Orlando.

“Queremos entregar uma experiência completa para nossos clientes onshore e offshore, buscando trazer melhores resultados, disse Lazari Junior.

O CEO disse que ainda aguarda as aprovações regulatórias para a compra de 51% da BV DTVM, distribuidora do banco BV (ex-Banco Votorantim), uma transação anunciada em agosto do ano passado e que mira o segmento de alta renda com a oferta de produtos financeiros alternativos.

Americanas

Após contabilizar em seu balanço uma despesa com provisão integral de R$ 4,9 bilhões por sua exposição como credor da Americanas (AMER3), que derrubou o lucro do banco para R$ 1,585 bilhão no quarto trimestre, o CEO do Bradesco buscou minimizar o impacto do “caso subsequente”.

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“Foi um caso pontual, uma fraude”, classificou o CEO do Bradesco, repetindo a avaliação feita pelo CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, no começo da semana.

Lazri justificou a provisão de 100% citando a incerteza sobre o que acontecerá com a varejista, que anunciou um rombo de cerca de R$ 20 bilhões no dia 11 de janeiro e entrou em RJ (Recuperação Judicial) no dia 19. O Bradesco é o banco brasileiro com a maior dívida a receber.

“Revisamos nossos processos e olhamos outras operações de risco sacado [antecipação de recebíveis, origem dos problemas da Americanas]. Nossa carteira é totalmente sadia”, afirmou o executivo, que descartou uma mudança generalizada de precificação para essa linha de negócio com o maior risco de crédito, algo que será avaliado caso a caso.

Ele disse que a decisão de provisionar integralmente a dívida a receber com o grupo varejista foi correta e coerente. “Foi melhor fazer essa provisão integral para deixar o assunto no passado”.

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O Itaú também fez uma provisão integral. Apenas o Santander (SANB11), entre os três grandes bancos incumbentes que divulgaram já o balanço do quarto trimestre, optou pelo mínimo de 30%, evitando um impacto maior em seu resultado.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.