Ex-CEO da Mastercard vai comandar o Banco Mundial e adotar foco em ESG

Ajay Banga foi escolhido pelo presidente Joe Biden em fevereiro; executivo acredita que pobreza e meio ambiente são questões interligadas

Mudanças propostas na forma como o banco opera aumentariam os empréstimos em US$ 50 bilhões na próxima década
Por Eric Martin
07 de Maio, 2023 | 10:25 AM

Bloomberg — O Banco Mundial ratificou a nomeação de Ajay Banga como seu próximo chefe, dando ao governo Joe Biden a chance de evoluir a instituição financeira para um foco maior nas mudanças climáticas.

O ex-CEO da Mastercard foi escolhido pelo presidente dos Estados Unidos em fevereiro, depois que o então presidente da companhia David Malpass anunciou planos de renunciar.

A eleição de Banga foi em grande parte uma formalidade porque ele não teve oposição. O cargo máximo da instituição sempre coube a um candidato norte-americano. Seu mandato de cinco anos começa em 2 de junho, informou o banco em um comunicado na quarta-feira (3).

Apesar de Banga ter construído uma longa carreira no setor privado, principalmente em finanças e bancos, ele destacou a perspectiva que poderia trazer para a educação na Índia, bem como seu compromisso com a ciência do clima e sua crença de que a pobreza e o meio ambiente são questões que estão interligadas.

PUBLICIDADE

O Banco Mundial abriu o período de nomeação no final de fevereiro e disse na época que esperava que o processo fosse encerrado no início de maio.

Banga, de 63 anos, fez em abril uma turnê global pelos países credores e devedores para obter apoio para sua indicação, com paradas na China, Quênia e Costa do Marfim, bem como no Reino Unido, Bélgica, Panamá e seu país-natal, a Índia.

Ele está assumindo em um momento crucial para o Banco Mundial, que distribui cerca de US$ 100 bilhões anualmente. Os Estados Unidos estão entre as nações que estão promovendo reformas nos bancos multilaterais de desenvolvimento para liberar mais financiamento climático para o mundo em desenvolvimento.

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse que o maior e mais antigo banco de desenvolvimento do mundo deve evoluir de seu foco tradicional em empréstimos específicos para aqueles a países visando enfrentar desafios globais como o combate às mudanças climáticas e ampliar seu balanço patrimonial de forma mais agressiva.

Classificação de risco

Embora a expectativa de que tal movimento de financiamento desbloqueie bilhões de dólares em fundos adicionais, os EUA pediram cuidado para proteger a classificação de crédito AAA do credor, que permite tomar empréstimos e emprestar a preços baixos aos países mais pobres.

Banga disse no início deste mês que a classificação de risco precisa ser protegida e pediu capital privado para ajudar a expandir a eficácia do banco.

No comunicado de quarta-feira, o conselho do credor disse que espera trabalhar com Banga em seu processo de evolução.

PUBLICIDADE

O novo líder do Banco Mundial “entende que os desafios que enfrentamos – desde o combate às mudanças climáticas, pandemias e fragilidade até a eliminação da pobreza extrema e promoção da prosperidade compartilhada – estão profundamente interligados”, disse Yellen em um comunicado.

As mudanças propostas na forma como o banco opera aumentariam os empréstimos em US$ 50 bilhões na próxima década, aprimorariam sua missão e alinhariam suas operações com as metas dos EUA, disse Biden em um comunicado após a notícia.

“Nossas metas ambiciosas não serão alcançadas da noite para o dia e continuamos comprometidos com a adoção gradual de reformas ao longo do ano para construir a visão que estabelecemos”, disse Biden. Banga “desempenhará um papel crítico nesse trabalho, incluindo seu desenvolvimento e implementação nos próximos anos”.

Malpass e a chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, também têm liderado um esforço para conseguir que a China, o maior credor das economias emergentes, participe da reestruturação da dívida de nações em dificuldades, ao lado de credores ocidentais tradicionais do Clube de Paris, como os EUA.

A China, nas reuniões das instituições de Bretton Woods do mês passado, suavizou sua insistência de que os credores multilaterais como o Banco Mundial reduzam suas dívidas, ou perdas, com todos os outros credores. Isso ocorreu em meio a uma aparente concessão do banco para aumentar empréstimos com juros ultrabaixos e doações a países com dívidas difíceis.

A escolha de Banga por Biden, que em sua carreira no setor privado tem defendido transações sem dinheiro e encontrado maneiras de atender aos sem-banco, foi recebida com críticas entre os defensores por estar muito associada a interesses corporativos.

Questões Climáticas

Desde sua nomeação, Banga declarou-se um “grande crente” nas evidências científicas de que a queima de combustíveis fósseis contribui para a mudança climática, buscando responder às críticas sobre o compromisso do banco com a questão.

Seus comentários também contrastam com uma falha de relações-públicas de Malpass no ano passado, quando ele foi criticado por parecer se esquivar de perguntas sobre se ele acreditava que a mudança climática é impulsionada pelas emissões de gases de efeito estufa produzidas pelo homem.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também:

Crise bancária mal começou e Fomc deveria fazer pausa no aperto, diz ex-Fed

Queremos disputar o cliente no nosso campo de jogo, diz CEO da Revolut no Brasil

Recuperação da economia da China já dá sinais de cansaço, mas não chegou ao fim